O tablet
Surface Pro da Microsoft muda as regras do jogo
O facto de o podermos utilizar como o computador principal é a primeira indicação de que a Microsoft tenciona que este tablet se bata directamente com verdadeiros computadores.
Há alguns meses, a Microsoft provocou muitas reacções de surpresa quando pôs à venda o seu primeiro computador: o tablet Surface. Pelos mesmos 500 dólares de que necessitamos para comprar um iPad, oferece melhor hardware e mais entradas. Só tem uma desvantagem: não permite correr qualquer software de PC.
Ou, mais precisamente, não permite correr nenhum dos quatro milhões de
programas para Windows normais. Em vez disso, exige um novo tipo de
aplicação, uma espécie de aplicação mais limitada, que ocupa todo o
ecrã, do género do iPad, e que está apenas disponível através da loja online da Microsoft. E não existem muitas dessas aplicações, apesar de a situação estar, lentamente, a melhorar.
Mas o mundo ficou a salivar, isso sim, com a intenção, anunciada pela
Microsoft, de lançar uma segunda versão do Surface – o Pro – que seria,
de facto, um verdadeiro PC, correndo o verdadeiro Windows e verdadeiras
aplicações Windows. Conseguem imaginar quão espectacular isso seria? Ter
um tablet que também fosse um PC completo?
Está quase lá. Na feira Consumer Electronics Show [8 a 11 de Janeiro], em Las Vegas, a Microsoft não tinha um stand tradicional
e não teve direito, como é habitual, a preencher a conferência de
abertura (em vez disso, foi a Qualcomm que ficou com esse horário, o que
foi embaraçoso e hilariante). Mas representantes da Microsoft estavam
lá, num quarto de hotel longe da feira, concedendo a alguns jornalistas
um primeiro olhar ao Surface Pro.
É mais grosso que o tablet Surface original, com pouco mais de
1,3 centímetros de altura. É mais pesado: 900 gramas, em vez dos
anteriores 680 gramas. E é também mais caro: 900 dólares com 64
gigabytes de memória, 1000 dólares com 128 gigabytes.
Mas estamos a olhar para um tipo de máquina completamente novo, com novas possibilidades. É um tablet com
ecrã táctil, com as dimensões semelhantes às do iPad, e que corre
programas de computador: Photoshop, Quicken, o Microsoft Office
completo, iTunes (e ainda as lojas de filmes de música online da Apple).
Software de desktop num tablet com 1,3 centímetros de altura. Isso é uma novidade.
A Microsoft envidou todos os esforços para se certificar de que não ficaríamos desapontados com nenhuma das funções, tablet ou
PC. O ecrã é deslumbrante: bem iluminado, limpo e fácil de utilizar.
Tem 1080x1920 pixels, também conhecida como alta definição 1080p. Mas
quando o ligamos a um aparelho de televisão ou a um monitor de
computador, consegue resultados ainda melhores – 2550x1440 pixels.
O facto de o podermos utilizar em casa como o nosso computador
principal é apenas a primeira indicação de que a Microsoft tenciona que
este tablet se bata directamente com verdadeiros computadores.
Outra é a sua velocidade: é muito rápido. Aplicações pesadas como as do
Office demoram pouco mais de um segundo a abrir. A passagem de um
programa para outro é rápida, e os programas correm velozmente. Os
apreciadores de jogos vão ficar bem servidos, apesar de, é claro, sem
uma placa gráfica própria, a frequência de imagens por segundo não bater
nenhum recorde.
O Pro vem com uma caneta plástica, para podermos escrever, desenhar e
pintar no ecrã. A ideia apresenta uma grande falha: podemos guardar a
caneta provisoriamente, colando-a magneticamente à ficha de alimentação
eléctrica do tablet, mas não existe gaveta onde se a possa colocar quando se viaja. Assim, é muito provável que se perca.
Mas a sensação de desenhar é fantástica. A caneta é sensível à pressão,
ou seja, com determinadas aplicações podemos criar linhas mais escuras
pressionando com mais força, exactamente como os designers gráficos fazem nos tablets Wacon. E podemos pousar a mão no ecrã: apenas a caneta deixa marcas.
Existe apenas uma entrada UBS no aparelho – felizmente, é USB 3.0 (o
que significa que é rápida). Mas a Microsoft acrescentou uma segunda
entrada na ligação de energia eléctrica. Assim, sempre que, em casa ou
no local de trabalho, estivermos com o aparelho ligado, temos duas
entradas USB. Podemos carregar o telemóvel enquanto trabalhamos, por
exemplo, ligando-o à entrada de corrente. O que é algo mesmo
inteligente.
(O complicado jack magnético para ligação do fio para electricidade, tão frustrante no tablet Surface, foi melhorado no Pro. Um íman mais forte faz com que ele se encaixe mais facilmente.)
O que realmente eleva o conceito de tablet/PC a novas alturas
é, claro, a famosa capa do teclado Surface. Encaixa-se e desencaixa-se
rápida e facilmente a uma barra magnética situada na parte inferior do tablet,
tornando assim instantânea a conversão do Pro de tablet para PC. Isso é
uma característica muito, muito importante. Podemos também colocá-lo
para a parte de trás quando estamos em modo de tablet; o teclado no ecrã aparece automaticamente assim que é necessário.
Na realidade, existem duas versões da capa do teclado. Existe uma chamada touch cover,
capa de toque, que não é mais grossa do que uma folha de cartão, mas as
teclas não se mexem. Podemos comprar esta capa, numa série de cores,
juntamente com o Surface por 100 dólares, ou, mais tarde, por 120
dólares; a Microsoft reconhece que não se consegue escrever de forma tão
rápida como num teclado verdadeiro.
Existe também a type cover (capa de escrita), por 130 dólares,
com teclas verdadeiras que efectivamente se mexem para cima e para
baixo. Tem cerca de seis milímetros de espessura, mas pode-se escrever
nela normalmente.
O Surface Pro corre o Windows 8. E, como vocês bem sabem, eu considero
que o Windows 8 é uma mistura mal conseguida de dois sistemas operativos
diferentes. Temos o habitual desktop Windows, e depois temos
uma nova camada sobreposta, a que eu chamo TileWorld [mundo dos
mosaicos] – uma terra colorida de mosaicos tácteis grandes e vistosos.
Dado que temos dois sistemas operativos quase completamente dissociados, acabamos com dois browsers para
a Internet, dois painéis de controlo, dois sistemas de busca, duas
formas de fazer clique direito. O nosso próprio computador tem agora
duas personalidades.
No normal tablet Surface de 500 dólares, o Windows 8 não faz qualquer sentido. (É uma versão denominada Windows RT.) O desktop Windows
aparece lá como um apêndice encarquilhado; na realidade, nem sequer
consegue correr programas Windows (excepto uma versão modificada do
Microsoft Office). Então, por que razão lá está?
Mas no Pro, a opção pelo sistema operativo dual é mais fácil de defender. Temos o TileWorld para usar no modo iPad, e o desktop Windows para utilizar quando estamos no modo PC.
Assim sendo: será que devemos comprar um Surface Pro em vez de um portátil ultrafino? Será que vai aniquilar o MacBook Air?
A questão não é tão simples como possa parecer. A capa do teclado exige
uma superfície lisa e dura – pelo que não podemos utilizar este
“portátil” como portátil ao nosso colo. As duas formas correctas de o
usar são: a) nas nossas mãos ou no nosso colo como um tablet táctil, ou b) como um portátil numa mesa ou secretária.
Também não é muito flexível quando é usado como portátil; não se pode
ajustar o ângulo do ecrã. A metade inferior da parte traseira é um
painel articulado, um suporte muito fino, que se mantém fechado
magneticamente até o puxarmos para fora com uma unha. Mantém o tablet direito e bem fixo – mas apenas naquele determinado ângulo.
Mas mesmo que o Surface Pro não seja exactamente um exterminador de
portáteis, mesmo assim vem mudar as regras do jogo. É uma máquina como
ninguém construiu antes, e deverá colocar muitas imaginações a
fervilhar.
Mas lembrem-se de que estas são apenas primeiras impressões, baseadas
em uma hora de utilização supervisionada num quarto de hotel da
Microsoft. Por exemplo, ninguém tem a mínima ideia de qual será a
autonomia e tempo de vida da bateria. (Provavelmente, menor do que a de
um verdadeiro portátil, dado que há tão pouco espaço no interior para
uma bateria robusta.) Em qualquer caso, escreverei uma avaliação
completa quando tiver o meu próprio Surface Pro para testar.
Mas, por agora, parece que o Surface Pro é, conceptualmente e na
prática, um imenso sucesso. Para milhares de pessoas, será um
companheiro móvel ideal. E terminará com a questão que nos assalta
diariamente: “Hum, levo o meu portátil ou o meu iPad?”
IN "PÚBLICO"
04/02/13
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