12/03/2014

FERNANDO ESTEVES

.



O patinho feio do CDS

 
A frase:
“A minha escolha foi muito clara desde o início (...) a Teresa Caeiro poderia ser, a Isabel Galriça Neto poderia ser, a Cecília Meireles poderia ser, a Teresa Anjinho poderia ser, a Mariana Ribeiro Ferreira poderia ser. E no entanto cada uma delas está a desempenhar trabalhos que são importantes e funções onde são competentes.”


O autor:

Paulo Portas, a justificar a escolha de Clara Birrento para o oitavo lugar da lista conjunta PSD/CDS às eleições europeias, 05/03/2013


A análise:

Algures numa madrugada do Inverno de 1999, Paulo Portas deu por si dentro de um carro com a mais improvável das companhias. Era Leonor Beleza, a mulher que ele, ao comando d’O Independente, desfizera politicamente por causa do caso dos hemofílicos. Leonor Beleza odiava-o e ele sabia-o. Foi, por isso, muito constrangido que se vergou à vontade de Marcelo Rebelo de Sousa quando o então presidente do PSD o informou de que teria de ser ele mesmo a comunicar a Leonor Beleza a sua condição de líder de uma lista de candidatos às eleições europeias em que ele mesmo ocuparia um humilhante terceiro lugar, abaixo de Leonor Beleza e de Marques Mendes. Com Leonor ao volante e ele no banco do pendura, Portas sujeitou-se a um exercício de humildade em nome de um bem maior: a estabilidade da AD, a coligação que formara com Marcelo Rebelo de Sousa tendo em vista as europeias, primeiro, e as legislativas como destino final.

Quinze anos depois, Portas volta a aliar-se ao PSD numas eleições europeias. E regressa aos constrangimentos na escolha de candidatos, mas desta vez no seu próprio partido. Por mais acrobacias neuronais que se façam, é difícil decifrar a razão pela qual o líder do CDS troca um óptimo deputado como Diogo Feio por uma militante directamente importada das catacumbas do CDS: Clara Birrento. Clara quê? Pois.

Especular irresponsavelmente sobre as razões da decisão é uma aventura intelectual inconsequente. Poder-se-ia imaginar que Portas, rendido à ditadura do marketing político que tanto aprecia, terá considerado que o penteado, digamos, pouco ortodoxo, de Diogo Feio é incompatível com a apresentação de uma lista credível. Mas como em matéria capilar o líder do CDS não tem particular autoridade para argumentar, restam razões mais clássicas, digamos assim. Eis as duas em que mais acredito: Clara Birrento (Clara quê?) foi escolhida por ser uma mulher (curioso critério, este) e por ser um nome menor no partido, circunstância que resolve um problema ao vice-Primeiro-Ministro - Portas não terá de perder tempo a gerir a ciumeira insuportável que a troca de Diogo Feio por outra das figuras principais do CDS criaria ao mais alto nível. Assim todos dormem descansados – menos Diogo Feio.


A sentença:

O líder do CDS não quer repetir o falhanço da AD de 1999. E pretende gozar de alguma paz no partido – mesmo que isso signifique que tem de varrer das listas um deputado notoriamente competente.

"IN SÁBADO" 



.

.

Sem comentários: