HOJE NO
"PÚBLICO"
Óscar mundial do ambiente
distingue seis "heróis" locais
Goldman Environmental Prize galardoa lutas em prol da reciclagem, qualidade do ar, da natureza e contra práticas agressivas de exploração de recursos.
Azzam está a conseguir recuperar zonas húmidas no Iraque. Jonathan
luta contra a exploração de gás de xisto na África do Sul. Aleta ocupou
minas para evitar a desflorestação na Indonésia. Kimberly ajudou a
encerrar duas centrais térmicas nos Estados Unidos. E Rossano e Nohra
estão a fazer trabalhos notáveis na área do lixo em Itália e na
Colômbia.
Todos receberam,
nesta segunda-feira, o Goldman Environmental Prize, considerado o
“Óscar" do ambiente. O prémio, criado em 1989, é atribuído a pessoas
cujo trabalho local resultou em benefícios concretos para a preservação
do ambiente. São muitas vezes “heróis” desconhecidos de causas
ambientais, como a organização do prémio os chama.
No valor
individual de 150.000 dólares (115.000 euros), o prémio é atribuído
todos os anos a seis pessoas, de seis regiões do mundo.
ERCOLINI |
Para a
Europa, o vencedor deste ano é Rossano Ercolini, um professor do ensino
básico que começou por lutar contra a instalação de uma incineradora de
lixo perto da sua escola, na região da Toscânia, e acabou por se tornar
líder do movimento Zero Waste, em prol da reciclagem.
A meta de “lixo zero” foi adoptada por 117 concelhos de Itália e resultou no encerramento de 40 incineradores no país.
Também
na área dos resíduos, a colombiana Nohra Padilla foi premiada pelo seu
trabalho junto dos apanhadores informais de produtos recicláveis. Desde a
infância que Norha passava parte do dia a recolher desperdícios
aproveitáveis em lixeiras – como parte do sustento doméstico, numa
família com 12 filhos.
NOHRA |
Nohra Padilla é uma das principais
responsáveis pela reordenação desta actividade numa organização formal,
reconhecida legalmente, num país onde a reciclagem ainda está a dar os
primeiros passos. Em 2011, conseguiu uma vitória importante, com uma
decisão judicial a obrigar as empresas de gestão de resíduos a dar
oportunidades de trabalho para os recicladores informais. O exemplo foi
seguido noutros países, como no Brasil, onde há uma determinação
governamental neste sentido.
ALETA |
O trabalho de Aleta Baun pela
protecção das florestas na porção indonésia de Timor também foi
galardoado com um prémio Goldman. O inimigo de “Mama Aleta”, como Baun é
conhecida, são explorações mineiras que, desde os anos 1980, vêm
destruindo áreas florestais nas montanhas onde nascem os principais rios
de Timor.
Aleta foi alvo de uma tentativa de assassinato, teve de
se esconder na floresta e viu outros moradores locais serem presos e
agredidos. Não desistiu e continuou a sua batalha, promovendo a ocupação
pacífica de áreas mineiras, onde grupos de mulheres passavam o dia
sentadas, a tecelar. Em 2010, a actividade das minas na região foi
suspensa.
DEAL |
A exploração de recursos geológicos também é o que está
na mira de Jonathan Deal, desde que a Shell e outras companhias
mostraram, em 2011, interesse em explorar o gás de xisto na região de
Karoo, na África do Sul. A técnica a utilizar é a fracturação hidráulica
(fracking, em inglês), em que químicos e água sob pressão são injectados no subsolo, para quebrar a rocha e libertar o gás.
Deal
informou-se, organizou as comunidades locais, fez pressão junto do
Governo e das empresas e conseguiu com que o Governo sul-africano
decretasse uma moratória à exploração de gás de xisto, em 2011. A
moratória foi entretanto levantada, mas o Governo encomendou novos
estudos sobre os impactos da fracturação hidráulica.
O iraquiano
Azzam Alwash e a norte-americana Kimberly Wasserman são os outros dois
galardoados. Alwash costumava visitar as zonas húmidas entre o Tigre e o
Eufrates, no Iraque – a fonte lendária dos Jardins do Éden. Saddam
Hussein, no entanto, drenou e contaminou parte dos pântanos, como
castigo contra rebeldes que ali se refugiaram, depois da invasão do
Kuwait.
KIMBERLY |
Nessa altura, Alwash fugiu para os Estados Unidos. Mas
regressou ao Iraque em 2003, onde lançou uma campanha pela recuperação
das zonas húmidas, com resultados concretos.
Já Kimberly Wasserman
foi reconhecida pelo seu trabalho em prol do encerramento de duas das
mais poluentes centrais termoeléctricas dos Estados Unidos, na zona de
Chicago. Wasserman acordou para a gravidade do problema quando o seu
filho, com três meses, começou a ter crises de asma.
Entre 1998 e agora, não parou mais de lutar contra a poluição. As centrais foram encerradas em 2012.
* Estes combatentes é que devem ser falados, homenageados e apresentados como exemplo, não aos políticos há muito divorciados dos povos e casados com o dinheiro.
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