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IN "SOL"
29/01/17
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A falsa polémica dos Yazidis
Esta semana, surgiram notícias que davam conta de que Portugal teria pedido para receber refugiados da minoria yazidi. Tudo não passou de um equívoco, garantem autoridades.
São uma minoria religiosa e étnica. Uma comunidade do Médio Oriente
que não é nem cristã nem muçulmana, cujo credo é mais ancestral que
qualquer uma destas fés. Há séculos que vivem no Norte do Iraque. Foram
perseguidos, assassinados, escravizados. Mais: os yazidis foram vítimas
de genocídio às mãos do autoproclamado Estado Islâmico. Portugal vai
receber, nas próximas semanas, 30 refugiados yazidi. O programa de
acolhimento preparado pelo governo desencadeou esta semana uma polémica
internacional.
Em causa esteve uma alegada recusa da Grécia em responder ao pedido
de Portugal de receber especificamente esta minoria, notícia que foi
desmentida por todos os intervenientes. Mas alertou de novo para uma das
minorias mais negligenciadas do mundo.
A perseguição aos yazidis que começou ainda antes de 2014 e ainda
não terminou, levou no ano passado as Nações Unidas a reconhecer
oficialmente o genocídio deste povo.
Muitas mulheres e crianças foram violadas. Duas destas vítimas
sexuais, Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar, foram capturadas na sua
aldeia, Kocho, na zona de Sinjar, Norte do Iraque, em 2014. Conseguiram
escapar das malhas do Daesh.
Viveram, literalmente, para contar as atrocidades que sofreram e levar
ao mundo informação sobre o que estava a ser feito contra a sua
comunidade. «O objetivo deles era eliminar todos os yazidis porque, para
eles, nós somos hereges. Não havia homens bons entre eles», contou ao
Expresso Nadia, raptada aos 21 anos, numa entrevista publicada em maio.
Tornaram-se ativistas. Em dezembro, receberam em Estrasburgo o Prémio
Sakharov do Parlamento Europeu para a Liberdade de Pensamento. Nadia
também recebeu, em outubro, o Prémio de Direitos Humanos Vaclav Havel e
é agora embaixadora da Boa Vontade das Nações Unidas para a Dignidade
dos Sobreviventes do Tráfico de Seres Humanos.
A suposta polémica
Nadia e Lamiya são duas vozes que contam a história de uma população
altamente traumatizada e vulnerável, que Portugal alegadamente ‘pediu’
para receber no âmbito do programa de recolocação de refugiados. Foi
este alegado pedido que gerou controvérsia nos últimos dias.
Tudo começou com uma notícia da Associated Press (AP), difundida na
quarta-feira. À AP, o Ministro da Migrações, Ioannis Mouzalas, explicou
que «um Governo não pode discriminar tendo em conta a raça».
A notícia causou desconforto em Portugal, já que surgiu após o
ministro Eduardo Cabrita ter anunciado, no dia anterior, que o país
iria receber, nas próximas semanas, trinta refugiados desta minoria.
O ministro tinha sublinhado ainda que Portugal se disponibilizou para
receber «cerca de cinco mil refugiados», 400 dos quais pertencentes à
comunidade yazidi vindos de campos de refugiados da Grécia.
Aquilo que parecia uma boca grega aos planos portugueses acabou, porém, por se revelar um equívoco.
A Grécia fez questão de sublinhar que as declarações do seu Ministro das
Migrações não se dirigiam a Portugal. «A declaração foi generalista e
não fez referência a qualquer país em específico», garantiu o gabinete
do ministro grego à Renascença.
Também o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos
Silva, corroborou a ausência de escolha. « Portugal não dirigiu nenhum
pedido à Grécia para privilegiar, fosse a que título fosse, um conjunto
étnico dentro do contingente de refugiados que Portugal se
disponibilizou a acolher».
A posição do ministro foi secundada por Ana Gomes a partir de
Bruxelas. «Do lado de Portugal, nunca houve nenhum cherry picking, como
dizem, nenhum pedido concreto», garantiu na quinta-feira a eurodeputada
numa conferência de imprensa em Bruxelas, em que o SOL participou. «Quem
submete os nomes das pessoas são as autoridades gregas ou italianas
[dependendo da localização do campo de refugiados], mas também não são
elas que os escolhem», explicou.
«Sei de alguns países que pedem apenas cristãos ou famílias, mas este
não foi o caso», denunciou Ana Gomes, que garantiu que o único critério
válido no processo é o da «vulnerabilidade» das pessoas. «Os processos
destes 30 yazidis que estão para chegar foram submetidos pelas
autoridades gregas às autoridades portuguesas que as aceitaram (...)
Certamente os nomes destas pessoas foram escolhidos pela sua
vulnerabilidade, tem que se começar por algum lado», afirmou na mesma
conferência a eurodeputada, para quem a polémica não passou de uma
«tempestade num copo de água».
De acordo com Ana Gomes, Portugal já recebeu cerca de 1000
refugiados. Por dia, têm chegado ao aeroporto Humberto Delgado, longe do
imediatismo, cerca de 20 pessoas. Na Grécia, permanecem 2500 refugiados
yazidi que esperam que o seu nome entre, a conta gotas, no sistema.
IN "SOL"
29/01/17
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