HOJE NO
"PÚBLICO"
Cientistas confessam no Twitter
os seus métodos pouco científicos
Confissões vindas de laboratórios de todo o mundo não param de chegar ao Twitter. Usando a "hashtag" #OverlyHonestMethods, cientistas revelam com humor como as experiências são feitas
Tudo o que os cientistas fazem no laboratório é meticulosamente
planeado. Certo? Não necessariamente. Os investigadores tomam muitas
vezes decisões influenciadas por factores ou contextos que pouco (ou
nada) têm de rigoroso. Esse facto não vem descrito nos artigos
científicos, mas está cada vez mais óbvio nas curtas mensagens
("tweets") que os próprios cientistas têm publicado no Twitter. As
confissões bem humoradas não param de vir à tona e o comportamento já se
tornou viral na rede social.
Esta vaga de confissões começou no dia 7 de Janeiro de 2013, quando o neurocientista @dr_leigh
escreveu no Twitter: "A incubação durou três dias porque esse foi o
tempo em que a experiência ficou esquecida no frigorífico pelo
estudante". A mensagem de Leigh era acompanhada pela "hashtag" #OverlyHonestMethods,
uma etiqueta que rapidamente começou a ser utilizada por cientistas dos
quatro cantos do mundo. As "hashtags" servem para classificar e
pesquisar conteúdos no Twitter.
Muitas das confissões revelam cientistas que se distraem ou esquecem
das coisas de vez em quando — como o resto da humanidade, aliás. A
cientista Karen James (@kejames no Twitter), por exemplo, confessa
que a incubação foi feita a 20 graus simplesmente porque, no dia da
experiência, havia Donuts na sala de convívio — e, enquanto estavam
entretidos com os doces, a experiência foi esquecida fora do
frigorífico. Uma selecção de outros "tweets" sobre metodologias
demasiado honestas por ser vista aqui ou aqui.
Humor ou realidade?
Há ainda "tweets" que remetem para a imagem de investigadores que
levam uma vida de excessos: trabalham demais, bebem demasiado café e
ganham mal demais para pagar a subscrição de publicações científicas. Um
"tweet" de @devillesylvain
confessa isso mesmo: "Nós não lemos metade dos artigos que citamos
porque eles são pagos". Para contornar o problema, lê-se apenas o resumo
do artigo, cita-se e acabou. Este é o tipo de coisa que muitos
investigadores nunca sonhariam mencionar na metodologia dos seus
trabalhos mas que, agora, é dita livremente no Twitter em nome do bom
humor.
Uma parte significativa dos "tweets" com a etiqueta #OverlyHonestMethods não passa de brincadeira mas, para Mark Lorch, cientista e "blogger", há um fundo de verdade
no manancial de desabafos que inundam a "twittosfera" científica. Essas
confissões não vêm denegrir a prática científica, muito pelo contrário.
Na opinião de Lorch, trata-se de um caso interessantíssimo de
comunicação de ciência, uma oportunidade de mostrar como as experiências
são realmente feitas: por humanos e para humanos.
* Este tipo de humor não tem muita graça...
.
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