13/09/2017

LUCY P. MARCUS

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Os lacaios empresariais de Trump

Se o imperativo moral de enfrentar a opressão não é suficiente para levar uma empresa a agir, talvez a necessidade de proteger a reputação da empresa seja.

Em meados de Agosto, grupos de extrema-direita, neo-nazis e supremacistas brancos, incluindo o Ku Klux Klan, reuniram-se em Charlottesville, Virgínia, para uma manifestação que terminou com um supremacista branco a conduzir um carro em direcção a uma multidão de contra-manifestantes, matando uma pessoa e ferindo 19. O presidente Donald Trump reagiu ao sucedido não condenando o terror racista, mas sim culpando "muitos lados" pela violência. Para muitos membros do conselho industrial e do Fórum de Estratégia e Política, foi a gota de água. Mas os problemas já vinham de trás.

Os primeiros membros do conselho que renunciaram foram rotulados como "grandstanders" por Trump. Mas depois as renúncias, gota a gota, tornaram-se numa onda, e Trump, aparentemente temeroso de uma revolta em grande escala por parte dos líderes empresariais que deveriam aconselhá-lo, rapidamente dissolveu os dois conselhos económicos, escrevendo no Twitter que não queria pressionar os seus membros.

Talvez não precisasse de se preocupar. Sim, alguns membros dos órgãos consultivos de Trump assumiram uma posição. Mas foi muito pouco, e demasiado tarde. Afinal, por mais terrível que tenha sido a resposta de Trump aos eventos em Charlottesville, ninguém pode dizer, de forma credível, que ficou chocado com isso. Pelo contrário, desde o primeiro dia, houve sinais claros de que esta administração era tóxica. Mesmo os próprios conselhos eram pouco mais do que uma ferramenta para aumentar o ego de Trump, elevando a sua auto-imagem como homem de negócios.

Ainda que alguns membros do conselho tenham renunciado depois de Trump ter retirado os Estados Unidos do acordo climático de Paris, a maioria permaneceu, devido a um desejo primordial de prestígio e acesso. Participaram em momentos fotográficos com sorrisos rasgados, acenando com a cabeça e apertando as mãos uns dos outros. Gostam certamente de contar histórias aos seus investidores e colegas que começam com: "Quando eu estava na Casa Branca na semana passada…"

Violações éticas flagrantes? ‘Check’. Mentiras repetidas em relação a laços com a Rússia? ‘Check’. Ameaças de guerra nuclear no Twitter? ‘Check’. Só quando Trump validou implicitamente o nazismo é que se sentiram obrigados a pesar as suas opções.

Esses líderes empresariais não podem dizer, de forma credível, que acreditavam, até à semana passada, que poderiam exercer uma influência moderadora sobre Trump. Se fosse esse o caso, teria havido alguma indicação disso nestes últimos sete meses. Mas não houve. Pelo contrário, Trump abandonou o guião repetidamente, revelando crenças e sentimentos que não jogaram a seu favor.

Na verdade, ao escolherem permanecer nos conselhos de Trump durante tanto tempo, esses líderes empresariais validaram implicitamente a sua autoridade que, como demonstrou várias vezes, era incapaz de exercer. Para os membros dos conselhos económicos de Trump, assim como para os membros da sua administração, estar ao lado do presidente equivale a estar com ele. Com efeito, esses líderes validaram as posições ultrajantes de Trump num vasto conjunto de questões, desde o seu plano para construir um muro na fronteira com o México até às suas repetidas tentativas de impedir que cidadãos de vários países de maioria muçulmana entrem nos EUA.

Ninguém deve subestimar o impacto desta posição. Os conselhos económicos de Trump integram os líderes de algumas das maiores empresas do mundo. As suas acções são importantes. A sua decisão de se associarem a uma administração que ataca repetidamente princípios democráticos é altamente significativa - e não apenas para os EUA. Na verdade, as empresas que estavam representadas - como Walmart, PepsiCo, JPMorgan Chase e General Motors - afectam a vida da maioria das pessoas no planeta.

Dentro das suas empresas, esses líderes defendem a importância da diversidade e da acção para combater as alterações climáticas. Afirmam valorizar o seu papel como partes interessadas, a nível global. Promovem a sua posição nos rankings dos "melhores empregadores" dos Estados Unidos. Mas, ao escolherem permanecer em silêncio perante o comportamento e as políticas de Trump, tais asserções tornaram-se inúteis.

Num contexto global, a colaboração contínua com a Casa Branca de Trump deve ser vista como semelhante a fazer negócios com – e, por isso, apoiar - governos corruptos. À excepção do bloco soviético, nenhuma ditadura moderna foi estabelecida e sustentada sem o papel de apoio dos negócios, seja mineração de diamantes e coltan em zonas de conflito em África ou petrolíferas no Delta do Níger. Empresas como a Bayer e a BASF (que faziam parte do gigante químico IG Farben), a Siemens e o Volkswagen Group ainda são lembradas por terem beneficiado da sua colaboração com os nazis.

Os CEO em todo o mundo devem reconhecer não apenas a sua influência e autoridade - das quais a maioria provavelmente está bastante orgulhosa -, mas também a responsabilidade de avançar valores e metas humanas. Eles devem representar algo maior do que os seus próprios interesses ou os retornos que dão aos investidores. Se o imperativo moral de enfrentar a opressão não é suficiente para levar uma empresa a agir, talvez a necessidade de proteger a reputação da empresa seja.

Pode-se argumentar que, agora que os conselhos económicos de Trump foram dissolvidos, a questão é irrelevante. Mas a responsabilidade das empresas vai além da participação nesses conselhos. Agora, não é hora de politizar ou analisar palavras. Os líderes empresariais devem demonstrar uma liderança genuína, integridade e respeito pela ética. Devem deixar claro que não estão de acordo com Trump, enquanto ele conduz o seu país para a destruição.

Isto não se aplica apenas a Trump ou aos EUA. Em todo o lado, os líderes empresariais devem usar a sua influência para enfrentar os governos autoritários onde quer que eles estejam no mundo. Eles e as suas empresas nunca foram mais poderosos. Deveriam usar as suas forças para lutar por um futuro melhor, e não por um assento na mesa do tirano.

* CEO da Marcus Venture Consulting.

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
03/09/17


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