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Tirem estes miúdos da escola
Tenho
tido a felicidade de, nas últimas semanas, assistir ao programa-piloto
das Forças Armadas Portuguesas “Alista-te por um dia”. Durante um dia,
os pequenos e as pequenas do 4º ano de escolaridade de todos os
concelhos da Região visitam o quartel onde muitos dos pais estiveram, o
Regimento de Guarnição nº3, antes de as juventudes partidárias terem
posto o Serviço Militar Obrigatório em Portugal nos Cuidados Paliativos e
depois desligado a máquina por onde ainda respirava. Tenho visto as
reações deles e delas, menos de um metro de gente, perante as novidades,
as perguntas em catadupa feitas aos militares, de manhã na tropa e à
tarde na Marinha, com direito a passeio de lancha e tudo. Alguns deles
nunca tinham entrado numa embarcação.
Tenho visto os alunos com necessidades especiais sorrir, rir, vibrar com todas as experiências, cuidadosamente preparadas para eles e tenho conversado em todas as sessões com professores admirados com alunos perfeitamente normais que em quatro anos não participam nas aulas e que durante todo aquele dia não param de fazer perguntas. Além disso, tenho visto as reações de surpresa dos docentes com o brilho nos olhos de miúdos que querem aventurar-se na lancha do Instituto de Socorros a Náufragos, depois de quatro anos impávidos e serenos na sala de aulas.
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Tenho visto os alunos com necessidades especiais sorrir, rir, vibrar com todas as experiências, cuidadosamente preparadas para eles e tenho conversado em todas as sessões com professores admirados com alunos perfeitamente normais que em quatro anos não participam nas aulas e que durante todo aquele dia não param de fazer perguntas. Além disso, tenho visto as reações de surpresa dos docentes com o brilho nos olhos de miúdos que querem aventurar-se na lancha do Instituto de Socorros a Náufragos, depois de quatro anos impávidos e serenos na sala de aulas.
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Mas tem sido
mesmo reconfortante ver crianças com autismo a interagirem com os
militares, a quererem experimentar as trincheiras da I Grande Guerra e
de lá saírem com sorrisos enormes que até os professores desconheciam.
Os mesmos professores que acham que pelo menos uma semana na vida os
pequenos, ali por volta dos 15 anos, deviam passar nas fileiras da
“tropa” a aprender valores e disciplina, porque agora na escola é
“antipedagógico”.
Alguém que entenda que a escola morreu, não
numa guerra, mas no calendário. O tempo não parou e estes miúdos, hoje,
precisam de estímulos, não de cadernos e livros ultrapassados, que só
servem para enriquecer as editoras. Os tablets ensinam a mesma coisa por
menos dinheiro e serão muito mais atrativos para captar a atenção
destes pequenos. Alguém que levante o rabo da cadeira ministerial e veja
como as crianças aprendem reanimação, a importância do hino nacional e o
significado da bandeira portuguesa num só dia. Não é preciso irem ao
quartel experimentar óculos de visão noturna e ao navio da Marinha
afinar os binóculos na cara, para verem que a escola deixou de ser gira,
os currículos alternativos e regimes articulados ganham cada vez mais
adeptos e tornam os adolescentes mais felizes e, sobretudo,
compreendidos.
Se ainda tiverem dúvidas, podem sempre ver os exemplos da
Escola da Ponte e da Escola da Segunda Oportunidade, curiosamente ambas
no norte do país, onde estes pequenos não tiveram a sorte de nascer.
Pelo menos tiveram a sorte de passar um dia diferente, surpreendendo até
os próprios professores que os educam há quatro anos. Tirem
urgentemente estes miúdos de um sistema de ensino moribundo. Ou pelo
menos mostrem que há outro lado.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
06/11/18
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