HOJE NO
"RECORD"
Uma aventura na Maratona de Paris
A prova em si estava envolta de alguma expectativa. E
digo alguma, porque o objetivo não era o de competir, mas sim o de
experimentar com diversão uma grande maratona, sentir o ambiente e
perceber como se organiza um evento gigantesco. Cruzar a linha de
chegada, com mais ou menos minutos, também não estava em causa, afinal,
para a maioria de nós esta seria a 2ª maratona.
.
.
No
dia 11, sábado, fizemos a visita ao fabuloso Sallon Running para
levantar os dorsais e os kits, onde se reuniam também os patrocinadores
em enormes stands. Aproveitando a ocasião, fizemos uma massagem às
pernas que nos ajudou a aguentar aquelas horas todas de pé ao longo do
salão evitando o acumular da fadiga para o grande dia.
No
domingo, a madrugada começou às 6h00 em Créteil, cidade dos arredores
onde estávamos instalados. Os Campos Elíseos estavam a 20Kms, pelo que
percorrê-los antes dos 42km da prova já seria um bom aquecimento. Às
8h15 saíamos da estação de metro George V com a antecedência de uma
hora. O frenesim na avenida era enorme e os participantes reuniam-se à
entrada das boxes, ou para tomar o último café ou para a despedida dos
familiares. A nossa box era a das 4h00, o que significa que prevíamos
terminar a prova com essa marca. Muito provavelmente estariam nela cerca
de 10000 participantes e ocupava uns bons 200/300m da avenida. As filas
para os Wc eram enormes, isto porque eram em número insuficiente. Cerca
das 9h00 informam pelos altifalantes que já tinham partido cerca de
21000 corredores das boxes anteriores, a nossa seria a seguinte. Às
9h30, ouve-se o derradeiro… “Cinq, quatre, trois, deux, un !” Finalmente
dava-se início à grande epopeia.
Viseu presente a apoiar
Descer
a avenida foi fácil, mas muito lento. Na Place de La Concorde o
percurso aplanou em definitivo, e encaminhou-se para o Louvre e depois
para La Bastille. No louvre/Rue de Rivoli, apanhámos uma salva dos
bombeiros pendurados numa escada, as pessoas nos passeios gritavam
alegremente pelos corredores, bandeiras e cartazes agitavam-se, bandas
de música marcavam o passo, ouviam-se ritmos brasileiros, argentinos e
muito Rock and Roll! O apoio não parava e a festa continuava ao longo
das avenidas, o ambiente era emocionante, e nós estávamos lá bem no
meio, tudo aquilo era para nós, para o desporto, para todas as nações
representadas naquele circo instalado nos 42Km.
Cerca
do quinto quilómetro, sabíamos que íamos encontrar os apoiantes que
connosco viajaram. Dito e feito, ao ver uma grande bandeira vermelha e
amarela do Município de Viseu, ao som dos nossos nomes, lá estavam eles a
torcer por nós, a ajudar à festa. O curso continuou para Vincennes,
contornando a mancha verde do belo parque com o castelo de nome igual,
fazendo assim o retorno à zona central de Paris. Recordo-me de termos
encontrado nesse parque um emigrante Tuga vestido de Charlie Hebdo, que
entusiasticamente nos cumprimentou e com ele cantámos o hino nacional
durante uns bons metros.
Ao km 22, passámos novamente por La bastille
repetindo a festa com a nossa ‘torcida’ viseense, começando aí a
verdadeira prova de resistência e endurance físico e mental. A hora do
meio-dia caía em cima de nós com o Sena ao lado, bem como os longos
túneis rodoviários com rampas de acesso muito chatas. Alguns descansavam
e subiam-nas a caminhar. O calor começava a apertar e a necessidade de
líquidos aumentava. No entanto, não deixava de ser impressionante a
quantidade de corredores que se mantinham de ‘pedra e cal’ e das pessoas
nos passeios que continuava a gritar por quem passava na corrida.
Muitos foram os que puxavam por mim com um ‘Allez …!’ seguido do meu
nome que viam estampado no dorsal. No Trocadero, cerca do Km 30, com
vista para a Torre Eiffel, houve oportunidade de parar e fazer uma
massagem sentado numa cadeira improvisada pela organização, ao lado de
mais de 40 pessoas.
O ânimo regressava, contribuindo para mais uns kms a
um ritmo razoável no Bois de Boulogne, a mancha verde mais conhecida da
cidade. O aroma das árvores estava de volta, renovando a vontade de
terminar a grande prova, a nós e às centenas de corredores que a nossa
vista conseguia alcançar e que foi uma constante. Um dos aspetos que
tomei nota foi a quantidade de mulheres que integravam a turba, muito
provavelmente, superior a 30%.
E o final
aproximava-se a passos largos, com a motivação redobrada devido à
certeza da meta mesmo ali à frente. Estava instalada na Avenue Foch, uma
das radiais do Arco do Triunfo, com um grande pórtico a meio a coroar o
esforço dos amadores das corridas, dos ‘loucos’, sem grandes treinos
nem preparação, movidos apenas pela paixão da corrida, a tal paixão de
onde nascem os grandes atletas, pois é na sua base, na sua génese, que
eles são gerados e que daí crescem e se formam. A par da vertente
desportiva e igualmente importante na corrida amadora como na
profissional, crescemos também, enquanto seres humanos, como homens e
mulheres, em fraternidade e igualdade, no contacto social,
independentemente da raça, da religião ou da condição social. Além da
medalha e da t-shirt de finisher, estes valores são, ao fim e ao cabo,
os que realmente interessam preservar.
Parabéns à organização, à ASO Challenges e à cidade de Paris por esta 39.ª edição da maratona.
* Portuguees, beirões e valentes.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário