Os valores de Natal
Como chegar aos valores que o
Natal representa? Crescendo. Coletivamente. Com injeções de educação e
civilização quotidianamente aplicadas
Quando meninos, pensamos o Natal como o momento das prendas. Da festa. Dos doces. Dos tios, primos e avós. E ainda alguns amigos. Depois da desilusão da inexistência do Pai Natal, fica-nos a parte do consumismo. Confessemos: o Natal passa a ser o momento em que se espera receber aquele presente especial. Mas nada mais. Sem rodeios: as preocupações sociais, filosóficas, religiosas e humanitárias não chegam com a descoberta de que não há velhote barrigudo, trajado de vermelho e ornado de grandes barbas brancas.
É preciso crescer, o que não significa ser “muito mais velho”, para
que o Natal seja irrelevante, substancialmente, no que respeita à
“prenda” que se deseja. Para que o “presente” seja o menos importante. É
preciso crescer bastante para sentir intimamente que o que importa é
tão-só e apenas o que se dá! E esse crescer pode acontecer aos 20 ou aos
50 anos. Ou nunca chegar. Por isso há crianças eternas. E também há
quem não consiga sê-lo desde cedo.
Para aqueles que já cresceram o suficiente para olharem o Natal como
um dia igual a todos os demais, com a peculiaridade de darem consigo a
pensar como é trágica a existência da maioria da humanidade, o Natal
acaba por não poder ser um momento de júbilo. Quando muito de desejo, de
meditação, de devoção espiritual - seja a que Deus for. Não tem porque
ser triste. Mas não é, seguramente, um momento alegre.
Crentes ou não crentes, estaremos todos de acordo: a razão humana não
é causa eficiente, nem suficiente, nem necessária, nem apta a
garantir-nos os valores corporizados na ideia de Natal.
A razão humana não permite alcançar a paz entre os povos. Não acaba
com a fome no mundo. Não garante o desarmamento. Não traz água potável a
todos os que dela carecem. Nem cuidados médicos. A razão humana, de
inconsistente que é, nem sequer permite o fim dos conflitos domésticos, o
conseguir suportar os colegas de trabalho, o evitar a prática dos
comezinhos ilícitos diários.
Aliás, nem sequer permite a sociedades semiorganizadas, como a nossa,
perceber regras tão básicas como: “se conduzir, não beba”; “os peões
têm de usar as passadeiras”; “nas passadeiras, os peões têm prioridade”;
“não se estaciona nos passeios”; “não se furta”; “o pai não bate na
mãe”; “não se pode maltratar o avô por ser velho”; “não se abandona
ninguém à sua má sorte”; “não se mata, nem fere nem ofende ninguém”.
Ou seja, a razão humana não serve sequer para que todos façamos
aquilo que é lógico, razoável e justo fazer. Assim, o Natal é a época em
que morremos que nem tordos nas estradas, mercê dos bêbados que teimam
em conduzir; a época em que as cidades são uma selvajaria de trânsito e
estacionamento; a época forte para os divórcios (obrigados a conviver
sem podermos fugir, estala o conflito); uma época trágica de crimes
contra as pessoas e de furtos e roubos.
Então como chegar lá? Como chegar aos valores que o Natal representa?
Crescendo. Coletivamente.
Com injeções de educação e civilização
quotidianamente aplicadas. Em vez dos centos de horas de futebol e de
politiquices rascas e ineficientes que seguramente são as responsáveis
por tudo isto que hoje somos e que nos não deixa viver o verdadeiro
espírito do Natal. Para isso, antes de mais, havia que educar “os
media”. E aqui lembro-me de Panoramix, o velho druida d’Astérix, o
Gaulês.
Sendo hoje o dia que é… talvez valha a pena pensar nisto!
IN "i"
08/01/16
.
Sem comentários:
Enviar um comentário