26/05/2020

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HOJE NO 
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Ana Leal suspensa pela TVI por divulgar emails trocados com a direção

Jornalista em casa, a receber vencimento mas sem atividade na estação televisiva. Em causa emails divulgados ao conselho de redação

A jornalista Ana Leal foi suspensa pela direção da TVI. Em causa está a divulgação ao conselho de redação (CR) da TVI de emails particulares trocados com direção do canal, confirmou ao DN o advogado da jornalista, Ricardo Sá Fernandes.

"A única razão que foi invocada tem a ver com essa matéria, o que não quer dizer que não possa haver outras. O que constava na carta é que havia suspeitas de alguns comportamentos irregulares, nomeadamente estas mensagens de trabalho", começou por dizer o advogado.
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"Em defesa de Ana Leal o que tenho a dizer é que essas mensagens internas foram enviadas aos órgãos próprios, como o CR e outros órgãos a quem podiam e deviam ser enviadas para serem analisadas e averiguadas. É perfeitamente legítimo e não creio que haja fundamento para a suspensão ou para a instauração de qualquer inquérito à Ana Leal", acrescentou Ricardo Sá Fernandes.

"O que eu vejo é que há uma tensão decorrente do facto de a TVI e a Ana Leal terem divergido sobre um conjunto de reportagens que a jornalista tinha feito e que a TVI não pôs no ar. Em função disso é que há este litígio e que tem apenas a ver com uma questão: a liberdade de imprensa e a forma como esta é encarada por uns e por outros", argumentou o advogado.

Ana Leal encontra em casa, a receber vencimento mas sem qualquer atividade na estação televisiva. Ricardo Sá Fernandes diz que ainda é cedo para se falar em resolução do litígio em tribunal e aguarda pelo inquérito por parte da TVI, não esperando que a vontade da cadeia de televisão seja avançar para o despedimento.

Fonte oficial da TVI confirmou ao DN a suspensão e a instauração de um inquérito, mas refere que a estação não vai comentar um assunto interno.

Jornalistas criticam cancelamento do programa "Ana Leal"
Os jornalistas da TVI que integravam a equipa do programa "Ana Leal" criticaram a decisão da Direção de Informação de cancelar este segmento dedicado ao jornalismo de investigação, considerando que a profissão "não está de quarentena", apesar da pandemia.

De acordo com uma carta enviada ao Conselho de Redação da TVI, a que a agência Lusa teve acesso na primeira quinzena deste mês, os jornalistas que faziam parte da equipa deste programa contestam o seu cancelamento, considerando que o "jornalismo não está de quarentena".

O segmento "Ana Leal", que era transmitido quinzenalmente, às terças-feiras, foi suspenso em 10 de março, na sequência da propagação da pandemia, mas "a equipa continuou a trabalhar sob as orientações da coordenadora Ana Leal", apenas em "histórias sobre a temática covid-19" e que seriam transmitidas no "'Jornal das 8' sempre que estivessem concluídas, mas agora sem dia nem hora marcados", prossegue o documento.

A carta refere que o Diretor de Informação, Sérgio Figueiredo, concordou manter "a marca de água 'Ana Leal' para que os espetadores soubessem que o programa estava vivo", mas acabou por retirar a "respetiva autorização acordada com a jornalista Ana Leal, sem nunca explicar porquê".

Segundo o documento, o diretor de Informação comunicou, em 26 de março, que a equipa do programa "era dissolvida" e que os jornalistas que a integravam "regressavam à redação".

A carta acrescenta que nunca foi referido a este grupo "que se tratava de uma situação transitória para acorrer a necessidades da redação" e que "a ideia foi transmitida como definitiva".

Os jornalistas que integravam a equipa deste segmento incluíram na missiva um excerto de uma conversa na aplicação de mensagens para 'smartphone' WhatsApp, de 17 de março, com uma mensagem atribuída a Sérgio Figueiredo e que consideram que demonstra "o que pretendia da informação da TVI".

"Jornalismo é informar, mas é, sobretudo, ter a noção do papel que desempenha na sociedade. Por isso, também é filtrar, ter a noção do tempo e do modo como o nosso trabalho impacta na vida dos outros. Enquanto os incêndios não se apagam, não é hora de questionar os bombeiros. Não ignoramos as falhas, mas estar a insistir nelas, estar sobretudo preocupado em denunciar o que não funciona, assusta as pessoas e afasta-as da antena, provoca rejeição. As televisões têm agora a preocupação de informar, de esclarecer, de ser pedagógicos, de perceber que as pessoas precisam sobretudo tranquilizar-se e confiar", terá dito Sérgio Figueiredo, em resposta a Ana Leal sobre uma reportagem que seria exibida no dia seguinte (18 de março).

"Quando ela acabar [a pandemia], quando ela for vencida, então voltamos a questionar, a denunciar, a pôr em causa. Como sempre temos feito, como esta equipa tem feito, com o aval e o comprometimento pessoal deste diretor que vos admira e dá o corpo às balas para que nenhuma pressão nenhum interesse vos trave", terá acrescentado o diretor de Informação da TVI.

Por seu turno, a equipa que integrava este programa considerou, na carta, que "o jornalismo em tempos de pandemia tem, efetivamente, um papel crucial em termos pedagógicos, mas não pode, de forma alguma, limitar-se a isso".

Este grupo de jornalistas ressalvou que os cidadãos "têm o direito a não quererem estar informados" e que, para alguns, poderá ser preferível "não saber o que está a acontecer" ou até será "um mecanismo de defesa para sobreviverem" a esta crise da pandemia da doença provocada pelo novo coronavírus.

"Mas esse é apenas um direito do cidadão, mal andaríamos se fosse um dever do jornalismo. Ao jornalista exige-se que informe e que o faça com responsabilidade, ou seja, sem alarmismos infundados, mas com a verdade. Longe vão os tempos em que a Comunicação Social estava proibida de noticiar aquilo que deixasse as pessoas alarmadas", contrapôs este grupo de jornalistas.

Contactada pela Lusa, fonte oficial da TVI disse que "os dois espaços de informação dedicados ao jornalismo de investigação estão suspensos até decisão contrária" e que "não há planos, nem data, para o regresso de qualquer um deles".

Em relação aos elementos que integravam a equipa do programa, a mesma fonte explicou que "as pessoas estão todas integradas no esquema de rotatividade" por causa da pandemia.
Fonte do Conselho de Redação da TVI confirmou à Lusa que tem estado a acompanhar a situação.

Os jornalistas que integraram a equipa do programa "Ana Leal" também já tinham sido contactados pelo Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas.

* Há anos que a TVI pratica a "democrática ditadura" e não é só a nível redactorial. Quem tem memória lembrar-se-á de Manuela Moura Guedes ou até de Marcelo Rebelo de Sousa que bateu  com a porta.

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