HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Euro a caminho de uma guerra cambial?
Tendo resolvido o problema financeiro mais urgente, a Zona Euro precisa agora de lidar com um dilema potencialmente tão ou mais grave: o de uma moeda valorizada, escreve Mohamed El-Erian.
Os problemas existenciais mais urgentes
do euro terão sido resolvidos ou estarão em vias de o ser, mas a região
terá agora de gerir um dilema particularmente grave em tempos
teimosamente recessivos: o de uma moeda forte.
A advertência é feita hoje nas colunas de opinião do Financial Times
por Mohamed El-Erian, CEO da PIMCO, uma das maiores gestoras
obrigacionistas do mundo, recentemente escolhido por Barack Obama para
presidir ao órgão consultivo do presidente norte-americano em matéria de
política de apoio ao desenvolvimento, o “Global Development Council”.
“Tendo resolvido o seu problema mais urgente, a Zona Euro precisa de
lidar com um novo dilema: o de uma moeda valorizada”, escreve o gestor,
frisando que, só nos últimos seis meses, o euro valorizou 11% contra o
dólar norte-americano e 8% contra o cabaz de moedas dos países com quem
faz o essencial das trocas comerciais.
Ainda centrada no desendividamento e com um crescimento económico
débil, que voltou a ser negativo na segunda metade de 2012, a Zona Euro
“não pode comportar uma moeda mais forte”, prejudicial ao sector
exportador não apenas de potências como a Alemanha, mas também de países
como a Espanha, onde só a contribuição das exportações líquidas tem
sido positiva.
O que fazer, então?
A melhor resposta passa por “acelerar significativamente” as reformas
estruturais orientadas para o aumento da produtividade e avançar na
união bancária, orçamental, concretizando o roteiro de integração
política sugerido no relatório dos "quatro presidentes". Mas depois de
ter evitado um problema financeiro existencial e tendo pela frente um
calendário eleitoral exigente (Itália vai a votos em Fevereiro e a
Alemanha em Setembro), El-Erian diz que os políticos parecem mais
interessados em “disfrutar o momento” – e, com ele, “a ilusão de
estabilidade”. Pelo que voltar a bater à porta do BCE para obter ajuda
“é só uma questão de tempo”.
O CEO da PIMCO antecipa, assim, que o BCE será em breve politicamente
pressionado a adoptar uma política activa com olhos na desvalorização
do euro, o que passará por novas descidas na taxa de juro de referência
para os empréstimos (actualmente fixada em 0,75%) e até por iniciativas
de “flexibilização quantitativa” semelhantes às adoptadas pelo Banco da
Inglaterra, Banco do Japão e Reserva Federal dos EUA.
“Este não é
um caminho pelo qual o BCE optará com facilidade”, escreve o gestor,
concluindo que, se o fizer, o banco central europeu transformará um
dilema regional num global. “Sendo um preço relativo, não é possível a
todos os países reduzirem as suas taxas de câmbio em simultâneo. Se o
BCE for forçado a juntar-se a esta tentativa colectiva para fazer o
impossível, os riscos de uma guerra cambial global e de medidas
proteccionistas aumentariam significativamente”, adverte.
* Mesmo para nós, leigos em assuntos de economia, exceptuando a doméstica, era preceptível que a moeda europeia tem de desvalorizar se não importaremos mais do valor das exportações e a taxa de referência para o crédito também tem de baixar com a obrigatoriedade de se acabar de vez com os bancos agiotas, caso de Portugal.
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