Olha, foi-se embora
1. Pai? Sim? O que é melhor que um joguinho? Bom, melhor que um joguinho só se forem dois.
Pai? Sim? E melhor que uma guerrinha? Só se forem duas.
2.
O desporto ficou relativa e governamentalmente órfão por algumas horas.
E a agenda nacional para o desporto? O plano estratégico para uma
década ou, para quatro anos, quiçá para as férias de Verão? O Congresso?
Meu Deus! Pânico. Que fazer?
3. O Secretário de Estado demitiu-se
com alguma sonoridade invocando desacordo político com o Ministro. Os
telefonemas sucederam-se, os homens da comunicação iniciaram trabalho
duro e permanente. Outras razões podem ter havido. Em bom rigor não nos
interessa saber.
O que resulta deste espectáculo, se quisermos dar
conteúdo útil ao bilhete que pagamos, vai bem para além das pessoas em
questão.
4. Em primeiro lugar, que fique bem claro para aqueles
que tenham dúvidas, o responsável governamental pela área do desporto é,
sempre o foi e será, o Ministro. Um secretário de Estado exerce as suas
competências por delegação.
Em segundo lugar, fica patente a
fragilidade do agir político e das convicções sobre política pública,
neste caso sobre o desporto. As coisas passam-se, desta forma.
Escrevem-se umas palavras ocas mas bonitas no programa eleitoral.
Depois, se se ganhar as eleições legislativas, transformam-se tais
palavras, em mais palavras ocas e bonitas, no Programa do Governo.
5.
Aqui chegados, todos os operadores desportivos começam em ânsias para
saber quem ”vem aí” e onde “ficará” o desporto na grande ceia dos
Ministérios. Tendo alcançado as palavras vazias, o partido (ou partidos)
parte em busca de nomes para os cargos, sem preocupação de alcançar
conhecimento. E os titulares de cargos governamentais não são
inteiramente escolhidos numa lógica harmoniosa de conhecimento prévio do
pensar político (desde logo, porque muitas vezes nem sequer o têm), em
que o Ministro sabe o que sabe o secretário de Estado e vice-versa. Diz o
Primeiro-ministro: “Caro Ministro, tenho aqui uma pessoa impecável para
secretário de Estado. O que me diz? “Senhor Primeiro Ministro, por quem
sois.” Tudo sem conhecer as pessoas, sua maneira de estar na vida e o
seu pensar político.
6. Pronto. Agora estamos juntos aqui nos
gabinetes da 5 de Outubro. Vamos finalmente aparentar uma política
desportiva. Bora lá! Viva o Governo!
Ui. Primeiro problema. Ui.
Segundo problema. Ui. Uma série de problemas. Mas então quem é o, como
dizia o humorista, “presidente da Junta”?
7. Venha outro. O que se
foi embora, contudo, fez obra: temos a nomeação do Grupo de Trabalho
Desporto-Educação, com a missão de avaliar as condições prévias e propor
uma estratégia integrada para o desenvolvimento da actividade física e
do desporto no quadro das políticas da Educação e do Desporto. Como
resultado do trabalho efectuado, será apresentado um primeiro relatório.
Após a análise e, eventuais melhorias, do primeiro relatório, será
apresentado um estudo, contendo o conjunto de medidas abrangidas na
missão do Grupo de Trabalho. O despacho que constitui (?) o grupo de
trabalho produz efeitos a partir de 1 de Abril (uma mentira com efeitos
retroactivos?).Um primeiro relatório, depois análise e depois ainda um
estudo. Tudo sem prazos. Temos tempo na agenda nacional para o desporto.
E
temos ainda novos membros do inesgotável Conselho Nacional do Desporto,
todas pessoas de reconhecido mérito desportivo. Será mesmo assim? Temos
sérias dúvidas.
8. E como vão ser os próximos 60 dias, Senhor
novel secretário de Estado? Bom, vou em inteirar-me dos dossiers,
receber o presidente do Comité Olímpico de Portugal e algumas federações
desportivas, muito cuidado em exonerar e nomear membros do meu gabinete
e, lá para a frente, pode ser que já saiba responder às vossas
questões. A minha ideia sobre o desporto para este infeliz País?
Confesso que ainda não tenho certezas. Nada que alguns grupos de
trabalho e peritos (?) e muitos telefonemas não possam suplantar.
IN "PÚBLICO"
17/04/16
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