O futuro segundo a Google
O impacto da Google, com poucos paralelos na indústria, nunca pode ser subestimado
As filas para as bancas de merchandising no
Google I/O davam voltas sob o sol inclemente e quase surpreendente para
um dia de maio em Mountain View. As t-shirts eram tão caras quanto as
que se veem nos concertos e festivais, e o ambiente era o mesmo: uma
turba fervorosa, bonecos Android espalhados pelo recinto, gente vestida a
rigor para um evento informal de tecnologia. O impacto da Google, com
poucos paralelos na indústria, nunca pode ser subestimado.
Desta vez, as principais keynotes não tiveram o toque dos míticos
co-fundadores, Larry Page e Sergey Brin, que agora estão envolvidos de
forma mais holística na casa-mãe, Alphabet. O futuro segundo a Google
foi explicado pelo CEO Sundar Pichai e por alguns dos executivos mais
relevantes do momento, como o chefe de realidade virtual e aumentada
Clay Bavor.
A premissa é estonteante: há agora 2 mil
milhões de dispositivos Android no mundo. Uma base de utilizadores
superior à do Facebook, que torna a Google completamente dominante no
espaço móvel. Sim, a Apple está aí para as curvas, mas o iOS é um nicho
quando comparado com o Android. Esta dimensão permite à Google obter
dados sobre os utilizadores, comportamentos e padrões de utilização como
nenhuma outra. Gmail, YouTube, Pesquisa, Tradutor, Play, Mapas, Chrome,
Drive, Calendário, Fotos, a lista de serviços usados todos os dias por
milhões de pessoas é gigantesca. O que a Google está a fazer neste
momento é adicionar uma camada de inteligência artificial a todos as
aplicações, o que explica porque é que a IA e o assistente virtual
Google Assistant foram o centro deste evento anual em Mountain View.
Sete mil programadores, analistas e parceiros reuniram-se num espaço de
eventos ao ar livre mesmo ao lado do Googleplex, sede mundial da
empresa, para ouvir em primeira mão o que está reservado para o futuro. É
isto: inteligência artificial, aprendizagem de máquina, automação,
realidade virtual e realidade aumentada. A visão de um mundo em que os
objetos comunicam connosco proativamente está prestes a realizar-se.
Como também a transição de uma interação via teclado, rato e toque para
uma era em que comunicamos essencialmente com a voz. Diz-me isto, faz-me
aquilo, liga para aquela pessoa. A interação por linguagem natural,
como se estivéssemos mesmo a falar com um outro ser humano, será a maior
revolução na tecnologia de consumo durante os próximos anos.
É certo que ainda há muitos constrangimentos. Tentei ter uma conversa
com o Google Assistant e a coisa foi desastrosa, porque o assistente
ainda não tem a capacidade de follow-up que esperamos numa interação
bidirecional. Mas já é melhor que a Siri, e adivinha-se que vá evoluir
mais rapidamente que a rival, porque a Apple tem sido mais fechada ao
desenvolvimento de terceiros.
O outro avanço potencialmente revolucionário que a Google apresentou
neste I/O foi o Google Lens, que reflete as capacidades de inteligência
artificial aplicadas à imagem e ao vídeo. Não se sabe quando, mas ainda
em 2017 esta funcionalidade permitirá apontar a câmara do smartphone a
qualquer objeto e obter uma série de coisas a partir daí. O conteúdo
nutricional do menu de um restaurante que está fechado; que flor é esta
que encontrei a caminho de casa; a ligação automática à rede WiFi a
partir da imagem do router. Quando isto chegar ao Google Assistant, terá
implicações tremendas. Estes sistemas melhoram com a utilização,
aumentam as suas capacidades de forma exponencial. É uma questão de
tempo até termos um “Ambrósio” digital que nos explica o mundo e toma
conta das tarefas chatas por nós. Espero que não nos engane.
IN "DINHEIRO VIVO"
23/05/17
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