11/01/2016

SARAGOÇA DA MATTA

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Os valores de Natal

Como chegar aos valores que o Natal representa? Crescendo. Coletivamente. Com injeções de educação e civilização quotidianamente aplicadas

Quando meninos, pensamos o Natal como o momento das prendas. Da festa. Dos doces. Dos tios, primos e avós. E ainda alguns amigos. Depois da desilusão da inexistência do Pai Natal, fica-nos a parte do consumismo. Confessemos: o Natal passa a ser o momento em que se espera receber aquele presente especial. Mas nada mais. Sem rodeios: as preocupações sociais, filosóficas, religiosas e humanitárias não chegam com a descoberta de que não há velhote barrigudo, trajado de vermelho e ornado de grandes barbas brancas.

É preciso crescer, o que não significa ser “muito mais velho”, para que o Natal seja irrelevante, substancialmente, no que respeita à “prenda” que se deseja. Para que o “presente” seja o menos importante. É preciso crescer bastante para sentir intimamente que o que importa é tão-só e apenas o que se dá! E esse crescer pode acontecer aos 20 ou aos 50 anos. Ou nunca chegar. Por isso há crianças eternas. E também há quem não consiga sê-lo desde cedo.

Para aqueles que já cresceram o suficiente para olharem o Natal como um dia igual a todos os demais, com a peculiaridade de darem consigo a pensar como é trágica a existência da maioria da humanidade, o Natal acaba por não poder ser um momento de júbilo. Quando muito de desejo, de meditação, de devoção espiritual - seja a que Deus for. Não tem porque ser triste. Mas não é, seguramente, um momento alegre.

Crentes ou não crentes, estaremos todos de acordo: a razão humana não é causa eficiente, nem suficiente, nem necessária, nem apta a garantir-nos os valores corporizados na ideia de Natal.
A razão humana não permite alcançar a paz entre os povos. Não acaba com a fome no mundo. Não garante o desarmamento. Não traz água potável a todos os que dela carecem. Nem cuidados médicos. A razão humana, de inconsistente que é, nem sequer permite o fim dos conflitos domésticos, o conseguir suportar os colegas de trabalho, o evitar a prática dos comezinhos ilícitos diários.

Aliás, nem sequer permite a sociedades semiorganizadas, como a nossa, perceber regras tão básicas como: “se conduzir, não beba”; “os peões têm de usar as passadeiras”; “nas passadeiras, os peões têm prioridade”; “não se estaciona nos passeios”; “não se furta”; “o pai não bate na mãe”; “não se pode maltratar o avô por ser velho”; “não se abandona ninguém à sua má sorte”; “não se mata, nem fere nem ofende ninguém”.

Ou seja, a razão humana não serve sequer para que todos façamos aquilo que é lógico, razoável e justo fazer. Assim, o Natal é a época em que morremos que nem tordos nas estradas, mercê dos bêbados que teimam em conduzir; a época em que as cidades são uma selvajaria de trânsito e estacionamento; a época forte para os divórcios (obrigados a conviver sem podermos fugir, estala o conflito); uma época trágica de crimes contra as pessoas e de furtos e roubos.

Então como chegar lá? Como chegar aos valores que o Natal representa? Crescendo. Coletivamente. 

Com injeções de educação e civilização quotidianamente aplicadas. Em vez dos centos de horas de futebol e de politiquices rascas e ineficientes que seguramente são as responsáveis por tudo isto que hoje somos e que nos não deixa viver o verdadeiro espírito do Natal. Para isso, antes de mais, havia que educar “os media”. E aqui lembro-me de Panoramix, o velho druida d’Astérix, o Gaulês.
Sendo hoje o dia que é… talvez valha a pena pensar nisto!

IN "i"
08/01/16

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