Banqueiro acusado
Paulo Guichard, ex-presidente da Comissão Executiva do Banco Privado Português (BPP), e a sua mulher foram acusados pelo DIAP de Lisboa do crime de abuso de informação privilegiada – também conhecido como inside trading – na venda de acções do BCP, que lhes renderam uma mais-valia de 52.400 euros.
Em causa está a proposta de fusão do BPI com o BCP, feita em 25 de Outubro de 2007 pela administração do primeiro banco, liderada por Artur Santos Silva. Isto depois da OPA frustrada do BCP ao BPI, ocorrida um ano antes. À época, o BPP liderado por Guichard detinha 2,5% do capital social do banco então liderado por Jardim Gonçalves.
A acusação foi feita no dia 11 deste mês, pela 9.ª secção do DIAP de Lisboa, coordenada pela procuradora Teresa Almeida. O despacho descreve os pormenores de toda a operação de fusão, que começou a ser estudada pelo BPI no dia 13 de Outubro. A Goldman Sachs (banco de investimento norte-americano) foi contratada pelo BPI para estudar a melhor proposta, tendo apresentado as suas conclusões, obedecendo a regras do maior secretismo, no dia 23 de Outubro. Um dia depois, e antes de o conselho de administração do BPI aprovar a fusão, Santos Silva ligou pelas 12 horas a Jardim Gonçalves, dando-lhe conta do que estava a acontecer.
Pelas nove horas do dia 25 de Outubro, o BPI aprovou a proposta de fusão, tendo a mesma sido transmitida à administração do BCP às 15h30. A informação só chegou ao mercado às 17h18, através de um comunicado do BPI publicado no site da CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários).
Paulo Guichard terá tido acesso a informação privilegiada sobre a operação «antes das 12h30m» desse dia, «através de fonte que não se apurou» – lê-se no despacho de acusação, subscrito pelo procurador José Ranito.
Mulher deu ordem de compra
Imediatamente a seguir, Cristina Alves, mulher de Guichard, deu ordens de venda da esmagadora maioria das acções da Brisa, Cimpor e REN que o casal detinha numa conta do BPN, de forma a conseguir fundos para adquirir títulos do BCP entre os 3,16 euros e os 3,20 euros por acção.
Com a ajuda de um crédito a descoberto concedido pelo BPN, o casal conseguiu comprar 189 mil acções do BCP, num valor total de 603.500 euros. Cristina Alves adquiriu ainda, através da corretora do próprio BCP, mais 50 mil acções que custaram 158 mil euros.
No dia seguinte, 26 de Outubro, já depois de conhecida a proposta de fusão do BPI, o próprio Paulo Guichard deu ordens de venda das acções compradas através da corretora do BPN, conseguindo um preço de 3,42 euros por acção – que rendeu a soma de 644.676, 76 euros. A sua mulher fez o mesmo junto do BCP, conseguindo receber no dia 29, depois de uma tentativa de venda frustrada no dia 26, cerca de 171 mil euros.
Ou seja, o casal Guichard recebeu 816.613 euros pela venda das 239 mil acções, tendo assim uma mais-valia de 52.479, 82 euros em apenas quatro dias. Segundo a acusação, Guichard e a sua mulher usaram «em proveito próprio de informação que os colocou em situação de vantagem face aos restantes investidores».
O procurador José Ranito requer, em caso de condenação, que a mais-valia de cerca de 52 mil euros obtida pelo casal seja declarada perdida a favor do Estado. O SOL tentou contactar Paulo Guichard e Cristina Alves, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.
Recorde-se que a proposta de fusão com o BPI acabou por ser recusada pelo BCP, a 30 de Outubro de 2007.
* São as pessoas desta "classe" que destroem o país mas que continuam a ser tratados com deferência, frequentam os sítios "muito in" mas não passam de vigaristas e agiotas.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário