HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Contracção do PIB:
Excepção ou sinal de alarme?
A economia portuguesa contraiu inesperadamente no primeiro trimestre. O Governo justifica com "factores
irrepetíveis". O PS tenta impor o fim da "euforia". E os economistas
destacam a dependência da economia das exportações.
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A economia portuguesa caiu 0,7% no primeiro trimestre
deste ano em relação aos últimos três meses do ano passado. O Governo
alega que as paragens na refinaria da Galp em Sines e na Autoeuropa
explicam a travagem na economia portuguesa. Mas a oposição aproveita
para deixar um aviso: é preciso refrear os ânimos do Executivo.
No
final do Conselho de Ministros de hoje, Luís Marques Guedes justificou o
desempenho da economia nos primeiros três meses com "factores
irrepetíveis". O ministro referia-se ao "encerramento da refinaria de
Sines e da Autoeuropa".
A refinaria de Sines da petrolífera
parou a produção durante 45 dias a começar em Março para manutenção da
infra-estrutura, o que causou uma quebra de 45% nas exportações da
própria empresa durante os três primeiros meses de 2014.
Quanto à Autoeuropa, a empresa fez seis dias de paragem em Janeiro, que juntou às férias de Natal.
Já
na semana passada, a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque,
justificou a travagem em alguns indicadores referentes ao primeiro
trimestre com as paragens de produção na Galp e na Autoeuropa. A
governante acrescentou um outro motivo: a Páscoa em Abril.
Apesar
dos números, o Governo considera que não há sinais para alarme e que a
previsão de crescimento de 1,2% para este ano não está em causa. A Galp e
a Autoeuropa "já estão mais uma vez no seu funcionamento normal, até
com crescimento", disse Marques Guedes, acrescentando que "a alteração
de circunstâncias é já manifesta".
No entanto, o PS não está
convencido. "Estes dados devem servir para parar a euforia" do Governo,
disse o deputado socialista Pedro Marques. "Este foi o terceiro pior
desempenho da zona euro", registou o socialista, acrescentando que este
"é um sinal de que o Governo tem de parar com esta política de cortes,
de austeridade". Pedro Marques mostrou preocupação com evolução das
exportações que, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE),
caíram face ao trimestre anterior.
E o que pensam os economistas?
Paula Carvalho, economista-chefe do BPI-6.13%
não vê nos dados do INE um sinal de alarme. "Esperamos que a economia
volte a crescer a partir do segundo trimestre. Mantemos a previsão de
crescimento de 1% anuais. Todos os indicadores, de actividade,
confiança, emprego, economias externas, apontam nesse sentido", disse
esta manhã ao Económico. A previsão do Governo, de um crescimento de
1,2%, "não parece estar fora de alcance", acrescenta a economista.
Segundo
Paula Carvalho, os dados "ilustram sobretudo a fragilidade da procura
interna, o elevado grau de dependência das exportações de alguns
produtos específicos, não obstante o excelente comportamento dos
produtos tradicionais". Ou seja, mostra que "o caminho em direcção a uma
economia mais saudável, menos vulnerável a factores one-off ainda é
longo".
Filipe Garcia, economista da Informação de Mercados
Financeiros (IMF), também destaca a dependência da economia portuguesa
face à evolução das exportações. "Segundo o INE, essa contracção teve
como origem o abrandamento nas exportações, uma situação que corrobora
os indicadores já conhecidos da produção industrial. Quando se depende
mais das exportações para crescer, o PIB pode tornar-se mais volátil,
porque depende mais da procura externa", afirmou ao Económico.
Além
disso, Garcia lembra que os ventos que chegam da Europa não ajudam. "Os
números também foram despontantes em alguns países da Europa, nuns
casos devido às questões relacionadas com a energia, noutras em reflexo
do desempenho da indústria. Mesmo o crescimento na Alemanha de 0,8% teve
sobretudo como origem a procura interna e o Inverno pouco rigoroso na
Europa e não a indústria ou a procura externa", sustentou.
A IMF continua a prever que "2014 será um ano de crescimento, mas muito moderado e dependente da procura externa".
* Governo que pensa serem as exportações o "milagre" da economia revela-se duma fragilidade intelectual extrema. O consumo interno é o mais importante e este governo decapitou o poder de compra dos portugueses.
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