26/09/2014

PEDRO BIDARRA

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A feira das imbecilidades

Ainda não fechei a minha conta no BES por duas razões: em primeiro lugar, porque não sei para qual dos bancos mudar; em segundo lugar, por inércia. Cada dia que passa penso fazê-lo, mas a garantia de proteção dos depósitos abaixo dos 100 mil euros alimenta a velha inércia.

No outro dia, quando ouvi o imbecil spot de rádio da borboleta, aquele que dizia "Se a borboleta falasse diria que..." e nos trata como uma criança pequena a quem o simbolismo ainda escapa - revelador do que os quadros superiores tendem a pensar dos seus clientes - estive quase a parar o carro na primeira agência de um qualquer velho banco e abrir lá conta.

Como era de esperar de uma instituição que escolhe uma borboleta como símbolo para atravessar uma tempestade, ao primeiro sopro a coisa foi pelos ares e as novas e recém nomeadas mariposas desapareceram na refrega.

Agora foram buscar um super-vendedor para vender o banco a correr. Mas que diabo de venda se faz a correr? A resposta é simples: nenhuma que seja proveitosa. Ninguém vende nada a correr se não estiver aflito, desesperado e com a corda na garganta. Coisa de que os potenciais compradores da quota de mercado do BES - a única coisa que sobra - se aproveitarão para baixar o preço.

Quando uma pessoa vende algo por se encontrar na rua da amargura, o bom senso manda que não alarde o desespero, que não chegue ao comprador, ao mercado tendo como argumento de venda o estou à rasquinha. Só alguém com uma séria deficiência ao nível do bom senso e/ou que não sinta o dinheiro como seu, voluntariamente baixa as calcinhas ao mercado; ou seja, o primeiro-ministro, o governador do Banco de Portugal e a ministra das Finanças.Para mim, tanta imbecilidade já chega.

A partir de hoje, quando eu tirar de lá a minha conta, a quota de mercado do BES ficará um pouco mais pequena. Vou vender os meus parcos activos a outro banco. Vou ver qual dá mais e escolher a proposta mais vantajosa. Claro que se não encontrar nenhuma proposta melhor posso sempre continuar onde estou, embora tenha a certeza de que, tudo somado, encontrarei melhor. É assim que se faz. É assim que se negoceia. Não é dizendo que se está à rasquinha.

Há anos que decidi não consumir marcas que tratam o consumidor como um imbecil. Se acham que o consumidor é um imbecil e eu não sou um, então aquilo não é para mim. É silogístico.

IN "DINHEIRO VIVO"
19/09/14

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