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"JORNAL DE NEGÓCIOS"
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Cultura abre processo de classificação
de obras de Miró do antigo BPN
O processo de classificação e inventariação das 85
obras de Miró que se encontram na esfera pública e que o Estado quer
alienar vai mesmo avançar. Uma decisão que se segue às decisões
judiciais à providência interposta pelo Ministério Público.
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As 85 obras do pintor catalão Joan Miró
herdadas do antigo BPN, cujo processo de venda tem sido polémico e com
vários avanços e recuos, estão em vias de classificação. Qualquer venda
ou mudança de lugar onde se encontrem tem de ser comunicada.
"Determino a abertura do procedimento de classificação das 72 obras
de Miró pertencentes à Parvalorem, S.A., as quais, estando em vias de
classificação e independentemente do desfecho do procedimento, ficarão a
constar do inventário", indica o despacho assinado pelo director-geral
do Património Cultural, Nuno Vassallo e Silva, com a data de 21 de
Julho, de acordo com documentos a que o Negócios teve acesso.
MIRANDO MIRÓ |
O procedimento de classificação das 72 obras pertencentes à
Parvalorem e as 13 sob a tutela da Parups, duas sociedades que foram
constituídas para ficarem com os activos tóxicos e espólio do BPN,
segue-se a um despacho do secretário de Estado da Cultura, de 18 de
Julho. A confirmação oficial veio esta quarta-feira, 23 de Julho, pela
secretaria de Estado da Cultura, depois de perguntas do Negócios sobre o
assunto.
"A abertura deste procedimento permitirá, de uma vez por todas,
clarificar a matéria relativa ao conjunto de obras em causa", aponta a
nota de imprensa enviada às redacções pelo gabinete de Jorge Barreto
Xavier.
O secretário de Estado com a tutela da Cultura actuou depois das
decisões judiciais no âmbito do processo cautelar interposto pelo
Ministério Público para travar a venda das pinturas de Miró.Em Maio, o
Ministério Público foi notificado da manutenção do decretamento
provisório da providência cautelar que tinha interposto em Abril e que
visava o impedimento da venda dos bens de Miró em Londres "de forma a
permitir o cumprimento obrigatório dos requisitos impostos pela Lei de
Bases do Património Cultural, nomeadamente a inventariação e
classificação das obras".
Protecções especiais para as obras
Constando do inventário, estas obras passam a estar inseridas num
"levantamento sistemático, actualizado e tendencialmente exaustivo dos
bens culturais existentes a nível nacional", segundo a legislação
nacional. Já a classificação é o acto que vai determinar que um dado bem
tem um "inestimável valor cultural". Tanto a classificação como a
inventariação dos bens culturais pretende atribuir-lhes uma "protecção
legal".
HAVERÁ? |
Ainda não estando classificada – nem se sabendo se será –, a colecção
de Miró encontra-se sob o enquadramento "em vias de classificação". O
que lhe dá já protecções especiais como o "dever de comunicação de
situações de perigo que os ameacem ou que possam afectar o seu interesse
como bens culturais", "o dever de comunicação prévia da alienação" ou
do "dever de comunicação da mudança de lugar dos bens ou de qualquer
outra circunstância que afecte a sua posse ou a sua guarda".
As duas sociedades presididas por Francisco Nogueira Leite podem
pronunciar-se sobre este procedimento no prazo de 15 dias úteis.
O Governo quer desfazer-se desta colecção de obras de Joan Miró
dizendo que a sua manutenção na esfera pública "não é uma prioridade". O
objectivo é vender este activo avaliado em 35 milhões de euros para
abater passivo no mesmo montante.
"Naturalmente que o objectivo de vender as obras continua em cima da
mesa mas recordo que estão pendentes várias acções em Tribunal e que uma
delas impede neste momento essa venda. O processo de classificação
agora lançado será analisado por nós e em tempo útil será objecto de uma
resposta", aponta o presidente da Parvalorem, Francisco Nogueira Leite,
em resposta a questões do Negócios.
As 84 pinturas e uma escultura estiveram já para ser vendidas, num
leilão, em Londres, mas o processo foi bastante contestado em Portugal,
muito pela forma como saíram de território nacional sem as autorizações
que se consideravam essenciais, o que levou ao seu cancelamento. O
segundo leição, agendado para Junho pela leiloeira Christie's, foi adiado sem data marcada. Não foi possível ainda obter uma reacção da Direcção-Geral do Património Cultural.
Até aqui, a Direcção-Geral sempre afirmou que não seria possível
classificar a colecção de Miró presente no espólio do BPN porque as
obras tinham sido importadas há menos de 10 anos, o que impedia essa
classificação. Não foi possível saber porque mudou esta perspectiva.
* Mais um cambalacho em que os governos portugueses são pródigos.
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