Oliveira Costa.
O cavaquista do fisco
que acabou banqueiro
De origem modesta, como Cavaco, este homem de Aveiro trepou dentro do aparelho do PSD, chegou ao governo, fez a reforma fiscal imposta pela adesão à CEE e rapidamente entrou na banca: Banco de Portugal, Finibanco e o fatídico BPN.
Oliveira Costa, que ontem, 24/05, conheceu a sentença no principal processo
ligado ao Banco Português de Negócios, é um dos muitos produtos do
cavaquismo, que reinou em Portugal desde 1985 até Cavaco Silva ter
decidido abandonar a presidência do PSD e a chefia do governo, em 1995.
Tal como o patrono, Oliveira Costa também tem origens modestas.
Trabalhou como empregado de escritório numa empresa de madeiras ao mesmo
tempo que estudava Economia no Porto. Com a chegada ao poder de Cavaco
Silva, Oliveira Costa começou rapidamente a trepar no aparelho
social-democrata e chegou a presidente da distrital do PSD de Aveiro.
Quando Cavaco Silva obtém a primeira maioria absoluta, em 1987, Oliveira
Costa é nomeado secretário de Estado dos Assuntos Fiscais do ministro
das Finanças Miguel Cadilhe. Cabe-lhe a tarefa de fazer a grande reforma
fiscal imposta pela adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia.
É a partir de então que os funcionários públicos começam a pagar
impostos, uma reforma que elevou para patamares nunca vistos a despesa
do Estado com salários. Miguel Cadilhe bem avisou Cavaco de que o novo
regime contributivo obrigava o governo a fazer uma profunda reforma do
Estado, para travar e reduzir os efeitos desses enormes aumentos
salariais. Nunca foi feita. Mas Oliveira Costa, determinado, competente e
trabalhador, fez mais. Introduziu o IRS, o IRC e o IVA e avançou para
uma enorme amnistia fiscal para as empresas portuguesas, um processo
polémico que provocou muitas denúncias, muitas suspeitas, e terá mesmo
sido a causa de muitas riquezas difíceis de explicar em face dos
rendimentos auferidos por vários personagens do regime cavaquista.
Oliveira Costa saiu do governo em 1990 e foi logo nomeado para o
Banco Europeu de Investimento, onde permaneceu até 1994. Começou então a
vida de banqueiro deste economista que entrou no Banco de Portugal em
1991, depois de ter estado na Companhia Portuguesa de Celulose.
Quando regressou a Portugal, em 1994, Oliveira Costa assumiu a
presidência do Finibanco. Nessa altura já existia em Portugal o Banco
Português de Negócios, que tinha sido fundado em 1993 por diversos
empresários portugueses, entre os quais Américo Amorim. O rei da cortiça
sai do BPN em 1997 e, um ano depois, os acionistas vão buscar ao
Finibanco Oliveira Costa.
Começava aí a saga do homem que esteve dez anos à frente do BPN, de
onde saiu em 2008 praticamente para a cadeia. O governo de Sócrates
decretou em dezembro de 2008 a nacionalização do banco que ainda agora,
seis mil milhões de euros depois e da venda por 40 milhões aos angolanos
do BIC, continua a pesar anualmente nas contas públicas.
Oliveira Costa nunca esqueceu Cavaco e o cavaquismo. Por portas
travessas teve Dias Loureiro na sua administração e conseguiu que o seu
patrono investisse uma parte das suas poupanças no universo BPN. Cavaco
comprou 105 378 ações da Sociedade Portuguesa de Negócios, dona do BPN, a
um euro cada, e mais tarde, por ordem de Oliveira Costa, o banco
comprou-lhe esses títulos por 2,4 euros cada.
Agora, aos 77 anos, doente, vê o tribunal condená-lo. Mais um do poderoso universo cavaquista que dominou Portugal.
IN "SOL"
25/05/17
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