Em memória de
Alfredo de Sousa
Completam-se este ano 20 anos sobre o trágico falecimento do professor
Alfredo de Sousa. Foi um grande economista, mas para mim ficará sempre
ligado à criação de uma instituição ímpar no ensino superior público
português, a Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, da
qual foi o primeiro director.
Folheando um anuário desses tempos primeiros (o de 1978), duas coisas
saltaram-me à vista. A primeira foi a composição da comissão
directiva, onde Alfredo de Sousa estava acompanhado de nomes que viriam
tornar-se muito conhecidos (Aníbal Cavaco Silva e Abel Mateus), a par de
outros que teriam distintas carreiras (Manuel Pinto Barbosa e José
António Girão).
O outro aspecto, hoje comum, mas na altura totalmente único e um selo
distintivo da Nova durante muita anos, era a indicação explícita, logo
no início do ano lectivo, do programa de todas as disciplinas, dos seus
professores e dos horários dos exames.
Personalidade muito forte, ainda assim permitiu que a Faculdade de
Economia fosse moldada (muitas vezes contra o seu instinto) pelas
experiências e ambições de um grupo de jovens professores formados nos
EUA. Estes, desde muito cedo, importaram e implementaram um grande
número de práticas e princípios que correspondiam às melhores práticas
universitárias mas que, ainda assim, eram ignorados pelas academia
indígena. A jornada internacional da Faculdade começou aí.
Para homenagear a sua a memória, a Faculdade de Economia (hoje Nova
SBE) centrou-se numa outra faceta do professor: a do destemido e
clarividente polemista, que pensava o que dizia e dizia o que pensava.
Para esse efeito a Escola promoverá uma série de debates sobre
definidores de encruzilhadas para o desenvolvimento nacional: energia,
investimento estrangeiro e estratégia de investimento público
infra-estrutural.
O primeiro debate teve lugar no passado dia 27 e centrou-se nos temas
da energia. O painel foi moderado por Ricardo Costa e contou com Paulo
Pinho, professor da Nova e antigo administrador da REN, João Manso
Neto, CEO da EDP Renováveism e Gonçalo Salazar Leite, CEO da Secil.
Foram revistados, com entusiasmo mas compostura, todos os temas mais
polémicos: impacto do preço na competitividade das empresa, mix de
oferta e papel das renováveis, rendas excessivas e sustentabilidade da
dívida tarifária. Diferentes pessoas terão tirado diferentes conclusões.
Ressaltaria três.
A primeira é que, se incluímos os custos totais de investimento
novos, as renováveis são competitivas com as outras fontes. Por outro
lado, que a divergência entre os custos da energia eléctrica entre os
EUA e a Europa vão manter-se e mesmo acentuar-se com a disseminação do
shale oil; mas, reagindo os agentes a incentivos, o impacto dessas
diferenças na competitividade da indústria europeia não pode ser
avaliado directamente pois as empresas ajustar-se-ão, adoptando
tecnologias poupadoras de energias ou promovendo actividades menos
intensivas em energia.
Afinal a Alemanha e o Japão são grande
exportadores de bens e, ainda assim, têm a energia cara. Finalmente, a
preocupação com as emissões de CO2 não é uma mera bizantinice europeia,
estando a entrar com força na agenda dos EUA. E estará, num futuro não
muito longínquo na agenda da China.
IN "SOL"
04/06/14
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