O bom trabalho
não se consegue de graça
Há finalmente sinais positivos na economia real, aquela que nos
interessa, que tem efeitos directos e imediatos nas nossas vidas. E o
principal é o facto de muitas empresas e sectores estarem a negociar
aumentos de salários já para este ano.
Não podemos esperar que
sejam mudanças capazes de compensar os cortes ou congelamentos dos
últimos anos, mas que exista essa predisposição, mesmo que se
materialize em mais 10 ou 20 euros no final de cada mês, já é um factor
muito positivo.
Por um lado, é sinal de que as empresas estão pelo
menos um bocadinho melhores - o suficiente para ponderarem melhorar a
vida aos seus trabalhadores. Por outro, é sinal de alguma mudança de
mentalidade, para muito melhor. Muitas entenderam a velha máxima que
dita: quando se paga em amendoins, só se consegue macacos.
O mesmo
é dizer que só com uma boa oferta se consegue ir buscar os melhores,
ou, quando temos a sorte de já os ter do nosso lado, que o bom trabalho
tem de ser valorizado. Da mesma forma que o trabalho medíocre não deve
sê-lo. As progressões automáticas são um erro - o sinal que se transmite
é o pior possível: faça o que fizer, terá aumentos, benesses e
regalias. É um grande incentivo apenas para se recostar na cadeira e
passar o dia a jogar no computador...
Mas agora parece que muitas
empresas começaram a perceber a importância que tem a valorização da
diferença. Senão, vejamos: não aconteceu um milagre, as companhias não
ficaram todas de repente tão bem que até concedem dar mais umas migalhas
a quem produz para elas. Não, as empresas continuam a ter de pagar aos
fornecedores, a cumprir as suas obrigações fiscais, a ter de investir na
sua modernização e sobretudo a ter enormes despesas com cada
funcionário. Em muitos casos, houve despedimentos, cortes de
remunerações, as companhias tiveram de aprender a viver no osso. E agora
que têm uma margem, ainda que mínima, escolheram compensar os
trabalhadores, os melhores, os que as ajudaram a sobreviver.
Não
podemos ser todos sempre extraordinários, mas revelar essa capacidade em
determinado momento deve merecer uma chamada de atenção. Não só pela
compensação merecida mas para dar aos restantes um sinal de que os seus
esforços serão notados e valorizados. Ainda que as razões não sejam
meramente altruístas: não há melhor forma de manter um bom empregado
contente do que tratá-lo e compensá-lo bem. E se ele é bom e não está
feliz, é enorme o risco de o perder para a concorrência.
É mesmo verdade: o bom trabalho paga-se. E o mau, mais cedo ou mais tarde, acaba-se.
Subdiretora do Diário de Notícias
IN "DINHEIRO VIVO"
26/02/15
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