HOJE NO
" JORNAL DE NEGÓCIOS"
Tribunal de Contas avisa que viabilidade da Carris pode estar em risco
Relatório de auditoria à empresa pública recomenda
que Governo promova, juntamente com o IGCP uma solução que resolva a
situação de endividamento da Carris.
“Os custos financeiros suportados pela
Carris ameaçam a sustentabilidade financeira da empresa”, conclui o
relatório de auditoria do Tribunal de Contas (TdC) ao desempenho da
empresa de transporte público de Lisboa nos últimos anos, divulgado esta
quinta-feira.
O documento chama a atenção para o agravamento dos custos financeiros
da empresa, que se reflectiu no valor contabilizado em 2011, de 51
milhões de euros. “Isto traduziu-se num agravamento significativo face
aos anos anteriores, quando o seu montante atingiu 30 e 32 milhões de
euros para 2010 e 2009”, sublinha o TdC, para quem “a dificuldade de
refinanciar a dívida de longo prazo vencida, assim como as perdas
avultadas nos contratos de swap, estiveram na base deste aumento dos
gastos de financiamento em 68,8%”.
Para a entidade presidida por Guilherme d’ Oliveira Martins, mesmo
com uma situação positiva nos resultados operacionais, “o enquadramento
financeiro irá continuar a agravar-se se entretanto não forem tomadas
medidas de saneamento financeiro”. Os custos financeiros suportados pela
Carris representaram, em 2011, 63% das vendas e serviços prestados pela
empresa.
Por essa razão, o TdC avisa que “sem uma solução para a situação de
endividamento em que a empresa se encontra, não é certo que seja
possível a actividade da empresa ter viabilidade no futuro” até porque
“a indemnização compensatória dada pelo Estado tem tendência a diminuir,
como aconteceu em 2012, ano em que decresceu 63%.
Na “auditoria ao desempenho de empresas públicas – Carris”, o
tribunal conclui, relativamente ao serviço prestado, que o número de
passageiros transportados pela Carris aumentou ligeiramente no período
2006/2010, tendo em 2011 ocorrido uma inversão, com os “passageiros com
título pago” diminuído 5,9%.Desta forma, sublinha que a taxa de ocupação
dos veículos cresceu em 2011, atingindo 21,3%, “o que indicia um melhor
aproveitamento dos veículos disponíveis”.
Quanto ao contrato de gestão, o relatório aponta que os objectivos
propostos no contrato de gestão que vigou no triénio 2009/2011 não
contemplaram nem a melhoria da operação da empresa nem a grave situação
financeira e de endividamento em que a empresa se encontrava na altura.
No entanto, acrescenta, contemplava a possibilidade de os
administradores obterem remuneração variável.
“Nem sempre a posição do Estado, como accionista das empresas
públicas, tem sido coerente. Assim, os objectivos assinados em 2009 no
contrato de gestão, para os três anos seguintes, foram ultrapassados por
outros que foram impostos de forma avulsa, sem que o contrato de gestão
fosse revisto, tornando-os por vezes até, conflituantes”, diz o
tribunal.
Em seu entender, os objectivos estabelecidos no contrato de gestão
“têm vindo a ser globalmente cumpridos”, tendo no ano de 2011 sido
“largamente superados, atingindo uma taxa de concretização de 129,23%”.
No capítulo dedicado às medidas de controlo e racionalização de
custos, a auditoria conclui que na última década, a empresa tem
atravessado um período de forte redução nas despesas salariais, passando
de um gasto de 124,5 milhões de euros, em 2002, para 83,5 milhões em
2010.
Diz ainda o TdC que “na sequência das restrições impostas ao
endividamento, a Carris tem vindo a controlar o seu crescimento, que se
cifrou em 6,94% e 2,99% em 2010 e 2011, cumprindo deste modo os
objectivos preconizados no PEC 2010-2013”. No entanto, refere, “desta
situação decorreu a estagnação do plano de investimentos da empresa,
nomeadamente na sua frota de autocarros, e terá estado na origem do
incumprimento dos objectivos do contrato de gestão referentes ao ‘prazo
médio de pagamentos’ e ‘plano de investimentos’.
Por outro lado, refere o relatório, entre 2003 e 2010, os montantes
atribuídos pelo Estado em indemnizações compensatórias aumentaram 36%,
de 39 para 51 milhões de euros. Em 2011, as compensações financeiras
atribuídas pelo Estado ascenderam a 53 milhões de euros, enquanto em
2009 e 2010 foram no valor de 51 milhões de euros.
O TdC critica que o valor a atribuir sob a forma de indemnizações
compensatórias “continua a não se encontrar devidamente contratualizado,
sendo atribuído de acordo com uma negociação entre as várias tutelas e
as respectivas empresas em cada ano, carecendo de um processo
transparente e devidamente justificado, o que provoca incerteza e cria a
impossibilidade de um efectivo planeamento financeiro a longo prazo por
parte das empresas”.
A entidade liderada por Oliveira Martins recomenda ao Governo, em
particular aos ministros das Finanças e responsável pelo sector dos
transportes, que “contratualize com os administradores da empresa
objectivos de gestão ambiciosos, que reflictam objectivos de melhoria da
operação da empresa, mas realistas, atento à grave situação financeira e
económica do país”. Por essa razão, considera que “não pode deixar de
estar contemplada a necessidade de contrariar a grave situação de
endividamento em que a empresa se encontra”
Recomenda ainda que o Executivo promova, juntamente com o IGCP uma
solução que resolva a situação de endividamento da empresa e que
prepare, também com esta entidade, “uma estratégia de negociação com as
entidades financeiras envolvidas que permita resolver, ainda que
parcialmente, os elevados encargos incorridos com os contratos de swap
negociados pela empresa”.
Um processo que está em curso e que já resultou na liquidação de
dezenas de contratos nas empresas pública e que, no caso da empresa de
transporte público de Lisboa, culminou na demissão do seu presidente.
À administração da Carris, o TdC reclama que garanta a diminuição
mais acelerada do prazo médio de pagamentos, que consolide as reduções
de gastos com o pessoal efectuadas nos anos recentes e que em futuras
revisões dos Acordos de Empresa “pondere a alteração dos complementos
remuneratórios pagos aos trabalhadores da empresa, focalizando-os
naqueles que contribuam para um aumento da produtividade e na qualidade
do desempenho”.
* E não há apuramento de responsabilidades para este caos, ou a gente importante envolvida é muita??
.
Sem comentários:
Enviar um comentário