Goldman, amigo,
a luta está contigo
Durão Barroso na Goldman Sachs e Garcia Pereira fora do MRPP. Os deuses devem estar loucos!
Cruzei-me,
nas redes sociais, com um post do MRPP, intitulado "Cavaco para a
rua!", que dizia, entre outras coisas, que "Vinte anos de Cavaco
significam vinte anos de corrupção, vinte anos de ladroagem, vinte anos
de gatunagem à solta nos grandes negócios do País. Os banqueiros e
outros grandes grupos de gatunos económico-financeiros controlam os
dinheiros dos partidos do arco da governação, quer dizer, do arco da
traição". Li, e não consegui deixar de pensar em Durão Barroso.
Era
fácil, esta associação de ideias. Afinal, Durão Barroso foi
subsecretário de Estado de Cavaco, secretário de Estado de Cavaco,
ministro de Cavaco, antes de ser líder do PSD, como Cavaco e primeiro
ministro, como Cavaco. Saiu do governo para ser presidente da Comissão
Europeia, de onde saiu, com dois mandatos cumpridos, fazendo juras de
amor à Europa. Menos de dois anos depois, surge, que nem uma bomba:
Durão Barroso vai ser presidente não executivo da Goldman Sachs – um dos
maiores bancos de investimento americanos, principal pilar da crise
financeira que, em 2008, se abateu pelo mundo inteiro e se instalou num
Portugal em bancarrota.
Está
um partido na luta durante tantos anos para isto...? A desilusão, a
indignação, o desprezo e demais sentimentos negativos em relação a Durão
Barroso já foram sobejamente desenvolvidos pela imprensa, nos últimos
meses. Do MRPP é que ninguém fala.
Durão
Barroso há muito que deixou de ser Abel ou o camarada Veiga, de dizer a
palavra luta de cinco em cinco segundos, de apelar ao "Fogo sobre a
renegada Maria José Morgado" (título de uma moção que apresentou depois
de a procuradora decidir abandonar o partido). Há muito que deixou os
confrontos, as escolas, as ruas que percorria, em nome da Federação dos
Estudantes Marxistas-Leninistas (que liderava) e do Movimento
Reorganizativo do Partido do Proletariado. Há muito que enveredou pela
social-democracia e se aliou aos Estados Unidos, à Inglaterra e à
Espanha para, na cimeira das Lajes, deitar abaixo o regime de Saddam
Hussein. Durão mudou e nunca mais voltou atrás, ao sítio onde, dos 18
aos 21, terá sido feliz.
O
MRPP, esse, fez um regresso ao passado. Arnaldo Matos, seu fundador e
mítico líder, regressou à liderança, depois de uma verdadeira processo
purga aos órgãos que, durante décadas, haviam dirigido o partido. Nas
últimas legislativas, o MRPP contnuava sem eleger deputados e, pior,
descera em números de votos. O resultado seria imputado, no jornal
oficial do partido, a Garcia Pereira: "Se o Partido não alcançou nenhum
dos objetivos políticos imediatos ao seu alcance, tal fica unicamente a
dever-se à incompetência, oportunismo e anticomunismo primário do
secretário-geral do Partido e dos quatro membros do Comité Permanente do
Comité Central, que tudo fizeram para sabotar a aplicação do
comunismo." Garcia Pereira seria suspenso de funções e, mais tarde,
deixaria o partido.
Mas
a guerra não ficaria por aí. No jornal Luta Popular, continuam a
aparecer referências ao seu nome, sempre acompanhadas de "subtis
gentilezas" entre as quais se contam "anticomunista primário",
"social-fascista", "golpista sem caráter”, “oportunista sem escrúpulos”,
“verme”, “canalha sem vergonha”, "réptil seboso" ou "lambe-botas de
Marcelo".
Quase um ano
depois, as gentes de Garcia Pereira continuam a apontar o dedo ao
camarada Arnaldo. Criaram um blog, a que chamaram "As mentiras do
Arnaldo". É um blog não sobre "o político, líder comunista, que as
pessoas se habituaram a reconhecer mas, pelo contrário, o ditador que,
atropelando a lei e os direitos dos trabalhadores, tomou de assalto um
partido e difamou e afastou liminarmente os até então eleitos membros
dirigentes".
Camaradas,
a luta continua! O Luta Popular (agora sob a batuta de Arnaldo Matos)
escrevia há um mês que, "como já sucedeu com Saldanha Sanches e Durão
Barroso, o mais conhecido fura-greves da Faculdade de Direito
[referindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa] recebe sempre de braços abertos
todos os trânsfugas e traidores do nosso Partido" e questiona-se:
"Garcia a caminho do PSD? Quem os viu e quem os vê…" Aqui, em Portugal,
ou lá longe, na Goldman Sachs.
IN "VISÃO"
25/10/16
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