A falsa ameaça grega
Há duas narrativas em confronto: a da raiva e a do medo.
Com a Grécia a fazer de diapasão, as primeiras sessões nos mercados
foram marcadas por um tom grave. Os investidores estão, no entanto, a
aperceber-se de que a ameaça será menos séria do que alguns a querem
pintar.
A divulgação anónima de um relatório atribuído ao governo alemão
pela revista Der Spiegel, onde se diz que a Zona Euro seria capaz de
acomodar uma saída da Grécia da moeda única, fez com que a sessão de
segunda-feira passada fosse marcada por uma violenta queda dos índices
accionistas. Em especial na Bolsa de Atenas, que despencou 5,7%. Os
juros da dívida ultrapassaram os 10%.
A estratégia passa por induzir pânico nos mercados, como factor
de pressão sobre o eleitorado grego, demovendo-o de votar no Syriza e
outras forças políticas que põem em causa os compromissos assumidos com a
troika. Outros executivos europeus o fizeram. Também o BCE o fez,
lembrando que sem um novo acordo com a troika que garanta o
financiamento do país, a autoridade monetária poderá deixar de
disponibilizar liquidez aos bancos gregos a partir de Fevereiro.
Jacob Kirkegaard, investigador sénior do Peterson Institute for
International Economics, um "think tank" norte-americano, diz que estão
em confronto duas narrativas concorrentes, a da raiva (contra a política
de austeridade) e a do medo (das consequências de uma saída do euro).
"Se for a narrativa da raiva a prevalecer, então a oposição vai por
certo vencer. Mas se for a do medo, e os eleitores indecisos temerem
pelo seu futuro, então Samaras pode ganhar", disse na semana passada em
declarações à Bloomberg TV.
O receio parece, no entanto, desproporcionado. Como refere
Kirkegaard, com 75% da população a defender a manutenção do país no
euro, o Syriza nunca defenderá essa opção se quiser vencer as eleições.
Aliás, o partido tem-se esforçado por desmistificar esse cenário. O
Negócios publicou na sexta-feira uma entrevista a John Milios, membro do
secretariado do Syriza responsável pela economia, onde este faz questão
de vincar que "a Grécia não deve sair do euro em caso algum". Que o
partido defende uma reestruturação da dívida, mas sempre no âmbito de
uma negociação com os parceiros europeus. E ainda que o país precisa de
um orçamento equilibrado, porque "mais e mais dívida não é o caminho
correcto para financiar a economia". Na Grécia, as eleições também se
ganham com um discurso ao centro.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
12/01/15
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