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HOJE NO
"RECORD"
Vicente Moura:
«Poder político tem sido
altamente incompetente»
O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), Vicente Moura,
acusa o poder político de ter sido "altamente incompetente" nos últimos
30 anos e diz que, por essa razão, Portugal "não é um país
desportivamente evoluído".
"Portugal (...) não é um país
desportivamente evoluído. Não temos sistema desportivo integrado, digno
desse nome, não detetamos talentos, que é algo quase impensável em
termos europeus e mundiais, temos muito poucos atletas, não temos
desporto escolar", resumiu Vicente Moura em entrevista à agência Lusa.
Presidente
do COP desde 1997 e a terminar o quarto e último mandato, Vicente Moura
entende que o país regrediu nos últimos quatro anos, porque os
sucessivos governos "não fizeram o que têm de fazer", e teme que piore a
caminho dos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016.
"O poder político, em termos desportivos, tem sido altamente incompetente", acusou.
O
dirigente de 75 anos, que passou uma primeira vez pela presidência do
COP entre 1990 e 1992, reconhece que, depois do 25 de abril de 1974, o
panorama melhorou com a crescente profissionalização de atletas e de
treinadores, mas lamenta que o salto qualitativo seja "focado em dois,
três, quatro, cinco atletas".
"Temos vivido de exceções.
Claro que tudo isto não é absoluto, há federações que trabalham bem. Mas
estamos à mercê de funcionamento ocasional", sublinhou.
Vicente
Moura reconheceu que teve alguma ilusão de mudança quando, em 2005, o
COP ficou com a gestão dos projetos olímpicos e quando, em 2007, em
vésperas dos Jogos de Pequim, Portugal já tinha obtido em 10 modalidades
diferentes 70 medalhas europeias ou mundiais.
"Isso deu-nos a
sensação de que havia um aumento generalizado da prática desportiva e
levou-nos a Pequim com 12 atletas hipoteticamente medalhados. (...)
Rapidamente se verificou que para Londres essa ajuda do Comité Olímpico
não era suficiente. Meses antes, eu sabia bem que as possibilidades de
medalhas eram escassíssimas", disse.
Agora, sente que não
basta que o COP seja mais eficaz e rigoroso no trabalho de gestão para
Rio2016, defendendo "uma mudança de mentalidade", nomeadamente que o
povo português goste, compreenda e pratique desporto.
"Tudo
começa na escola, sem exceção. Em casa e na escola. Se tivermos apenas
12 por cento da população escolar a praticar desporto, e nalguns casos
em condições inenarráveis, (...) vamos continuar à espera que apareça um
atleta fantástico, um Cristiano Ronaldo, um Carlos Lopes ou uma Rosa
Mota, para aumentar a autoestima", sublinhou.
UM HERÓI |
Embora reconheça
o bom trabalho de algumas federações, como o ténis de mesa, o judo ou a
canoagem, que proporcionou a Portugal a única medalha em Londres,
Vicente Moura insiste na necessidade de continuidade, para evitar casos
como o do triatlo feminino, que, depois da medalha de Vanessa Fernandes
em Pequim, não levou uma atleta a Londres.
Salvaguardando a
autonomia dos vários agentes - governo, COP, federações -, porque "não
se pode estatizar o desporto", Vicente Moura defende um trabalho em
colaboração, "uma situação nunca experimentada", e reconhece ao Estado o
direito e o dever de exigir que se responda pelo seu investimento.
"O
Estado deve definir as regras, mas como os governos navegam mais ou
menos à vista, na perspetiva eleitoral... O trabalho não pode ser feito
dessa forma. O Estado comporta-se como um magnata que dá dinheiro e
espera por resultados sem fazer mais nada a não ser passar o cheque",
acusou.
Nesse sentido, Vicente Moura entende que é fácil o
governo atual e a oposição "definirem um programa para os próximos 20
anos" que seja transversal às sucessivas legislaturas, com objetivos bem
definidos tendentes ao aumento da prática desportiva, em paralelo com o
alto rendimento e a alta competição.
UMA HEROÍNA |
"Se o sistema não se
alterar, acho que o Rio de Janeiro vai ser uma situação muito complicada
para Portugal", reafirmou Vicente Moura. "Serão 200 milhões de pessoas
preocupadas com os portugueses, porque temos lá milhões de portugueses e
familiares de portugueses. Eu não queria estar na pele do governo de
então, daqui a quatro anos, nem do comité olímpico", frisou.
* O poder político absolutamente incompetente mas também os lobys dentro das modalidades e a tutela permissiva, ninguém sai bem na fotografia.
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