30/05/2012

ALEXANDRA MACHADO


  


O elo mais fraco 

Estamos no início do concurso. Adelino Cunha foi o elo mais fraco. Houve razões para ele sair do programa. Mas alguém mais tem de sair. Só pode haver um vencedor. O mesmo é dizer que, nesta história, só um lado pode ter razão. Miguel Relvas tem de tirar as devidas consequências.

 Quando Passos Coelho formou Governo, a escolha de Miguel Relvas teve logo muitas leituras. Este jornal, no especial Poderosos que vem editando, da autoria de Pedro S. Guerreiro e Fernando Sobral, colocou, em 2011, Miguel Relvas atrás de Passos Coelho, dizendo que seria o Armando Vara deste Governo. Considerei, na altura, que seria talvez para se dar o benefício da dúvida não se colocava Relvas acima de Passos. Miguel Relvas chegava ao Governo com os seguintes pelouros: Administração Local, Desporto e Comunicação Social, incluindo privatização da RTP. Demasiados poderes. Mesmo para um homem do aparelho e de muitas relações. Achou-se, talvez, indestrutível. 

O ministro terá tido, neste caso com o Público, dois pecados que, confirmando-se, deviam ser capitais. Ameaçou cortar a comunicação de todo o Governo com o jornal. E fê-lo porque sabe que o conseguiria. Fê-lo porque sabe que outros antes dele o fizeram. Fê-lo porque sabe que muito passa pelo Governo. 

O outro pecado? O de divulgar dados pessoais da jornalista Maria José Oliveira. Nuno Simas, no jornal Público, quando escrevia sobre as secretas, teve as suas chamadas telefónicas escrutinadas. Maria José Oliveira, que hoje escreve sobre secretas, veria divulgado o nome da pessoa com quem vive, por alegadamente ser da oposição. Miguel Relvas, habituado a lidar com jornalistas, terá achado que o telefonema que fez não passava dali. A história não era publicada, mas o seu telefonema também não era divulgado. Enganou-se. Ainda bem. Porque há pressões. Mas o que Miguel Relvas terá feito é mais do que isso. É tentativa de subjugação. Não pode fazê-lo. E Passos Coelho não pode ficar calado. Não pode ficar parado. 

Já agora para não se pensar que se trata de corporativismo, o caso só se ficou a saber porque foi a conselho de redacção. Devia ter sido denunciado pela própria direcção. 

Podemos esperar pela opinião da ERC. Podemos ver isto como um caso político-partidário. Até podemos ver o caso como um confronto entre duas partes. Eu vejo uma tentativa ilegítima de limitar a liberdade de imprensa. Passos Coelho pode optar por uma destas versões. É a vez dele jogar e escolher o elo mais fraco. 


*Jornalista 


 IN "JORNAL DE NEGÓCIOS" 
28/05/12 

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