Dias de reflexão
1A Igreja tem, por estes dias, uma rara
oportunidade para dar um sinal de abertura ao Mundo. E espera-se que da
reflexão das 400 pessoas presentes no Sínodo dos Bispos, que decorrerá
no Vaticano até 25 de outubro, emane a coragem para quebrar um ciclo
vicioso que afasta a família do seio da fé em vez de a aproximar.
Verdadeiramente,
as conclusões sobre "A vocação e a missão da família na Igreja e no
Mundo contemporâneo" só terão impacto social se responderem a uma
simples pergunta: como é que os bispos vão conciliar a prescrita
indissolubilidade do matrimónio com os divorciados recasados?
Simplificando
os processos de nulidade, o Papa Francisco já obrigou os padres
sinodais a concentrarem-se nesta questão. Resta perceber o que também
eles, e são muitos, defenderão no Sínodo. Porque não ser sensível ao
sentimento de marginalização sentido pelos fiéis recasados só por não
poderem comungar é não entender os dias de hoje.
Há ainda o tema sensível do acolhimento dos homossexuais. Que os bispos não resolvem fazendo de conta que não existe.
2Os
portugueses compreenderão que, em dias agitados como este, Cavaco Silva
se recolha a um momento de simplicidade no dia em que se comemora a
instauração da República. Compreenderão menos que não faça nada,
sobretudo vindo de um institucionalista como ele. Por três ordens de
razão:
- A reflexão que se impõe não impede uma forma alternativa
de assinalar a data e de fazer uma breve aparição, que em nada o
desviaria das soluções para o futuro do país. Basta olhar para o passado
e para as suas próprias opções: em 2009, por as comemorações se
realizarem em vésperas de eleições autárquicas, optou por não se
deslocar à Câmara de Lisboa, mas abriu ao público os jardins do Palácio
de Belém, onde proferiu uma curta intervenção.
- Foi Cavaco Silva a
marcar as eleições e o calendário não mudou desde então. Quando
escolheu o dia 4 de outubro, sabia que o dia seguinte seria 5.
- A
questão de fundo é sobretudo política. Soube-se que o presidente da
República iria estar ausente das comemorações um dia apenas depois de
ter dito que sabia "muito bem aquilo que irá fazer" no pós-eleições.
Foi, de resto, mais longe e garantiu ser "totalmente insensível a
quaisquer pressões".
Ora, se é tão claro na sua cabeça o que se segue ao
4 de outubro, que concentração tão necessária é essa que não permite
sequer uma aparição de dez minutos, que permita dignificar uma data que
perdeu já suficiente dignidade com a eliminação do feriado?
03/10/15
.
Sem comentários:
Enviar um comentário