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A feira das imbecilidades
Ainda não fechei a minha conta no BES por duas razões: em
primeiro lugar, porque não sei para qual dos bancos mudar; em segundo
lugar, por inércia. Cada dia que passa penso fazê-lo, mas a garantia de
proteção dos depósitos abaixo dos 100 mil euros alimenta a velha
inércia.
No outro dia, quando ouvi o imbecil spot de rádio da
borboleta, aquele que dizia "Se a borboleta falasse diria que..." e nos
trata como uma criança pequena a quem o simbolismo ainda escapa -
revelador do que os quadros superiores tendem a pensar dos seus clientes
- estive quase a parar o carro na primeira agência de um qualquer velho
banco e abrir lá conta.
Como era de esperar de uma instituição
que escolhe uma borboleta como símbolo para atravessar uma tempestade,
ao primeiro sopro a coisa foi pelos ares e as novas e recém nomeadas
mariposas desapareceram na refrega.
Agora foram buscar um super-vendedor para vender o banco a correr. Mas que diabo de venda se faz a correr?
A resposta é simples: nenhuma que seja proveitosa. Ninguém vende nada a correr se não estiver aflito, desesperado e
com a corda na garganta. Coisa de que os potenciais compradores da quota de
mercado do BES - a única coisa que sobra - se aproveitarão para baixar o
preço.
Quando uma pessoa vende algo por se encontrar na rua da
amargura, o bom senso manda que não alarde o desespero, que não chegue
ao comprador, ao mercado tendo como argumento de venda o estou à
rasquinha. Só alguém com uma séria deficiência ao nível do bom senso
e/ou que não sinta o dinheiro como seu, voluntariamente baixa as
calcinhas ao mercado; ou seja, o primeiro-ministro, o governador do
Banco de Portugal e a ministra das Finanças.Para mim, tanta
imbecilidade já chega.
A partir de hoje, quando eu tirar de lá a minha
conta, a quota de mercado do BES ficará um pouco mais pequena. Vou
vender os meus parcos activos a outro banco. Vou ver qual dá mais e
escolher a proposta mais vantajosa. Claro que se não encontrar nenhuma
proposta melhor posso sempre continuar onde estou, embora tenha a
certeza de que, tudo somado, encontrarei melhor. É assim que se faz. É
assim que se negoceia. Não é dizendo que se está à rasquinha.
Há
anos que decidi não consumir marcas que tratam o consumidor como um
imbecil. Se acham que o consumidor é um imbecil e eu não sou um, então
aquilo não é para mim. É silogístico.
IN "DINHEIRO VIVO"
19/09/14
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