HOJE NO
"i"
MRPP.
O congresso que nunca existiu.
Ou existiu?
Depois das acusações que forçaram Garcia Pereira a sair, o MRPP debate agora um ‘congresso fantasma’
.
BOLORENTO |
Na internet, porém, o I Congresso Extraordinário do PCTP/MRPP é parte do sucesso da página de oposição interna. Com mais de 500 mil pageviews, no arranque, o site “As Mentiras do Arnaldo” – uma alusão ao líder histórico do partido, Arnaldo Matos –, denuncia que o congresso não aconteceu. Mas faz mais, brinca com as multidões que entupiram o trânsito em Lisboa, para entrarem no congresso. E regista ainda a ausência do MRPP nas comemorações deste 1.º de Maio.
Em contraste, a página oficial do MRPP, chamada Luta Popular (que é também o nome do ‘órgão central’ do partido) não escreveu uma linha até hoje sobre a realização ou não do congresso. Na terça-feira, o “Expresso online” noticiava que o Luta Popular negara prestar qualquer informação ao jornal. “Não lhe posso dar essa informação por telefone”, foi a resposta de um funcionário. O i tentou o mail e os telefones da sede (desligados), sem sucesso. Assim como o contacto por mail.
A ter-se realizado, dificilmente o conclave poderá ter cumprido os requisitos da lei dos partidos, sobretudo a ter sido um congresso eletivo. “O órgão de direção política é eleito democraticamente, com a participação direta ou indireta de todos os filiados”, estipula o art.º. 26 da lei. A votação por sufrágio universal e secreto (art.º 33), a elaboração e garantia de acesso aos cadernos eleitorais em prazo razoável (34.º) são outras regras que podiam ser ignoradas num congresso clandestino.
As mentiras do Arnaldo
Com o “Luta Popular” em silêncio sobre o congresso (o último post é sobre o apoio do MRPP à luta dos taxistas contra a Uber), o blogue “As Mentiras do Arnaldo”, opta por não dar descanso à linha oficial do partido.
“Este Blogue é dedicado a Arnaldo Matias de Matos. Não o político, líder comunista, que as pessoas se habituaram a reconhecer mas, pelo contrário, o ditador que, atropelando a lei e os direitos dos trabalhadores, tomou de assalto um partido e difamou e afastou liminarmente os até então eleitos membros dirigentes”, anuncia o texto editorial.
“Desde o dia 4 de Outubro de 2015 que se tornou evidente que o PCTP/MRPP se tornou uma coutada de um ditador que mais não faz do que apregoar o oposto do que pratica”, prossegue o texto do site.
Num dos posts, uma foto sugere o internamento por demência do secretário-geral. Uma frase na imagem (ver foto em cima) parafraseia o famoso slogan nos murais do MRPP durante o período revolucionário (“O povo libertará o camarada Arnaldo Matos)”.
Uma questão de dinheiro
As convulsões no MRPP começaram em Outubro, logo a seguir às legislativas, com acusações públicas a Garcia Pereira.
O cabeça-de-lista nas legislativas falhou o objetivo eleitoral, eleger deputados, apesar de o partido ter obtido 59 mil votos que lhe garantiram o pagamento de uma subvenção anual de 189 mil euros. A perda de 3 mil votos em relação a 2011 valeu a Garcia Pereira a acusação de “incompetência, oportunismo e anticomunismo primário”. Garcia Pereira demitiu-se evitando a expulsão provável.
O MRPP continua sem representação parlamentar mas os subsídios públicos, por ter tido mais de 50 mil votos, podem somar em oito anos 1,5 milhões de euros. 800 mil euros entraram já nos cofres do partido na última legislatura e nesta podem entrar 750 mil euros, caso não haja eleições antecipadas.
A utilização dos dinheiros que enriqueceram o partido desde 2011 alimentou acusações de parte a parte.
“Um tipo que tem uma secretária, paga pelo partido, a recibos verdes no seu escritório. Um tipo que quer um motorista e um ordenado. E ousa comparar o meu pai ao Belmiro de Azevedo. Queres falar dos almocinhos no Gambrinus, Arnaldo? Grande educador, Arnaldo. Grande protetor da classe operária”, escreveu Rita Garcia Pereira, reagindo na sua página do Facebook aos ataques ao pai.
A escalada verbal nesta fase incluiu insultos em calão a Arnaldo Matos por parte de uma ex-funcionária acusada de ilegalidades e o slogan “morte aos traidores!”, dirigido à “linha capitulacionista” de Garcia Pereira.
* Garcia Pereira goste-se ou não foi o único político que em directo na televisão mandou calar José Eduardo Moniz, e calou-se! Garcia Pereira, goste-se ou não, dada a sua craveira profissional e inteligência conferia dignidade a um cadáver adiado de nome MRPP, Arnaldo Matos, depois de anos em câmara ardente, ressuscitou putrefacto.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário