Subestimados
Instalou-se, na sociedade portuguesa, um clima
de divisão, criando erosão no âmago fundacional que mantém a
solidariedade entre gerações. Colocaram-se jovens contra idosos,
trabalhadores do sector privado contra função pública e, há mais tempo,
activos contra desempregados.
Concentramo-nos nestes últimos: ainda o
actual primeiro-ministro estava em campanha eleitoral, já mostrava o
manto ideológico que lhes estendia. Parecia-lhe razoável que os
desempregados contribuíssem com trabalho voluntário em troca do subsídio
de desemprego de que eram beneficiários.
Materializou a sua
mundividência:
I) estar desempregado é fruto de incompetência própria, pela
incapacidade em se constituir em valor acrescentado para o mercado de
trabalho;
II) beneficiários de subsídio de desemprego são sugadouros imorais de
dinheiros públicos, porque são pagos sem devolverem actividade
produtiva.
Do ponto de vista psicológico, trata-se de uma dupla penalização de
quem gere os destinos do País aos seus concidadãos: o desempregado é-o
por culpa própria, subtraindo-o de valor pessoal. As afirmações e as
medidas que se seguiram, já enquanto PM, não constituíram, por isso,
qualquer surpresa. Desde as reduções ao tempo/montantes dos subsídios, à
mais recente medida de fazer incidir descontos sobre estes últimos.
Tudo muito consentâneo com a sua apregoada "ética na austeridade".
Não houve então qualquer surpresa nas orientações dadas pelo IEFP aos Centros de Emprego.
Trata-se de só mais uma divisão criada, desta feita desempregados de
menor duração (beneficiários de subsídio) contra os de longa duração
(sem qualquer subsídio - são já mais de metade do total de
desempregados). É que desempregados a frequentar formação deixam de
contar para a taxa de desemprego. Com esta medida, o Governo tenta uma
panaceia para subestimar o crescimento sem fim à vista do desemprego,
podendo artificialmente afirmar que há menos novos desempregados.
Subestimados: na taxa de desemprego e no tratamento a que estão
sujeitos.
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
25/06/13
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