HOJE NO
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Banco de Portugal apanha mais banqueiros e
multa-os em três milhões de euros
Outro banco, outra história pouco clara, os ingredientes de sempre: sociedades offshore, swaps, perdas, ocultação, garantias do Estado, contabilidades divergentes, auditorias inconclusivas, supervisão insuficiente, tribunal
O
Banco de Portugal condenou o Banco Finantia, o seu actual presidente,
António Guerreiro, e mais seis arguidos a coimas num valor superior a 3
milhões de euros depois de instaurados processos de contra-ordenação
pelas “práticas dolosas” de falsificação de contabilidade, inobservância
de regras contabilísticas e prestação de informação falsa.
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A decisão do supervisor, de 13 de Maio de 2014, foi impugnada por todos os acusados – além do Banco Finantia e do seu presidente, António Guerreiro, a Finantipar SGPS e os administradores Luísa Antas, Pedro Santos, Eduardo Costa, Rui Guerra e Ramiro Raimundo –, e está agora a ser julgada em primeira instância, no Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão, em Santarém.
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ANTÓNIO GUERREIRO |
A decisão do supervisor, de 13 de Maio de 2014, foi impugnada por todos os acusados – além do Banco Finantia e do seu presidente, António Guerreiro, a Finantipar SGPS e os administradores Luísa Antas, Pedro Santos, Eduardo Costa, Rui Guerra e Ramiro Raimundo –, e está agora a ser julgada em primeira instância, no Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão, em Santarém.
O caso tem contornos que misturam um pouco daquilo que envolve
outros processos que se tornaram conhecidos do público, como o BCP ou o
BPP, uma vez que implica sociedades offshore, ocultação de perdas e a
quase insolvência de uma instituição bancária que em 2008 obteve uma
garantia do governo Sócrates, no valor de 100 milhões de euros.
A offshore O objecto do processo é uma sociedade do Banco Finantia e
Finantipar, a WWI – World Wide Instruments, “constituída para parquear
ilicitamente fora da sua contabilidade determinados investimentos
financeiros de altíssimo risco num momento histórico de 2007/2008, em
que o mercado atravessa uma crise, com repercussão na valorização destes
produtos e necessidade de reconhecimento de perdas associadas à
desvalorização”, afirma o Banco de Portugal no relatório de acusação.
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LUÍSA ANTAS |
E vai mais longe: “O Banco Finantia não se terá limitado a
transferir a titularidade de investimentos para a sociedade, constituiu
contratos simétricos dos contratos celebrados com as respectivas
contrapartes externas para não reflectir os riscos na contabilidade.”
Por último, continua a autoridade de supervisão bancária, “os
arguidos responderam falsamente ao Banco de Portugal e sempre de forma
consistente com estratégia de ocultação”, fazendo referência ao número
“três vezes”.
O regulador faz ainda questão de sublinhar que este processo “não é
sobre os produtos financeiros ocultados”, nem sobre “o modelo de
valorização dos mesmos”, deixando claro que tudo isto poderia e pode ser
posto em causa. Este processo em concreto não é “tão-pouco sobre o
parecer emitido pelo Banco de Portugal para efeitos de concessão de
garantia pessoal do Estado português ao Banco Finantia, que constitui um
processo autónomo e distinto, com pressupostos e prazos não
compagináveis com a discussão da valorização dos produtos estruturados”.
BdP nega garantia em 2012 É difícil saber qual foi o ponto mais
baixo da instituição, mas, em tribunal, a técnica do Banco de Portugal
Cláudia Veiga afirmou – a propósito das contas relativas a 2008,
certificadas pela PriceWaterhouseCoopers em 2009 – que “o Finantia
entrou em ruptura de liquidez”.
O que se sabe também é que em 2012 haveria ainda informação pouco
clara, pelo menos para o Banco de Portugal. Em Maio desse ano o Banco
Finantia pediu nova garantia ao Estado e na sequência desse pedido tem
uma reunião com elementos da troika. O pedido é recusado. O BdP diz que
não há condições para conceder essa garantia e pede uma avaliação da
carteira de credit default swaps CDS) da instituição, que acaba por retirar o pedido.
Ainda assim, e porque tem dúvidas quanto a algumas das conclusões
apresentadas pela PwC, considera essencial, e determina que seja feita
uma auditoria ao Banco Finantia por uma entidade independente. Essa
pretensão viria a ser negada pelo próprio Banco de Portugal,
superiormente, por César Brito, de acordo com Cláudia Veiga, sem
qualquer justificação. A técnica admite que tenham sido “tomados outros
dados em consideração” e que “tenham existido divergências quanto à
valorização e instrumentos”. No entanto, se se tratava de uma zona
cinzenta, este seria mais um motivo para uma auditoria independente, que
assim desempataria opiniões, consideram os peritos.
Esta conversa vinha a propósito dos produtos estruturados em que o
Banco Finantia investiu, os tais sobre os quais este processo “não é”,
como diz o Banco de Portugal, e as perdas geradas, questões essenciais
para compreender aquilo de que os arguidos são acusados e a existência
da offshore WWI.
Arguidos querem processo nulo
Os auditores do Banco Finantia, a PriceWaterhouseCoopers, dizem desconhecer os factos. Os arguidos dizem que as contas das empresas são auditadas e que o Banco de Portugal desconsiderou isso. É por este motivo que querem que o processo seja considerado nulo e volte à autoridade administrativa. Além do mais, consideram que não foi equitativo nem justo e que as coimas aplicadas não têm uma graduação.
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Os auditores do Banco Finantia, a PriceWaterhouseCoopers, dizem desconhecer os factos. Os arguidos dizem que as contas das empresas são auditadas e que o Banco de Portugal desconsiderou isso. É por este motivo que querem que o processo seja considerado nulo e volte à autoridade administrativa. Além do mais, consideram que não foi equitativo nem justo e que as coimas aplicadas não têm uma graduação.
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RAMIRO RAIMUNDO |
António Guerreiro diz que “não tem conhecimento aprofundado dos
investimentos e nega ter acompanhado a evolução das margens de cada
produto e que lhe seja imputada a responsabilidade de falsas
informações”.
O Banco de Portugal não se compadece e, sobre o presidente do Banco
Finantia, diz que “havia um mecanismo de ocultação de activos no qual
António Guerreiro tomou parte todo o tempo”.
António Guerreiro é acusado da prática, como autor, a título
doloso, de duas contra-ordenações de falsificação de contabilidade e
inobservância de regras contabilísticas, determinadas por lei ou BdP,
com prejuízo grave para o conhecimento da situação patrimonial e
financeira das entidades em causa e três contra--ordenações, em três
circunstâncias distintas, de falsas informações ao BdP.
A Finantipar e o Banco Finantia são acusados de não ter consolidado
nas suas contas a WWI e de não ter revelado activos e passivos e
resultados da empresa entre Setembro de 2007 e final de 2008,
designadamente obrigações e operações estruturadas, como swaps. O Banco
Finantia chegou a afirmar ao BdP que não tinha exposição de crédito a
entidades domiciliadas em offshores, quando a WWI estava nas ilhas
Cayman e era beneficiária de um empréstimo e de linhas de crédito. Em
reunião com o BdP, no início de 2009, os responsáveis do Finantia
justificaram a não informação “por os montantes [42 milhões] não serem
significativos]”.
* VAMPIRAGEM
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