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Lacuna regulamentar
ou a ditadura das
transmissões televisivas?
O campeonato nacional da mais importante competição desportiva do
futebol profissional em Portugal (LIGA NOS) está ao rubro, quando apenas
faltam duas jornadas para o seu fim.
Ditou a competência e qualidade desportiva demonstrada pelos eternos rivais de Lisboa ao longo da prova (SL Benfica SAD e Sporting Clube de Portugal SAD), que apenas um dos dois, obterá o mais importante e almejado troféu nacional de futebol profissional cá do burgo.
Ditou a competência e qualidade desportiva demonstrada pelos eternos rivais de Lisboa ao longo da prova (SL Benfica SAD e Sporting Clube de Portugal SAD), que apenas um dos dois, obterá o mais importante e almejado troféu nacional de futebol profissional cá do burgo.
É facto indesmentível e do mais simples senso comum que, as duas
próximas jornadas, serão decisivas sobre quem vai ser o próximo campeão
nacional, pelo que - não tenhamos dúvidas - esta incerteza de âmbito
desportivo aumentará o interesse nacional e internacional sobre a
competição, quer a nível do público em geral, quer a nível de potenciais
sponsors e agentes financeiros com capacidade de investimento no
futebol português.
As competições desportivas em geral, em especial no futebol – veja-se
o recente exemplo do Leicester na milionária Liga inglesa de futebol
profissional - necessitam de vencedores imprevistos ou de múltiplos
potenciais vencedores até à última jornada. É a emoção que faz o
Desporto e a vida terem uma magia inolvidável.
Competições desportivas com vencedores antecipados fazem perder
interesse público, provocando enormes quebras de audiências e de
receitas aos clubes numa fase crucial da época.
Assim, há medida que a nossa principal competição profissional de
futebol avança para o seu epílogo final, aliado ao número reduzido de
potenciais vencedores, os motivos de interesse sobre quem vai ser o
próximo campeão nacional de futebol profissional português aumenta, o
que não deixa de ser, um apanágio interessante numa competição pautada
pelo evidente desequilíbrio financeiro, desportivo e competitivo dos
seus participantes.
Todavia, o Comunicado Oficial nº 352 do passado 29 de Abril do
presente ano da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, determinou que
os próximos jogos de Sporting SAD e SL Benfica SAD, referentes à 33º
jornada do campeonato, sejam disputados por estas equipas, em dias e
horários distintos.
Assim, a Sporting SAD disputará o seu jogo com a Vitória FC SAD no
próximo dia 7 de maio (Sábado), pelas 20.45h, com honras de transmissão
televisiva pela Sporttv, enquanto que, a SL Benfica SAD disputará o seu
jogo no próximo dia 8 de Maio (Domingo) pelas 20.30h contra a Maritimo
SAD, também com transmissão televisiva assegurada pelo mesmo canal.
Dispõe o art. 44º nº5 al. k) do Regulamento de Competições da LPFP
que: “sem prejuízo de casos de força maior, os jogos correspondentes à última jornada de qualquer competição oficial a disputar por pontos devem ser realizados no mesmo dia e à mesma hora.”
Prevê o art. 44º nº6 do Regulamento de Competições da LPFP que: Excetua-se
do disposto na alínea k) do número anterior o caso dos jogos,
devidamente autorizados pela Liga, cujos resultados não tenham
interferência direta ou indireta na tabela classificativa, em matéria de
promoções e despromoções, de obtenção do primeiro lugar, de lugares de
posicionamento nas fases da Taça da Liga e de lugares de acesso às
competições da UEFA.
Acrescentando o nº 7 da mesma disposição que: “Relativamente
aos jogos a disputar na última jornada, a Liga, com vista a permitir a
transmissão televisiva direta de jogos, pode autorizar as alterações em
bloco de jogos que envolvam todos os clubes que disputem a obtenção de
um mesmo objetivo, desde que o resultado desses jogos não possa ter,
relativamente a terceiros clubes participantes na mesma competição,
qualquer influência nos aspetos classificativos relevantes discriminados
no número anterior, devendo esses jogos alterados ser realizados
simultaneamente.”
Face ao exposto, o referido comunicado oficial da LPFP, não viola as
mencionadas disposições regulamentares. No entanto, também não beneficia
a credibilidade e integralidade da competição desportiva em causa.
Lá diz o velho ditado: “À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta.”
Note-se e realce-se o agendamento dos restantes campeonatos europeus
de futebol (Alemanha, França e Holanda), e mais concretamente em
Espanha, onde os três grandes emblemas de “nuestros hermanos” (FC
Barcelona, Atlético de Madrid e Real Madrid) se encontram separados por
apenas um ponto a duas jornadas do fim, disputarão o título de futebol
profissional até ao último segundo.
As Ligas alemã, francesa e holandesa e mais uma vez, em particular a
espanhola - ao invés da nacional - para não prejudicarem ou beneficiarem
nenhuma equipa, mas sobretudo, por razões de transparência, defesa da
imagem e credulidade da competição, apesar da importante e incontornável
questão dos direitos de transmissão televisiva, determinaram que na
próxima jornada (a penúltima tal como em Portugal), todos os clubes
jogarão ao mesmo tempo e à mesma hora, não dando azo a qualquer tipo
comentário ou consideração indevida.
Ainda que atualmente se desconheça ou não esteja cientificamente
comprovado, que o facto de uma determinada equipa jogar antes ou depois
do rival direto, se traduza na obtenção de uma vantagem ou desvantagem
desportiva relevante para o desfecho final de uma competição e para a
sua classificação final, a verdade é que o agendamento de jogos
decisivos para a obtenção do título de campeão nacional na penúltima
jornada, em dias e horas completamente distintos, permite um conjunto
generalizado de especulações e desconfianças que bem poderiam ser
evitadas.
Da mesma maneira e sob o mesmo entendimento, tendo em conta os mesmos
valores ético-desportivos supra identificados, estará em causa, nos
jogos das equipas que pretendem assegurar um lugar numa competição
europeia da próxima época (SC Braga, Arouca, Paços de Ferreira, Rio Ave e
Estoril) bem como, nas equipas que ainda lutam pela permanência na Liga
NOS (Vitória de Setúbal, União da Madeira, Académica de Coimbra e
Tondela).
Tudo isto, já para não falar da ainda mais complexa e ultra
competitiva Ledman Liga Pro onde as dúvidas sobre as equipas que
ascenderão à Liga NOS e aquelas que poderão descer ao campeonato de
futebol não profissional ainda são bem maiores, em que se justificaria
ainda mais, que todos os clubes deveriam jogar ao mesmo tempo e à mesma
hora a partir da penúltima jornada.
É sabido por todos, da dependência das principais instituições
intervenientes do futebol nacional, relativamente às operadoras e aos
direitos de transmissão televisiva das SADs de futebol, e não tenhamos a
menor dúvida que este, foi um fator importante na elaboração e
aprovação das referidas normas do Regulamento de Competições da LPFP,
inexistindo qualquer lacuna regulamentar nesta matéria, mas sim, uma
infeliz derrogação da famigerada e tão propalada “verdade desportiva”.
A denominada “ditadura” dos direitos de transmissão televisiva das
competições de futebol, não é uma síndrome de característica nacional
exclusiva.
Todavia, a importância e os interesses económicos dos aludidos e
mencionados direitos de transmissão televisiva, jamais deverão ser
superiores aos interesses da integralidade das competições desportivas
em que se inserem.
Fica o alerta para quem de Direito.
Advogado na MGRA Soc. Advogados (lmc@mgra.pt) e Docente Direito do Desporto Universidade Lusíada de Lisboa
IN "SOL"
03/05/16
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