HOJE NO
"OBSERVADOR"
Os negócios por trás da detenção
de Manuel Damásio
Alegada colaboração em operações de branqueamento de mais de 7 milhões imputadas a José Veiga e tentativa de influenciar venda de banco cabo-verdiano estão na origem da detenção do ex-líder do Benfica
A Operação Rota do Atlântico entrou esta quinta-feira numa nova fase
com a detenção do empresário Manuel Damásio, mas novas diligências e
arguidos deverão ser conhecidos em breve no caso que tem José Veiga como
principal arguido.
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Tal como a Polícia Judiciária confirmou em
comunicado, ao início da tarde o ex-presidente do Benfica foi detido por
suspeitas de branqueamento de capitais e de tráfico de influências.
Os indícios do primeiro crime, ao que o Observador apurou,
envolvem outro ex-presidente de um clube de futebol: Luís Godinho Lopes,
ex-presidente do Sporting.
De forma sucinta, estão relacionados
com a aquisição de ações da empresa do Hotel Intercontinental, no
Estoril, e com a compra de apartamentos no empreendimento imobiliário
Atlântico Estoril Residence onde também está situada aquela unidade
hoteleira.
A procuradora Susana Figueiredo, responsável
pela investigação deste caso, entende que Manuel Damásio foi um
importante parceiro de negócios de José Veiga e que aquelas aquisições
visaram apenas branquear capitais da República do Congo, com origem
ilícita.
Comecemos pela aquisição das ações do Hotel
Intercontinental. Aberto no verão do ano passado, depois de um
investimento de 15 milhões de euros, a unidade é explorada pela
sociedade Margem Encantada. Esta empresa tem Manuel Damásio como
administrador e como presidente Luís Filipe Resnikoff. Damásio tem uma
suite neste hotel, que utiliza como escritório, e foi aqui que foi alvo
das primeiras buscas no início de fevereiro.
Depois de uma viagem a
Genebra, em setembro de 2015, na companhia de Manuel Damásio e de
Resnikoff, Veiga entrou no capital social da Margem Encantada através da
sua sociedade Hofelle Limited — uma offshore do Chipre que tem José
Veiga como beneficiário económico — e emprestou cerca de 2 milhões de
euros à sociedade. O MP entende que quer o dinheiro utilizado para a
aquisição de mais de 20 mil ações da Margem Encantada, quer os
suprimentos que foram efetuados também em setembro de 2015, são
provenientes de atividades alegadamente ilícitas de José Veiga no Congo
Brazzaville. Daí a imputação de branqueamento de capitais que é feita a
Damásio — e a Veiga.
Através do acordo parassocial, assinado entre
José Veiga e os sócios da Margem Encantada, ficou igualmente
estabelecido que Luís Godinho Lopes, ex-presidente do Sporting Clube de
Portugal, entraria para a administração da sociedade. Dani Veiga, filho
de José Veiga, entrou igualmente como vogal da administração, na mesma
altura.
Godinho Lopes tinha sido igualmente nomeado, em novembro
de 2012, administrador da Ónus Imobiliário — uma empresa de Manuel
Damásio, que também é sócia da Margem Encantada.
E é precisamente a
Ónus que aparece ligada a uma segunda situação relacionada com os
indícios de branqueamento de capitais imputados a Damásio e a Veiga: a
venda de dois apartamentos por 6,9 milhões de euros a duas sociedades
controladas por José Veiga.
Os apartamentos situam-se no complexo Atlântico Estoril
Residence, que além de albergar o Hotel Intercontinental também tem uma
área residencial. Foi aqui que José Veiga adquiriu dois imóveis:
- O apartamento 801 — A Ónus vendeu-o por cerca de 3,4 milhões de euros, em fevereiro de 2015, à offshore DOS – Deep Ocean Services. Além de controlada por José Veiga, tem conta no Banco Internacional de Cabo Verde, tal como o Observador já noticiou;
- O apartamento 805 — Rendeu à Ónus cerca de 3,5 milhões de euros pagos por uma sociedade chamada Índice Vencedor, que também pertence a Veiga. Os fundos que financiaram esta compra vieram de uma conta do Banco Internacional de Cabo Verde em nome de uma offshore chamada Felamina — que também pertence a Veiga.
O pedido de ajuda a Miguel Relvas
Já o crime de tráfico de influências está relacionado com o processo de
venda do Banco Internacional de Cabo Verde (BICV) por parte do Novo
Banco. Manuel Damásio é suspeito de, em conluio com José Veiga, ter
tentado influenciar a decisão da administração de Stock da Cunha sobre a
venda do ex-BES de Cabo Verde. Neste ponto, Damásio terá tentado obter a
ajuda do ex-ministro Miguel Relvas, tal como o Correio da Manhã já
noticiou.
As noticias levaram Miguel Relvas a escrever uma carta à
Procuradoria-Geral da República para tentar confirmar se é suspeito na
Operação da Rota do Atlântico.
Para o MP não restam dúvidas de que
Veiga queria adquirir o BICV para apoiar os investimentos que tem em
África mas, acima de tudo, para operacionalizar alegadas operações de
branqueamento de capitais.
É certo que, entre as cerca de 20
sociedades que manifestaram interesse em adquirir o BICV, apenas a
Norwich de José Veiga apresentou uma proposta vinculativa, sendo
igualmente garantido que a compra do banco cabo-verdiano por Veiga já
não irá concretizar-se devido ao chumbo do Banco de Portugal e do Banco
Central de Cabo Verde — mas tudo isso é irrelevante do ponto de vista
criminal.
O Ministério Público entende que existem fortes indícios de
que Manuel Damásio, juntamente com José Veiga, terá tentado influenciar
ilicitamente a venda do BICV — e só a tentativa basta para a consumação
do crime.
O ex-presidente do Benfica vai ser levado à presença de
um juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal para o primeiro
interrogatório como arguido, de forma a saber os indícios criminais que
lhe são imputados pelo Ministério Público e conhecer as medidas de
coação que serão definidas pelo Tribunal.
* Diziam as más línguas que este senhor teve no idos de 80, atestado de pobreza exarado por uma junta de freguesia do concelho de Cascais, deve ser boatagem.
O Benfica está com azar, dois presidentes na pildra.
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