14/04/2015

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HOJE NO
  "RECORD"

Uma aventura na Maratona de Paris

A prova em si estava envolta de alguma expectativa. E digo alguma, porque o objetivo não era o de competir, mas sim o de experimentar com diversão uma grande maratona, sentir o ambiente e perceber como se organiza um evento gigantesco. Cruzar a linha de chegada, com mais ou menos minutos, também não estava em causa, afinal, para a maioria de nós esta seria a 2ª maratona.
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No dia 11, sábado, fizemos a visita ao fabuloso Sallon Running para levantar os dorsais e os kits, onde se reuniam também os patrocinadores em enormes stands. Aproveitando a ocasião, fizemos uma massagem às pernas que nos ajudou a aguentar aquelas horas todas de pé ao longo do salão evitando o acumular da fadiga para o grande dia.

No domingo, a madrugada começou às 6h00 em Créteil, cidade dos arredores onde estávamos instalados. Os Campos Elíseos estavam a 20Kms, pelo que percorrê-los antes dos 42km da prova já seria um bom aquecimento. Às 8h15 saíamos da estação de metro George V com a antecedência de uma hora. O frenesim na avenida era enorme e os participantes reuniam-se à entrada das boxes, ou para tomar o último café ou para a despedida dos familiares. A nossa box era a das 4h00, o que significa que prevíamos terminar a prova com essa marca. Muito provavelmente estariam nela cerca de 10000 participantes e ocupava uns bons 200/300m da avenida. As filas para os Wc eram enormes, isto porque eram em número insuficiente. Cerca das 9h00 informam pelos altifalantes que já tinham partido cerca de 21000 corredores das boxes anteriores, a nossa seria a seguinte. Às 9h30, ouve-se o derradeiro… “Cinq, quatre, trois, deux, un !” Finalmente dava-se início à grande epopeia.

Viseu presente a apoiar
Descer a avenida foi fácil, mas muito lento. Na Place de La Concorde o percurso aplanou em definitivo, e encaminhou-se para o Louvre e depois para La Bastille. No louvre/Rue de Rivoli, apanhámos uma salva dos bombeiros pendurados numa escada, as pessoas nos passeios gritavam alegremente pelos corredores, bandeiras e cartazes agitavam-se, bandas de música marcavam o passo, ouviam-se ritmos brasileiros, argentinos e muito Rock and Roll! O apoio não parava e a festa continuava ao longo das avenidas, o ambiente era emocionante, e nós estávamos lá bem no meio, tudo aquilo era para nós, para o desporto, para todas as nações representadas naquele circo instalado nos 42Km.

Cerca do quinto quilómetro, sabíamos que íamos encontrar os apoiantes que connosco viajaram. Dito e feito, ao ver uma grande bandeira vermelha e amarela do Município de Viseu, ao som dos nossos nomes, lá estavam eles a torcer por nós, a ajudar à festa. O curso continuou para Vincennes, contornando a mancha verde do belo parque com o castelo de nome igual, fazendo assim o retorno à zona central de Paris. Recordo-me de termos encontrado nesse parque um emigrante Tuga vestido de Charlie Hebdo, que entusiasticamente nos cumprimentou e com ele cantámos o hino nacional durante uns bons metros. 

Ao km 22, passámos novamente por La bastille repetindo a festa com a nossa ‘torcida’ viseense, começando aí a verdadeira prova de resistência e endurance físico e mental. A hora do meio-dia caía em cima de nós com o Sena ao lado, bem como os longos túneis rodoviários com rampas de acesso muito chatas. Alguns descansavam e subiam-nas a caminhar. O calor começava a apertar e a necessidade de líquidos aumentava. No entanto, não deixava de ser impressionante a quantidade de corredores que se mantinham de ‘pedra e cal’ e das pessoas nos passeios que continuava a gritar por quem passava na corrida. Muitos foram os que puxavam por mim com um ‘Allez …!’ seguido do meu nome que viam estampado no dorsal. No Trocadero, cerca do Km 30, com vista para a Torre Eiffel, houve oportunidade de parar e fazer uma massagem sentado numa cadeira improvisada pela organização, ao lado de mais de 40 pessoas. 

O ânimo regressava, contribuindo para mais uns kms a um ritmo razoável no Bois de Boulogne, a mancha verde mais conhecida da cidade. O aroma das árvores estava de volta, renovando a vontade de terminar a grande prova, a nós e às centenas de corredores que a nossa vista conseguia alcançar e que foi uma constante. Um dos aspetos que tomei nota foi a quantidade de mulheres que integravam a turba, muito provavelmente, superior a 30%.

E o final aproximava-se a passos largos, com a motivação redobrada devido à certeza da meta mesmo ali à frente. Estava instalada na Avenue Foch, uma das radiais do Arco do Triunfo, com um grande pórtico a meio a coroar o esforço dos amadores das corridas, dos ‘loucos’, sem grandes treinos nem preparação, movidos apenas pela paixão da corrida, a tal paixão de onde nascem os grandes atletas, pois é na sua base, na sua génese, que eles são gerados e que daí crescem e se formam. A par da vertente desportiva e igualmente importante na corrida amadora como na profissional, crescemos também, enquanto seres humanos, como homens e mulheres, em fraternidade e igualdade, no contacto social, independentemente da raça, da religião ou da condição social. Além da medalha e da t-shirt de finisher, estes valores são, ao fim e ao cabo, os que realmente interessam preservar.

Parabéns à organização, à ASO Challenges e à cidade de Paris por esta 39.ª edição da maratona.

* Portuguees, beirões e valentes.


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