HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
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ANÁLISE "DECO"
Matérias-primas ao fundo
O valor das matérias-primas está em queda. Além
dos receios sobre o maior abrandamento da China, as condições que tinham
suportado a forte subida também preocupam os investidores e penalizam
as cotações.
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Emergentes dececionam
Até
há alguns anos, o argumento a favor do investimento nas matérias-primas
era simples. O forte crescimento dos países emergentes seria
acompanhado por uma atualização das suas infraestrutura e a melhoria do
poder de compra das respetivas populações, o que resultaria no aumento
da procura de recursos naturais. E como esses recursos não são
infinitos, os preços só poderiam subir.
Um cenário que se autossustentou
graças à proliferação de produtos de investimento que permitiam apostar
nas matérias-primas. No entanto, a realidade mostrou-se mais complexa:
poucos países emergentes foram capazes de seguir o exemplo chinês. As
reformas, a modernização e o fortalecimento de uma classe média foram
dececionantes Ao mesmo tempo, o mundo industrializado saiu mais
enfraquecido da última crise económica e financeira, com o potencial de
crescimento a longo prazo mais baixo.
Consumo chinês abranda
Agora
é a própria China que fica aquém do esperado. Nas últimas décadas,
graças ao elevado ritmo de crescimento, tornou-se o maior consumidor de
muitas matérias-primas, incluindo metade de todo o carvão no planeta.
Para o minério de ferro, cobre, alumínio, níquel, zinco, chumbo, só a
China responde por mais de 40 % do consumo mundial e no petróleo
representa 15 %. A conclusão é inevitável: o impacto de uma crise na
China seria imenso. Não é esse o cenário atual, porque a procura chinesa
não recuou. Contudo, apenas a simples desaceleração teve um grande
impacto. E com um crescimento a longo prazo de 3,5 %, as perspetivas são
pouco favoráveis para as matérias-primas.
Economias atingidas
Naturalmente,
as quedas de preços atingiram os exportadores de matérias-primas. Entre
os países desenvolvidos, a Austrália e o Canadá têm visto as suas
moedas depreciar em relação ao euro. No entanto, algumas quedas
parecem-nos excessivas. Os mercados de Sidney e Toronto perderam muito
terreno, apesar de estas duas economias permanecerem muito competitivas,
com grandes mercados internos e finanças públicas sólidas ratingAAA). Mas foi no mundo emergente que a queda das cotações
dos recursos naturais causou mais danos, nomeadamente no Brasil e na
Rússia. Além de serem grandes exportadores de matérias-primas, têm os
seus próprios problemas internos que minam a confiança dos investidores.
Ambos estão em recessão e as moedas caíram mais 30 % face ao euro.
Quanto ao Brasil, apesar do risco, o potencial mantém-se interessante.
Já a Rússia, devido às tensas relações com o Ocidente, é demasiado
arriscada.
Cotações em queda
Confrontados com esta dura
realidade, os preços ajustam-se em forte baixa (ver figura). No
petróleo, também marcado pela explosão da oferta, o Brent caiu cerca de
50 % num ano, enquanto o gás natural perdeu 30 %. Nos metais de base, o
minério de ferro perdeu mais de 70 % desde o pico de 2013, o níquel
recuou quase metade, e o cobre caiu 27 %. Até mesmo alguns produtos
agrícolas não escaparam à correção: café e açúcar caíram 40 % no último
ano e o trigo recuou 30 %. Nas últimas semanas, todas as matérias-primas
atingiram níveis que já não registavam há anos.
O nosso conselho
Devido às perspetivas pouco animadoras, continuamos a não recomendar a subscrição de fundos de investimento
vocacionados para o setor das matérias-primas e energia. No entanto,
nas ações, há algumas oportunidades de compra. Nas petrolíferas, apenas
as empresas com maior solidez financeira e estabilidade operacional
conseguirão atravessar bem os difíceis trimestres até que os preços
voltem a subir. Neste setor, recomendamos a Exxon Mobil e a Chevron.
Do lado dos metais de base, os preços estão em queda com o receio de
que a China reduza as importações. Mas, apesar do abrandamento, a
procura continua a aumentar. Consideramos que a queda foi exagerada e os
preços poderão recuperar no médio prazo. Neste setor, aconselhamos a
compra da Rio Tinto (embora o risco tenha aumentado) porque a empresa
está subvalorizada face às perspetivas de lucros e o grupo ainda pode
reduzir mais os seus custos para manter as margens.
* Os conselhos da DECO são sempre criteriosos.
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