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"PÚBLICO"
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Duplicam casos de bebés retidos por "motivos sociais" no Amadora-Sintra
Em 2012, houve 25 bebés retidos no hospital por ordem do tribunal, a
maioria nascida em contextos de "profunda desestruturação" familiar.
Noutras maternidades do país, os números mantêm-se estáveis
No Hospital Amadora-Sintra, que detém uma das maiores maternidades do
país, aumentaram para o dobro os casos de bebés que ficaram retidos na
instituição, por ordem do tribunal. Foram 25 casos até à passada semana,
contra os 12 casos similares do ano anterior. A convicção de que os
bebés sairiam do hospital pela mão de famílias incapazes de defender o
seu "superior interesse" esteve na base das decisões judiciais, segundo o
assessor de imprensa do hospital, Paulo Barbosa.
Aquele responsável recusa estabelecer uma associação directa entre o
aumento destes casos e a crise económica e social que o país atravessa.
Até pela diversidade das situações. "Podemos estar a falar de situações
de pobreza extrema, como podemos estar a falar de instabilidade
familiar, de mães adolescentes ou da existência de maus tratos na
família - e estes, como se sabe, não são exclusivo de famílias pobres",
sublinhou ao PÚBLICO aquele responsável, para explicar que, depois de as
assistentes sociais do hospital referenciarem as situações, o tribunal
de família e menores determina a retenção do bebé, até que se decida se
este é entregue para adopção, institucionalizado ou devolvido à família.
"Pode acontecer que a mãe não tenha condições económicas, mas que haja
uma tia ou uma avó que comprovem em tribunal ter condições para acolher a
criança."
Geralmente, estas decisões são tomadas à revelia da vontade das mães.
Não se trata, até por essa razão, de abandono ou de rejeição de bebés.
Aqui, os números têm-se mantido estáveis: "Tivemos três casos de
rejeição em 2011 e outros três em 2012, sendo que, em 2009, por exemplo,
tinham sido cinco. Estamos a falar de mães que, depois de terem dado à
luz, assinam os papéis para que os bebés sigam para adopção, porque se
tratou de uma gravidez indesejada ou porque vivem uma situação de
violência em casa", explica ainda Paulo Barbosa.
Na Maternidade Alfredo da Costa (MAC) - a maior do país em número de
partos e cujo fecho está aprazado para Março -, tinham-se registado até à
passada quarta-feira 19 casos de crianças com alta hospitalar protelada
por motivos sociais. Há uma redução relativamente ao ano passado, em
que houve 27 bebés cuja alta foi protelada pelos referidos "motivos
sociais", tais como "reorganização familiar ou parecer da Comissão de
Protecção de Crianças e Jovens", conforme adiantou fonte do conselho de
administração daquela instituição ao PÚBLICO.
Ainda em 2012, a MAC registou paralelamente dois casos de crianças
cujas mães deram consentimento para adopção, mais uma do que em 2011.
Neste último ano, houve ainda registo de dois casos de crianças
"entregues à decisão do tribunal, por não haver verbalização por parte
dos pais sobre o seu destino".
Já no Hospital de S. João, no Porto, a quantidade de crianças deixadas
ao cuidado do hospital manteve-se inalterada de 2011 para 2012: duas
crianças foram deixadas na instituição por decisão da mãe e três por
decisão judicial, em cada um dos anos.
Matosinhos e Braga sem casos
Na Maternidade Júlio Dinis, a contabilidade de 2012 não está feita. Em
2010, houve 16 casos de protelamento da alta por determinação judicial
e, em 2011, foram 23 casos. "Estamos a falar de situações de extrema
vulnerabilidade social", caracteriza Rosa Areias, a assistente
responsável pelo serviço social desta unidade, recusando também
estabelecer uma ligação directa à crise, porque "são situações que
existem desde sempre na maternidade, muitas vezes envolvendo mulheres
profundamente desestruturadas e que estiveram também elas
institucionalizadas". Dos 23 casos de 2011, "14 bebés não saíram com as
mães", ou seja, "o tribunal determinou-lhes a medida de acolhimento
temporário [numa instituição], e um foi entregue para adopção". Nos
restantes casos, "alguns saíram com as mães para lares de apoio" e
outros ficaram à guarda de familiares.
Na maior parte dos casos, segundo Rosa Areias, as mães reagem "de forma
serena" à medida de protecção dos seus bebés. "Em regra, estas
situações começam a ser trabalhadas quando elas ainda estão grávidas,
sempre na companhia de diferentes profissionais, e, por outro lado, não
quer dizer que a criança seja retirada definitivamente, ou seja, podemos
estarmos a falar de um tempo que a mulher ganha para recompor a sua
própria vida."
No Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e no Hospital de Braga não
houve registo de crianças abandonadas no decurso deste ano.
* Há muitos factores que se conjugam para estes incidentes, mas a pobreza conduz à marginalização e a formação de bolsas cada vez maiores de gente infeliz..
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