17/06/2014

ANA SÁ LOPES

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Que PS 
vai sobrar depois disto?
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Nem a "traição" é um argumento político nem serve para conquistar corações
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Só passaram 19 dias desde que António Costa decidiu candidatar-se a secretário--geral do PS e o ambiente dentro do Partido Socialista já está irrespirável. O esforço para analisar com alguma racionalidade a batalha interna do PS é inglório: de um e de outro lado chovem calhaus, insultos, insolências, trocas de tiros virtuais, tudo a contribuir para que uma batalha que deveria ser estritamente política se aproxime a passos largos de um romance de cordel. Se o objectivo for o de rebentar com o partido mesmo antes das próximas legislativas, é capaz de estar a ser conseguido: se sobrar alguma coisa do PS depois do que se tem visto nos últimos dias, será uma alegria.

É por isso que é insustentável para o PS esperar até 28 de Setembro para o desenlace da guerra civil. O que se está a passar é uma versão aproximada de "irregular funcionamento das instituições". Se isto estivesse a acontecer dentro do governo, havia uma razão para o Presidente da República o demitir. Há um problema político: o PS não funciona nem vai funcionar enquanto maior partido da oposição e partido mais votado nas eleições europeias pelo menos até Novembro (no caso de Seguro perder as primárias). E todos os dias os socialistas disponibilizam bom material de propaganda futura para os tempos de antena da coligação governamental - além de contribuírem vivamente para alegrar os discursos de Marinho e Pinto.

Já se sabia que isto ia correr mal, pelo menos tão mal como em 1991. Mas está a ser pior: felizmente para o PS, em 1991 não existiam redes sociais. Agora, a exposição pública do "debate" entre militantes é confrangedoramente triste.

É natural que António José Seguro se sinta frustrado e até "traído", mas utilizar o "oportunismo" de António Costa como argumento a seu favor não só é muito pouco como, aliás, lhe é bastante
desfavorável. Nem a "traição" é um argumento político nem serve para conquistar corações. Com a excepção dos íntimos, o factor de sedução do "traído" é nulo. É horrível, mas é assim.

Depois, para quê refugiar- -se nas meias-palavras? Se António José Seguro quer obrigar Costa a falar do passado - e da sua co-responsabilização enquanto número 2 do PS nos governos Sócrates - avance com as questões concretas. Faça aquilo que antes não quis fazer: discuta a gestão dos anteriores governos. Dessa discussão pode nascer alguma luz para o PS. De discursos de faca e alguidar, mais habituais em processos de divórcio litigioso, não nasce nada.

IN "i"
16/06/14

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