05/10/2015

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HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"

ANÁLISE "DECO"
Matérias-primas ao fundo

O valor das matérias-primas está em queda. Além dos receios sobre o maior abrandamento da China, as condições que tinham suportado a forte subida também preocupam os investidores e penalizam as cotações.
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Emergentes dececionam
Até há alguns anos, o argumento a favor do investimento nas matérias-primas era simples. O forte crescimento dos países emergentes seria acompanhado por uma atualização das suas infraestrutura e a melhoria do poder de compra das respetivas populações, o que resultaria no aumento da procura de recursos naturais. E como esses recursos não são infinitos, os preços só poderiam subir. 


Um cenário que se autossustentou graças à proliferação de produtos de investimento que permitiam apostar nas matérias-primas. No entanto, a realidade mostrou-se mais complexa: poucos países emergentes foram capazes de seguir o exemplo chinês. As reformas, a modernização e o fortalecimento de uma classe média foram dececionantes Ao mesmo tempo, o mundo industrializado saiu mais enfraquecido da última crise económica e financeira, com o potencial de crescimento a longo prazo mais baixo.

Consumo chinês abranda
Agora é a própria China que fica aquém do esperado. Nas últimas décadas, graças ao elevado ritmo de crescimento, tornou-se o maior consumidor de muitas matérias-primas, incluindo metade de todo o carvão no planeta. Para o minério de ferro, cobre, alumínio, níquel, zinco, chumbo, só a China responde por mais de 40 % do consumo mundial e no petróleo representa 15 %. A conclusão é inevitável: o impacto de uma crise na China seria imenso. Não é esse o cenário atual, porque a procura chinesa não recuou. Contudo, apenas a simples desaceleração teve um grande impacto. E com um crescimento a longo prazo de 3,5 %, as perspetivas são pouco favoráveis para as matérias-primas.

Economias atingidas
Naturalmente, as quedas de preços atingiram os exportadores de matérias-primas. Entre os países desenvolvidos, a Austrália e o Canadá têm visto as suas moedas depreciar em relação ao euro. No entanto, algumas quedas parecem-nos excessivas. Os mercados de Sidney e Toronto perderam muito terreno, apesar de estas duas economias permanecerem muito competitivas, com grandes mercados internos e finanças públicas sólidas ratingAAA). Mas foi no mundo emergente que a queda das cotações dos recursos naturais causou mais danos, nomeadamente no Brasil e na Rússia. Além de serem grandes exportadores de matérias-primas, têm os seus próprios problemas internos que minam a confiança dos investidores. Ambos estão em recessão e as moedas caíram mais 30 % face ao euro. Quanto ao Brasil, apesar do risco, o potencial mantém-se interessante. Já a Rússia, devido às tensas relações com o Ocidente, é demasiado arriscada. 

Cotações em queda
Confrontados com esta dura realidade, os preços ajustam-se em forte baixa (ver figura). No petróleo, também marcado pela explosão da oferta, o Brent caiu cerca de 50 % num ano, enquanto o gás natural perdeu 30 %. Nos metais de base, o minério de ferro perdeu mais de 70 % desde o pico de 2013, o níquel recuou quase metade, e o cobre caiu 27 %. Até mesmo alguns produtos agrícolas não escaparam à correção: café e açúcar caíram 40 % no último ano e o trigo recuou 30 %. Nas últimas semanas, todas as matérias-primas atingiram níveis que já não registavam há anos.

O nosso conselho
Devido às perspetivas pouco animadoras, continuamos a não recomendar a subscrição de fundos de investimento vocacionados para o setor das matérias-primas e energia. No entanto, nas ações, há algumas oportunidades de compra. Nas petrolíferas, apenas as empresas com maior solidez financeira e estabilidade operacional conseguirão atravessar bem os difíceis trimestres até que os preços voltem a subir. Neste setor, recomendamos a Exxon Mobil e a Chevron. Do lado dos metais de base, os preços estão em queda com o receio de que a China reduza as importações. Mas, apesar do abrandamento, a procura continua a aumentar. Consideramos que a queda foi exagerada e os preços poderão recuperar no médio prazo. Neste setor, aconselhamos a compra da Rio Tinto (embora o risco tenha aumentado) porque a empresa está subvalorizada face às perspetivas de lucros e o grupo ainda pode reduzir mais os seus custos para manter as margens.

* Os conselhos da DECO são sempre criteriosos.

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