HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Preços aproximam-se da estagnação
no arranque do ano
Inflação recuou 0,1% em Fevereiro, contra uma
expectativa de crescimento de 0,3%. Revisões das estimativas anuais
sobre a evolução dos preços são prováveis.
Ao contrário das expectativas dos
economistas que acompanham a evolução dos principais indicadores da
economia portuguesa, os preços dos bens e serviços recuaram em
Fevereiro, aproximando a taxa de inflação média do zero.
Esta situação deverá levar os bancos de investimento a reverem
em baixa as suas estimativas para a inflação de 2014 e, embora esta seja
uma boa notícia para o poder de compra das famílias e a competitividade
externa, aumenta o esforço que os devedores têm de enfrentar para
fazerem face às suas responsabilidades.
Segundo o
Instituto Nacional de Estatística (INE), os preços recuaram 0,1% em
Fevereiro quando comparados com o mês anterior. Fevereiro é um mês onde
tradicionalmente os preços têm uma evolução muito pequena ou até
negativa, como lembra Filipe Garcia na análise para o blogue do Negócios
Massa Monetária, mas esta queda acabou por surpreender os analistas.
José
Miguel Moreira, do Montepio, lembra que as estimativas apontavam para
um crescimento médio dos preços de 0,3%, pelo que, o desvio em relação
aos -0,1% verificados levará o banco a rever desde já as suas previsões
para este ano de 0,6% para 0,3%. Com os níveis de inflação média e
homóloga próximos da estagnação, Paula Carvalho, do BPI,
admite seguir os passos do departamento de estudos do Montepio. Mas
prefere esperar por Março, mês em que os preços costumam sofrer um
impulso devido às novas colecções de vestuário e calçado, explica ao
Negócios.
A grande dúvida está em saber se este
efeito de descida de preços é pontual ou se se sentirá de forma
generalizada e durante um período duradouro, uma situação que colocaria a
economia perante um problema de deflação. Uma quebra continuada dos
preços levaria a uma contracção do consumo e do investimento, já que os
agentes económicos adiariam as suas decisões para mais tarde, conduzindo
a uma espiral recessiva. Mas, para já, os economistas desdramatizam
este cenário.
Paula Carvalho recorda que ainda em
2009 o País enfrentou uma taxa média de inflação negativa, tendo depois
invertido a dinâmica. Tal como então, Portugal está a sair lentamente de
uma profunda recessão, e o ajustamento dos preços é o reflexo disso,
lembram José Miguel Moreira e Paula Carvalho. A economista do BPI vê
como positivo o facto de, "desta vez, o maior impacto ter vindo dos bens
não transaccionáveis, que eram os mais resistentes a quedas de preços".
Situação que "denota um aumento da concorrência e maior sensibilidade à
variação da procura", diz.
Encarecimento das dívidas
Quedas
de preços de bens são também sinónimo de um aumento da competitividade
externa dos produtos portugueses, que se tornam mais baratos lá fora, e
são sinónimo de um aumento do poder de compra das famílias. O reverso da
medalha é o encarecimento das dívidas contraídas por particulares e
Estado. Se os juros implícitos nos contratos forem superiores aos da
inflação verificada, o esforço para pagar as dívidas será maior.
Em Fevereiro, a queda dos preços foi influenciada pelos preços dos transportes
e do vestuário e calçado, que caíram 1,9% e 2,3%, respectivamente em
termos homólogos. Em sentido inverso, subiu a classe habitação, água e
electricidade. As rendas tiveram um papel determinante.
* Uma boa ou má notícia?
.
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