19/12/2014

JOÃO BRUTO DA COSTA

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Donos Disto Tudo
 made in Açores

O Jornal Financial Times, num artigo recentemente publicado, dizia em título que a “velha ordem” perdeu a mão em Portugal nestes tempos que caracteriza de mudanças dolorosas.

É uma realidade que não tem contraditório, pelo menos o queiram os portugueses, pelas mudanças por que tem passado o país, somadas com a implosão do império dos Espírito Santo e do seu grupo económico, a quem se ousou chamar DDT, ou seja, Donos Disto Tudo!

São tempos que não deixam indiferentes os olhares de todo o mundo financeiro e dos negócios sobre este pequeno país, intervencionado pelos credores estrangeiros, a manifestar bons sinais de recuperação e a libertar-se das teias de poder de grupos que viveram às custas do povo português.

São tempos que foram bem identificados pelo Primeiro Ministro Passos Coelho quando afirmou igualmente que acabou o tempo em que havia donos de um país aprisionado por grupos económicos que em tudo destinavam, com a conivência e ajuda de governos sempre interessados em servir-se do Estado para colocar as famílias políticas e pessoais, em lugares de empresas sustentadas por impostos dos portugueses, enfim, uma teia que se começa a romper e a que deve suceder uma nova liberdade democrática, capaz de gerar igualdade entre os portugueses, esses sim, donos disto tudo.

Nos Açores não se conhecem mudanças semelhantes, continuamos bem servidos por um poder que manda em tudo, que tem gente em todo o lado que se vai mantendo obediente ao interesse de perpetuação de situações em que o Estado Regional, tal como o tem sido o Português, ao invés de servir os cidadãos, serve-se dos impostos que estes pagam para se abastar com o que é de todos.

Na verdade continuamos a assistir a um constante tecer numa teia de poder que tomou conta da sociedade civil, das suas organizações, para melhor garantir a continuidade de um controlo do Estado Regional e dos seus serviços.

Pelo meio, ouvimos políticos dizer que conseguem resolver os problemas sem fazer ruído, criticando quem denuncia o que esteja mal e deixando o recadinho que o melhor é não fazer ruído, pois tudo é feito por detrás da cortina, no silêncio do “pé de orelha”, do recanto ou de uma qualquer esquina, longe de olhares e de contrariedades, pois assim acomoda-se tudo bem acomodadinho e o melhor é até ninguém “piar”, não vá ter um dissabor que algo que possa ser do seu interesse, ou do dos seus, deixe de se concretizar, pois este ou aquele amigo pode sempre fazer ou deixar de fazer, conforme for mais eficiente.

Nesta redoma isolada no Atlântico Norte, vão alguns ainda mandando nisto tudo, gerindo o poder do Estado e da Sociedade, mantendo em mãos próprias as maiores empresas, os maiores empregadores, a economia em geral e as associações de classe, salvo raras e honrosas exceções. Um poder que tem ao serviço mais assessores de propaganda que jornalistas na informação privada, um poder que coloca os seus em lugares de importância, que dá e não dá conforme mais serve os interesses da gula que vai mantendo em relação ao exercício desse mesmo poder.

Os donos disto tudo ainda mandam por aí, mas só enquanto o povo quiser.

IN "AÇOREANO ORIENTAL"
18/12/14

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