HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
"John Doe"
divulgou os Papéis do Panamá.
Agora quebra o silêncio e explica porquê
Num longo
manifesto enviado ao jornal alemão com que fez o primeiro contacto, a
fonte da fuga de informação explica os seus motivos
.
.
A
primeira mensagem era apelativa, mas vaga. "Olá, querem informação?"
Foi assim que o autointitulado John Doe - nome frequentemente usado
pelos anglófonos para falar de uma pessoa não identificada - se dirigiu
ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung. Na sua posse tinha os
milhões de documentos que viriam a ser partilhados e analisados pelo
Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, e cuja
reportagem resultaria no escândalo mundial dos Papéis do Panamá, ou
Panama Papers.
Mas a fonte dos
documentos nunca se identificou, e é só agora, um mês após as primeiras
revelações que puseram chefes de Estado em cheque e geraram discussão
mundial sobre a legalidade e moralidade dos paraísos fiscais, que John
Doe explica porque escolheu divulgar os documentos.
Num documento novamente enviado ao Süddeutsche Zeitung,
e optando por manter ainda a sua identidade secreta, John Doe afirma
não ter nenhuma ligação profissional a governos nem às secretas de
nenhum país. "O meu ponto de vista é apenas meu", escreve, louvando o
"novo e encorajador debate global" acerca da legalidade dos offshores e
das empresas de fachada, e acerca daquilo que se pode, secretamente,
fazer usando esses meios. "Aquilo que é legal é escandaloso", escreve.
"E tem de mudar".
John Doe afirma que
decidiu divulgar os documentos devido à "escala das injustiças" que
estes revelavam, acrescentando: "A desigualdade de rendimentos é um dos
assuntos que definirá os nossos tempos". A fonte diz ainda estar
disposta a colaborar com investigações criminais "dentro dos possíveis".
Os documentos divulgados por John Doe
tinham como origem uma fuga de informação da firma de advogados Mossack
Fonseca, que ajudava os seus clientes a criar empresas aparentemente de
fachada em paraísos fiscais. Mas a fonte da fuga de informação sublinha:
a Mossack Fonseca "não existia num vácuo. Apesar de inúmeras multas e
violações das regulamentações que estão documentadas, continuava a
encontrar aliados e clientes em firmas de advogados de grande dimensão
em quase todo o mundo".
O jornal britânico The Guardian sublinha que a carta escrita por John Doe ao Süddeutsche Zeitung
termina com "uma nota otimista". Numa época em que o armazenamento
digital é ilimitado e as ligações Internet transcendem as fronteiras
nacionais, "a próxima revolução vai ser digital. Ou talvez já tenha
começado".
* A contra-revolução (reacção) digital é mais poderosa que a revolução, porque tem o mundo da finança a apoiá-la.
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