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HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Escolha democrática do presidente
da Comissão Europeia pode
ter os dias contados
Sem
se perceber muito bem qual será o desfecho das eleições europeias de
maio, o processo de nomeação do presidente da Comissão Europeia, através
das listas concorrentes ao Parlamento Europeu, parece ter deixado de
suscitar o entusiasmo que, em 2014, Martin Schulz quis imprimir à
escolha do "Spitzenkandidat"
A
quatro meses das eleições europeias, o processo de nomeação do
presidente da Comissão Europeia, através das listas concorrentes ao
Parlamento Europeu, parece ter arrefecido.
O procedimento que
gerou entusiasmo em 2014, em torno da ideia de mais democracia na
escolha do presidente da Comissão Europeia, parece agora um mero
vislumbre, cada vez mais vago e, essencialmente, confuso. A começar pelo
número de candidatos.
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As duas principais famílias políticas do
Parlamento Europeu nomearam cabeças de lista únicos. O Partido Popular
Europeu (PPE) nomeou o alemão Manfred Weber. O Partido Socialista
Europeu (S&D) lançou o holandês Frans Timmermans para a suposta
corrida à liderança da Comissão Europeia. A partir daqui, torna-se
difícil perceber quem são afinal os "Spitzenkandidat" - como lhe chamava
Martin Schulz, em 2014, quando conseguiu que a ideia vingasse.
Os
Verdes, por exemplo, têm dois Spitzenkandidaten. Franciska Maria
Keller, e Bas Eickhout. Os liberais do ALDE surpreendem ao não nomear o
candidato Guy Verhosftadt, que chegou a apresentar-se para uma corrida à
liderança da Comissão, quando o português Durão Barroso foi nomeado
para o segundo mandato, numa altura em que o processo seguia à letra a
definição do Tratado de Lisboa, para a nomeação do chefe do executivo de
Bruxelas.
Em vez disso, em novembro, numa reunião em Madrid, que
contou com a presença de "mais de mil participantes, incluindo
primeiros-ministros, comissários europeus, líderes partidários,
delegados e membros individuais de 60 partidos membros de toda a
Europa", os liberais aprovaram um manifesto, nomeando vários cabeças de
lista, pela Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa.
"Os
liberais europeus têm vários líderes fortes e decidimos que eles
deveriam liderar a nossa campanha eleitoral como uma equipa", declarou
na altura o eurodeputado do ALDE, Hans van Baalen, surpreendendo todos
os que acreditavam que o ex-primeiro-ministro belga e atual negociador
do Parlamento Europeu para o Brexit, Guy Verhofstadt, não desperdiçaria a
nova oportunidade para tentar alcançar o topo do Berlaymont.
A
Aliança dos Conservadores e Reformistas Europeus, que atualmente é o
terceiro grupo do Parlamento Europeu, com 75 eurodeputados, nomeou o
checo Jan Zahradil, como cabeça de lista. O grupo politico, que conta
com 15 deputados polacos do partido eurocético PiS de Jaroslaw
Kaczynski, pode tornar-se praticamente insignificante, uma vez que,
depois do Brexit, já não contará com os seus 18 deputados britânicos do
Partido Conservador (da primeira-ministra Theresa May).
O próprio
cabeça de lista pela Aliança dos Conservadores e Democratas admitiu que o
processo de nomeação do presidente da Comissão Europeia, pode ignorar
de uma vez a ideia do "Spitzenkandidat", e a sua candidatura não é mais
do que aproveitar a onda e chamar a atenção.
"Nós não inventámos o
processo de 'Spitzenkandidat', mas uma vez que estamos aqui, queremos
aproveitar a oportunidade para comunicar nosso programa, princípios e
planos ao público", disse Jan Zahradil, quando se apresentou, em
novembro, tendo frisado que os tratados da UE asseguram a
responsabilidade do Conselho Europeu, para nomear o Presidente da
Comissão.
"Eles podem querer indicar alguém que tenha concorrido
como "Spitzenkandidat". Ou não. Mesmo que ganhássemos as próximas
eleições europeias, eu respeitaria a decisão do Conselho ", afirmou, na
altura, à imprensa, Jan Zahradil, demonstrando total descrédito no
procedimento.
Já esta semana, na segunda-feira, a "Esquerda
Europeia" nomeou a deputada eslovena Violeta Tomic e o Secretário-Geral
do Sindicato dos Metalúrgicos da Bélgica Nico Cue como os seus
"Spitzenkandidaten".
ALTOS E BAIXOS
Há menos de um ano,
quando se começou a reavivar a ideia de voltar a ter um presidente da
Comissão Europeia eleito nas listas ao Parlamento Europeu, o próprio
presidente do Parlamento Europeu, o italiano António Tajani admitiu que
ainda seria necessário "fortalecer este processo".
Porém, os
contributos para dar força à ideia foram tímidos ou entraram mesmo em
confronto. A Comissão Europeia distanciou-se, quando Jean-Claude Juncker
assumiu que "a posição da Comissão seria neutra" e deixou mesmo
entender que o nome escolhido "talvez" não possa sair "diretamente" da
lista mais votada.
Entre os eurodeputados duas famílias políticas
europeias, as quais teriam à partida mais probabilidade de eleger o
presidente da Comissão Europeia, o socialista Carlos Zorrinho e o
social-democrata Paulo Rangel são taxativos a afirmar que o Parlamento
Europeu terá de ter um papel "determinante", mas não afirmam que esse
papel será decisivo. Rangel defende que o escolhido deverá ser "em
princípio aquele que vence". Zorrinho admite que "em democracia, pode
haver nuances".
É
que as próximas eleições europeias podem deixar o panorama político
excessivamente fragmentado. Num caso como este, Paulo Rangel admite que
"poderia ficar menos claro" qual a família política em melhores
condições para escolher o presidente. Para Carlos Zorrinho "não se podem
excluir" outros cenários de entendimento entre os grupos políticos para
apoiara um nome para a comissão, mesmo que ele não seja o do grupo
político vencedor das europeias 2019.
No Parlamento Europeu a
promessa, porém a de bloquear qualquer nome proposto pelo Conselho
Europeu, que não saia das listas candidatas às eleições de 2019.
CONSELHO EUROPEU DECIDE
No
Conselho Europeu a ideia de perder um poder que foi exclusivo durante
décadas não é bem acolhida e parece tudo a postos para a reversão do
processo que levou à nomeação de Jean-Claude Juncker em 2014. O
primeiro-ministro português, António Costa, não é um fã do
"Spitzenkandidat" e admite que o futuro líder da Comissão "pode não ser"
um dos cabeças de lista das eleições europeias.
António Costa
assume que não será esse o modelo seguido. A escolha deverá "seguir
aquilo que dizem os tratados", e assim "o Conselho propõe ao Parlamento
Europeu um candidato a presidente da Comissão, tendo em conta o
resultado das eleições" e não o contrário.
"É
um poder do Conselho escolher um candidato", considerou António Costa,
no final de uma cimeira europeia, há um ano, em que o assunto foi
aflorado, à margem da agenda oficial. O chefe do governo admitiu ainda
assim que o Conselho "tenha em conta a composição do Parlamento, para
depois não escolher um candidato que não recolha a maioria no Parlamento
Europeu".
António Costa admitiu porém que "no limite" o sucessor
de Jean-Claude Juncker "pode não ser" um dos nomes propostos nas listas
das próximas eleições europeias.
"Se cada partido europeu decide
apresentar o seu candidato, é uma escolha dos partidos. Não compete ao
Conselho estar a dizer o que é que os socialistas ou o PPE ou os
Liberais devem ou não devem fazer. É uma escolha de cada partido
europeu", afirmou, vincando que o resultado não terá reflexo
direto na escolha do Conselho.
* Jogos de poder que cidadão básico europeu suporta e alimenta.
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