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"PÚBLICO"
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Ordem culpa “ministros neoliberais”
por haver médicos a acumular salários
Para o bastonário da Ordem dos Médicos não há duvidas: as situações
detectadas pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde de médicos com
vínculo ao SNS que são também prestadores de serviço nos locais onde
trabalham e de remunerações acima do previsto resultam “da introdução de
regras de mercado na saúde, defendidas por ministros neoliberais como
Luís Filipe Pereira, Correia de Campos e Paulo Macedo”.
Em declarações ao PÚBLICO a propósito do relatório da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) divulgado nesta terça-feira, o bastonário José Manuel Silva estranha o
momento escolhido pela tutela para a divulgação do documento, numa
altura em que decorrem negociações entre os sindicatos e o Ministério da
Saúde, nas quais dois dos temas são as carreiras médicas e a
contratação de médicos em regime de prestação de serviços.
“A
Ordem dos Médicos recorda que os médicos fizeram greve em defesa do
Serviço Nacional de Saúde, das carreiras médicas e das contratações
públicas dos médicos, precisamente para lutar contra estas situações
anómalas, embora pouco frequentes, que são consequência da
empresarialização dos hospitais e da introdução de regras de mercado na
saúde, defendidas por ministros neoliberais”, disse José Manuel Silva,
citando o nome dos antigos ministros Luís Filipe Pereira (PSD) e Correia
de Campos (PS), bem como do actual ministro Paulo Macedo – deixando de
fora o nome de Ana Jorge (PS).
De acordo com o relatório da IGAS,
citado pela agência Lusa, a inspecção avaliou o valor/hora da
contratação de serviços médicos em regime de prestação de serviços e
identificou situações de médicos que acumulam salários. “Foram
sinalizadas situações de médicos que têm relação jurídica de emprego no
SNS e que simultaneamente acumulam enquanto prestadores de serviço nos
seus próprios serviços ou noutros”, refere a IGAS. A inspecção foi
desencadeada a pedido do ministro Paulo Macedo.
O despacho que
regula esta questão determina que não podem ser contratados clínicos que
estejam dispensados do trabalho no serviço de urgência, que acumulem
funções públicas ou que prestem trabalho em regime de tempo parcial.
Quanto aos valores a pagar, a IGAS detectou mais de 20 entidades que não
cumpriam a legislação. O despacho de 2011 do secretário de Estado da
Saúde fixa em 25 euros/hora o valor de referência para médicos não
especialistas e de 30 euros para especialistas. Há casos em que o valor
mensal de pagamentos chega aos 20 mil ou aos 40 mil euros. Ainda assim, o
custo total com este tipo de contratos em 2011 baixou 13% em relação a
2010, para cerca de 80 milhões de euros.
O bastonário dos médicos
defende, por isso, que o Ministério da Saúde “não se deve admirar com
as consequências” dos mecanismos de mercado introduzidos, garantindo que
a contratação de médicos em regime de prestação de serviços – o que
implica uma empresa intermediária – é sempre mais oneroso que o eventual
pagamento de horas extraordinárias aos clínicos. Questionado sobre se
os médicos que aceitaram estas situações não cometeram nenhuma
ilegalidade, José Manuel Silva respondeu que “se alguém cometeu alguma
ilegalidade foram os conselhos de administração dos hospitais que os
contrataram, mas que é compreensível pois querem responder às
necessidades dos doentes”.
A situação não é, porém, nova. Já em Abril de 2011 a IGAS tinha em mãos 22 casos de médicos em regime de exclusividade para o Serviço Nacional de Saúde mas que ao
mesmo tempo trabalhavam em empresas de prestação de serviços pagas pelo
Estado. As situações de fraude foram detectadas no âmbito da auditoria
pedida pela então ministra da Saúde, Ana Jorge, em 2010. A inspecção
visou, por exemplo, identificar casos de médicos aposentados que
estivessem a trabalhar para o SNS através de empresas de prestação de
serviços – o que é uma prática ilegal. A IGAS detectou valores
superiores aos cem euros por hora em alguns casos.
* Os médicos sabem muito bem fazer pela vidinha e uma vigaricezinha a coberto da lei não mata ninguém.!
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