A ameaça
À parte o já batido “ Somos…” que assume o nome do mais recente
ataque – Paris, Bruxelas, Orlando – o cidadão comum pergunta-se qual a
resposta efetiva dada até ao momento pelas Autoridades competentes.
Estou em crer que ela exista de forma discreta e que até seja eficaz.
Afinal por um ataque infelizmente bem sucedido outros dez são evitados.
O problema está na informação ou melhor, na falta dela, que acaba por
funcionar em efeito boomerang dando origem a sentimentos de insegurança
que, em última análise fazem aumentar o terror e concedendo-lhe, por
essa via, novas vitórias. Saber se o atirador de Orlando era ou não um “
lobo solitário” é irrelevante. Discutir se se tratou dum crime de ódio
homofóbico ou um acto terrorista, de pouco importa, e discuti-lo em
praça pública é contraproducente já que lhe concede os tão almejados 15
segundos de fama.
A arena privilegiada deste novo terrorismo são os media e as redes
sociais. Através deles disseminam-se ideias, recrutam-se novos
terroristas, espalham-se imagens e palavras, cujo único fim é incutir e
aumentar o terror. A partir de agora qualquer louco homicida se auto
proclamará emissário do estado islâmico. Concedeu-se-lhes um estatuto
mediático irresistível.
É bem sabido que a grande maioria dos agressores, sobretudo os que
protagonizam crimes de sangue, deseja o reconhecimento público, tanto ou
mais que alcançar o objectivo dos seus actos. O nome no jornal, o rosto
que passa de incógnito a vedeta por algum tempo, torna-se não raras
vezes na espoleta da granada.
Ora se aliado ao acto em si, ainda se lhe juntar o estatuto de
terrorista islâmico, o impacto é exponencial e de imediato aproveitado
por quem, mesmo que alheio a todo o acontecimento, não se inibe de o
reclamar, já que tal representa mais um degrau na escala do medo.
Nunca como agora os media e a informação, tiveram um papel tão importante quer na prevenção quer no combate a uma ameaça.
Perante este inimigo difuso, transversal e imponderável, que usa as
novas tecnologias da informação para alcançar os seus fins, qualquer
acção de combate tradicional é irrelevante e desadequado.
A guerra tem que ser travada no mesmo terreno: na informação!
E é aqui que todos em geral, e os jornalistas em particular, são
chamados a cerrar fileiras e a concentrar-se na comunicação de risco que
há que fazer.
Há que se cingir aos factos eles são neste último acontecimento, drasticamente simples: 50 mortos e 53 feridos num vulgar lugar de diversão, como existem milhares nas nossas cidades.
De pouco interessa o tipo de frequentadores, suas escolhas,
futebolísticas, sexuais, religiosas ou partidárias. Foram mortos 50
filhos de alguém, choram-se 50 vidas perdidas, temem-se por outras
tantas.
O que deveria importar era a forma perfeitamente simples, fácil, como se entra num local público e se massacra indiscriminadamente. Essa sim deveria ser a preocupação e a discussão pública, o objetivo da resposta.
Centrando-se o debate e a informação na problemática da lei das armas
nos Estados Unidos esvaziar-se-iam grande parte dos diferentes
discursos que nada acrescentam e que servem apenas de eco de terror e
focar-se-ia a questão onde ela tem que ser colocada: na legislação
adequada e na prevenção de atos semelhantes. Tudo o resto é terrorismo
doméstico levado a cabo pelas potenciais vítimas.
* Presidente do Sindicato dos Funcionários do SEF e professora universitária
IN "OJE"
16/06/16
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