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HOJE NO
"PÚBLICO"
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Cognição
Há duas maneiras de esquecer uma má recordação por vontade própria
No filme O Despertar da Mente (Eternal Sunshine of the Spotless Mind),
as personagens interpretadas por Jim Carrey e Kate Winslet decidem
apagar das suas mentes todas as recordações do outro. Já não se amam e
querem ver-se livres dessa parte da sua vida. Para isso, submetem-se a
um procedimento não cirúrgico capaz de limpar “cirurgicamente” a
memória.
Cérebro fisiologico
de Norberto Gracia Cairasco |
Agora a sério: se quisesse bloquear, reprimir, esquecer algo muito
desagradável que viveu ou presenciou, se se propusesse apagar essa má
recordação da sua cabeça, como acha que faria? Diversos estudos
realizados ao longo da última década sugerem que existem pelo menos duas
maneiras de suprimir deliberadamente uma má recordação. E agora, pela
primeira vez, uma equipa de cientistas britânicos concluiu não apenas
que esses dois mecanismos funcionam mesmo, mas que cada um deles se
processa através de um circuito cerebral diferente.
“Este estudo mostra
pela primeira vez a existência de dois mecanismos que conduzem ao
esquecimento intencional”, diz em comunicado Roland Benoit, da
Universidade de Cambridge, que liderou o estudo, publicado numa das
últimas edições da revista Neuron.
As duas estratégias que
permitem esquecer, “com o controlo da mente”, por assim dizer, aquela
gaffe monumental que cometemos no jantar do outro dia — ou, num registo
mais sombrio, aquela cena de violência que nos deixou tão perturbados —
são, no fundo, opostas uma da outra. A primeira consiste simplesmente em
obrigarmo-nos a bloquear a memória funesta quando surge; a segunda, em
fomentar a sua substituição por outra, mais agradável, de cada vez que a
recordação indesejável nos acossa. Em ambos os casos, o objectivo é não
deixar a má recordação tornar-se consciente.
Para ver o que
acontecia no cérebro durante a utilização de cada uma destas abordagens,
os cientistas recorreram à técnica de ressonância magnética funcional,
que permite visualizar as zonas que se activam no cérebro das pessoas,
enquanto elas efectuam uma dada tarefa. Neste caso, os participantes no
estudo, que tinham começado por memorizar certas associações entre pares
de palavras, tentavam a seguir esquecer essas associações quer através
do seu bloqueio, quer da sua substituição.
Os investigadores
puderam assim observar que cada uma das estratégias, que se revelaram
ser igualmente eficazes — tanto uma como a outra resultaram
efectivamente num esquecimento —, activava circuitos neuronais
distintos. Durante a supressão de uma memória, o córtex pré-frontal
dorsolateral inibia a actividade do hipocampo, estrutura cerebral
essencial à rememoração de acontecimentos passados (é no córtex, a
“casca” do cérebro humano, onde residem as nossas funções cognitivas
mais sofisticadas). Mas durante a substituição por outra memória, a
actividade verificava-se em duas outras regiões: no córtex pré-frontal
caudal e no córtex pré-frontal mesoventrolateral, “ambas envolvidas em
fazer uma memória entrar na nossa consciência mesmo quando outras
memórias estão a desviar a nossa atenção”, explica o comunicado.
“Uma
melhor compreensão destes mecanismos e dos seus componentes”, diz
Benoit, “poderá um dia ajudar-nos a perceber as perturbações da
regulação das memórias, tal como o stress pós-traumático.” Segundo o
investigador, o facto de saber quais são os processos neurais que
contribuem para o esquecimento pode ser útil do ponto de vista
terapêutico, porque talvez haja pessoas que têm mais jeito para pôr em
prática uma das estratégias do que a outra.
* Aqueles que votaram no PSD e no PS nas últimas eleições, são os portugueses que mais recrutam estes dois mecanismos para se esquecerem intencionalmente da borrada que fizeram.
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