HOJE NO
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Despesa.
Troika cortou na saúde
o que injetou no Banif
Gastos do Serviço Nacional de Saúde diminuíram
15% durante o programa de assistência, com um corte de 1,5 mil milhões
de euros. Não há consenso sobre os efeitos das restrições na prestação
serviços. Observatório da Saúde alerta para incapacidade de resposta nos
picos de procura
.
Os anos do
programa de assistência financeira trouxeram restrições pesadas aos
orçamentos dos hospitais, que ainda não foram revertidas. A despesa
anual do Serviço Nacional de Saúde foi reduzida em 15%, com cortes
totais de 1,5 mil milhões de euros – mais do que foi injetado no Banif
em 2013, quando o banco recebeu ajudas de 1,1 mil milhões de euros
financiadas pela linha da troika para a recapitalização da banca.
No último relatório que fez sobre o programa português, o Fundo
Monetário Internacional avaliou as mudanças no sistema de saúde desde
2011.
No relatório, os técnicos de Washington salientam as “poupanças
significativas” alcançadas. Através da melhoria da “eficiência” e da
redução dos “desperdícios”, a despesa do SNS encolheu 15% entre 2010 e
2013. O FMI indica que a “maioria” das categorias da despesa da saúde
diminuíram.
Os dados posteriores consultados pelo i mostram que a despesa está
hoje ao mesmo nível dos cálculos do FMI. A Conta Geral do Estado de 2014
mostra os encargos do SNS foram reduzidos em 2%. No orçamento para
2015, houve uma subida de gastos de 2%, mantendo-se assim o anterior
nível de despesa. O SNS custa hoje 7.874 milhões de euros, segundo o
OE2015.
Contenção.
O período do programa da troika foi farto
em medidas no setor da saúde. As alterações começam logo no Orçamento
para 2012, quando o ex-ministro Paulo Macedo diz ao que vem:
“internalização de cuidados de saúde e de meios de diagnóstico
realizados no exterior”, “racionalização de recursos e controlo da
despesa”, “redução de custos operacionais” – medidas de contenção a que
somaram duras negociações com as farmacêuticas, para redução do preços
de medicamentos. Mais tarde, viriam cortes nas horas extraordinárias dos
médicos, aumentos das taxas moderadoras e outras medidas que deixaram o
ministro sob forte contestação.
Ainda hoje não há consenso sobre o impacto operacional das medidas de
austeridade. O FMI gantia que “a qualidade do cuidados de saúde foi
preservado”, mas é comum haver vozes contrárias.
Na conferência de imprensa onde pediu a demissão depois da morte no
São José, o presidente da Administração Regional de Saúde invocou as
restrições orçamentais. “Nos últimos anos, por cortes que tivemos na
área da saúde, estes hospitais não tiveram possibilidade de ter recursos
humanos para dar respostas a situações de doentes como este”, afirmou.
Observatório alerta
Antes, o Observatório Português
dos Sistemas de Saúde tinha feito alertas sobre o funcionamento dos
hospitais públicos e as insuficiências da rede pública. No relatório de
Primavera de 2015, a análise aos cuidados de saúde constatou que “em
termos de recursos humanos em saúde persiste um rácio de médicos por
habitante adequado, mas inadequadamente distribuído pelo território com
clara vantagem para as regiões urbanas.” Por outro lado, “o número de
enfermeiros está claramente abaixo da média da OCDE”.
Especificamente sobre o acesso aos serviços de urgência, o
Observatório alertou para os riscos dos “fenómenos sazonais, associados
às previsíveis vagas de calor e picos de gripe”, em que há um “aparente
excesso de procura e/ou incapacidade de resposta dos serviços”.
E, com a emigração da população, o organismo apontava ainda para a
alteração do paradigma epidemiológico e demográfico do país, que fazia
com que o perfil dos serviços de tivessem “características inadequadas”.
O Observatório recomendava assim a revisão do modelo de contratação e
de gestão dos recursos humanos nos serviços de urgências, além da
previsão antecipada dos recursos materiais e humanos nos períodos de
maior afluência aos serviços de urgência.
* Na saúde e na educação não se pode poupar, não poupar não é esbanjar.
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