Que PS
vai sobrar depois disto?
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Nem a "traição" é um argumento político nem serve para conquistar corações
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Só
passaram 19 dias desde que António Costa decidiu candidatar-se a
secretário--geral do PS e o ambiente dentro do Partido Socialista já
está irrespirável. O esforço para analisar com alguma racionalidade a
batalha interna do PS é inglório: de um e de outro lado chovem calhaus,
insultos, insolências, trocas de tiros virtuais, tudo a contribuir para
que uma batalha que deveria ser estritamente política se aproxime a
passos largos de um romance de cordel. Se o objectivo for o de rebentar
com o partido mesmo antes das próximas legislativas, é capaz de estar a
ser conseguido: se sobrar alguma coisa do PS depois do que se tem visto
nos últimos dias, será uma alegria.
É por isso que é insustentável para o PS esperar até 28 de Setembro
para o desenlace da guerra civil. O que se está a passar é uma versão
aproximada de "irregular funcionamento das instituições". Se isto
estivesse a acontecer dentro do governo, havia uma razão para o
Presidente da República o demitir. Há um problema político: o PS não
funciona nem vai funcionar enquanto maior partido da oposição e partido
mais votado nas eleições europeias pelo menos até Novembro (no caso de
Seguro perder as primárias). E todos os dias os socialistas
disponibilizam bom material de propaganda futura para os tempos de
antena da coligação governamental - além de contribuírem vivamente para
alegrar os discursos de Marinho e Pinto.
Já se sabia que isto ia correr mal, pelo menos tão mal como em 1991.
Mas está a ser pior: felizmente para o PS, em 1991 não existiam redes
sociais. Agora, a exposição pública do "debate" entre militantes é
confrangedoramente triste.
É natural que António José Seguro se sinta frustrado e até "traído",
mas utilizar o "oportunismo" de António Costa como argumento a seu favor
não só é muito pouco como, aliás, lhe é bastante
desfavorável. Nem a
"traição" é um argumento político nem serve para conquistar corações.
Com a excepção dos íntimos, o factor de sedução do "traído" é nulo. É
horrível, mas é assim.
Depois, para quê refugiar- -se nas meias-palavras? Se António José
Seguro quer obrigar Costa a falar do passado - e da sua
co-responsabilização enquanto número 2 do PS nos governos Sócrates -
avance com as questões concretas. Faça aquilo que antes não quis fazer:
discuta a gestão dos anteriores governos. Dessa discussão pode nascer
alguma luz para o PS. De discursos de faca e alguidar, mais habituais em
processos de divórcio litigioso, não nasce nada.
IN "i"
16/06/14
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