Donos Disto Tudo
made in Açores
O Jornal Financial Times, num artigo recentemente publicado, dizia em
título que a “velha ordem” perdeu a mão em Portugal nestes tempos que
caracteriza de mudanças dolorosas.
É uma realidade que não tem contraditório, pelo menos o queiram os
portugueses, pelas mudanças por que tem passado o país, somadas com a
implosão do império dos Espírito Santo e do seu grupo económico, a quem
se ousou chamar DDT, ou seja, Donos Disto Tudo!
São tempos que não deixam indiferentes os olhares de todo o mundo
financeiro e dos negócios sobre este pequeno país, intervencionado pelos
credores estrangeiros, a manifestar bons sinais de recuperação e a
libertar-se das teias de poder de grupos que viveram às custas do povo
português.
São tempos que foram bem identificados pelo Primeiro Ministro Passos
Coelho quando afirmou igualmente que acabou o tempo em que havia donos
de um país aprisionado por grupos económicos que em tudo destinavam, com
a conivência e ajuda de governos sempre interessados em servir-se do
Estado para colocar as famílias políticas e pessoais, em lugares de
empresas sustentadas por impostos dos portugueses, enfim, uma teia que
se começa a romper e a que deve suceder uma nova liberdade democrática,
capaz de gerar igualdade entre os portugueses, esses sim, donos disto
tudo.
Nos Açores não se conhecem mudanças semelhantes, continuamos bem
servidos por um poder que manda em tudo, que tem gente em todo o lado
que se vai mantendo obediente ao interesse de perpetuação de situações
em que o Estado Regional, tal como o tem sido o Português, ao invés de
servir os cidadãos, serve-se dos impostos que estes pagam para se
abastar com o que é de todos.
Na verdade continuamos a assistir a um constante tecer numa teia de
poder que tomou conta da sociedade civil, das suas organizações, para
melhor garantir a continuidade de um controlo do Estado Regional e dos
seus serviços.
Pelo meio, ouvimos políticos dizer que conseguem resolver os
problemas sem fazer ruído, criticando quem denuncia o que esteja mal e
deixando o recadinho que o melhor é não fazer ruído, pois tudo é feito
por detrás da cortina, no silêncio do “pé de orelha”, do recanto ou de
uma qualquer esquina, longe de olhares e de contrariedades, pois assim
acomoda-se tudo bem acomodadinho e o melhor é até ninguém “piar”, não vá
ter um dissabor que algo que possa ser do seu interesse, ou do dos
seus, deixe de se concretizar, pois este ou aquele amigo pode sempre
fazer ou deixar de fazer, conforme for mais eficiente.
Nesta redoma isolada no Atlântico Norte, vão alguns ainda mandando
nisto tudo, gerindo o poder do Estado e da Sociedade, mantendo em mãos
próprias as maiores empresas, os maiores empregadores, a economia em
geral e as associações de classe, salvo raras e honrosas exceções. Um
poder que tem ao serviço mais assessores de propaganda que jornalistas
na informação privada, um poder que coloca os seus em lugares de
importância, que dá e não dá conforme mais serve os interesses da gula
que vai mantendo em relação ao exercício desse mesmo poder.
Os donos disto tudo ainda mandam por aí, mas só enquanto o povo quiser.
IN "AÇOREANO ORIENTAL"
18/12/14
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