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"OBSERVADOR"
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Há novo vídeo de um polícia a matar um afro-americano. O que se passa nos EUA?
Há mais um vídeo de um polícia a matar um afro-americano de 44 anos, nos EUA. Depois de Walter Scott, Michael Brown e Eric Garner, a discussão está lançada: há justificação para estas mortes?
O vídeo data de 2 de abril, mas só foi divulgado na sexta-feira. Robert
Bates, um polícia de 73 anos, disparou fatalmente sobre o afro-americano
Eric Harris, 44, por engano, em Tulsa, no estado de Oklahoma, Estados
Unidos da América. O incidente ocorreu já depois de a vítima estar
imobilizada, no chão, por outro agente da autoridade, conta a Associated Press. O vídeo foi divulgado a pedido da família da vítima.
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Eric Harris era suspeito de ter tentado vender uma arma ilegal a um
polícia à paisana. Depois de ter tentado fugir, foi imobilizado pela
polícia. No vídeo, ouve-se um dos agentes a pedir a Harris que se vire
de barriga para baixo e uma mulher a pedir para pararem de lutar.
Logo a seguir, um tiro, e uma voz que diz: “Disparei sobre ele, peço
desculpa”. A vítima responde: “Ele disparou sobre mim. Oh meu Deus”. Eric Harris ainda chegou vivo ao hospital, mas acabou por falecer pouco tempo depois.
Robert
Bates não era polícia a tempo inteiro, mas um voluntário com formação
para prestar apoio às autoridades locais – aquilo que nos EUA se chama
“um polícia na reserva”. Fonte oficial da polícia de Tulsa já veio dizer
que tem mais de 100 polícias voluntários com “autoridade e poder total”
e que não é incomum que trabalhem com a unidade especializada em crimes
violentos.
A investigação concluiu que Robert Bates agiu sobre a
influência do fenómeno “deslizar e capturar”, que ocorre quando o
comportamento de uma pessoa sai da linha de ação porque é “capturado”
para reagir a uma situação mais forte, conta a Associated Press.
A notícia da morte de Eric Harris chega pouco tempo depois da de Walter Scott, outro afro-americano morto por um polícia norte-americano,
Michael Slager, de 33 anos. O agente da autoridade matou Scott, de 50
anos, pelas costas, enquanto este fugia – Slager tinha mandado parar o
carro em que Scott circulava, por ter um farol traseiro partido.
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O acontecimento trouxe para a ordem do dia as notícias de outras mortes: a de Michael Brown em Ferguson e a de Eric Garner em Nova Iorque, no ano passado. A revista Time deu honras de capa ao tema, com o slogan do movimento Black Lives Matter (as vidas negras importam), que põe a discriminação racial norte-americana na agenda.
De acordo com o
site do movimento, a cada 28 horas é assassinado um homem, uma mulher ou
uma criança afro-americana por um polícia ou outro agente da
autoridade. Uma análise da Vox, baseada em dados divulgados pelo FBI, concluiu que a
polícia norte-americana dispara sobre afro-americanos numa percentagem
desproporcional – apesar de representarem apenas 13% da população
norte-americana, representaram 31% das vítimas de polícias. Os
dados não estão completos, mas ilustram a disparidade das percentagens,
diz a Vox. Mais: Entre 2010 e 212 é provável que a polícia tenha morto
21 vezes mais adolescentes negros do que brancos.
“Os negros estão a dizer literalmente ‘parem de nos matar'”
Walter Scott conduzia um Mercedes-Benz e foi mandado parar por ter um farol partido. De acordo com a The Atlantic, é frequente
que a polícia utilize este tipo de pormenor como pretexto para
perseguir cidadãos negros. Na cidade de North Charleston, 47% da
população é afro-americana e 37% branca. O agente de autoridade que
matou Scott é branco, tal como 80% da força policial da cidade.
O
assunto não é novo – há vários anos que a população de North Charleston
se tem vindo a queixar de ser “mal tratada” pela polícia local. Em 2010,
um dos responsáveis respondeu a um artigo publicado no The Charleston
Post and Courier sobre o tema, que dizia que os fins justificavam os
meios e que a estratégia que as autoridades adotaram estava a diminuir
os índices de violência dramaticamente.
Em 2011, a polícia
norte-americana matou 828 pessoas, quando, na Austrália ou na Alemanha,
foram mortas seis, por exemplo. Se as mortes foram ou não justificadas,
fica a dúvida. Na The Atlantic lê-se que quando um incidente deste tipo é
fatal, é difícil contestar o depoimento dos agentes de autoridade
envolvidos. O de Walter Scott é diferente – porque há um vídeo que conta
a história. E a pergunta impõe-se: acidente ou homicídio?
Nas redes sociais, são várias as mensagens de apoio aos afro-americanos, com a hashtag (etiqueta)
#blacklivesmatter “Os negros estão a dizer literalmente ‘parem de nos
matar’. E existem pessoas que dizem ‘mas..'”, escreveu o ator e
realizador norte-americano Malcolm-Jamal Warner, na conta que detém no
Twitter.
Depois da morte de Walter Scott, os Simpsons também se juntaram ao movimento.
E são vários os apelos para trazer o assunto para as redes sociais.
Quando
Scott foi morto, Michael Slager contou uma versão diferente da
verdadeira, desmentida depois de ter sido divulgado o vídeo. “Onde
estaríamos se o vídeo não tivesse sido divulgado?”, perguntou o advogado
da família da vítima. Na Time, David Von Drehle escreve que antes de o
vídeo aparecer, a morte de Walter Scott ocupava o mesmo espaço que
outras centenas de casos ocupavam nos registos da polícia. Que espaço
ocupará, agora, o de Eric Harris?
* USA, um país de abomináveis brancos a escravizar e matar pretos.
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