HOJE NO
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"PÚBLICO"
Comissão Europeia apresenta
estratégia para vigiar e punir ameaças
ao Estado de direito na União
Durão Barroso implementa o relatório do eurodeputado Rui Tavares sobre a Hungria e propõe formas de lidar com “ameaças sistemáticas” aos pilares da democracia e separação de poderes.
A Comissão Europeia enviou, nesta terça-feira, ao Parlamento Europeu e
ao Conselho um documento em que assume uma “nova estratégia da União
para fortalecer o Estado de Direito”. É a primeira vez que a Comissão
reconhece a existência de “problemas sistemáticos” e não apenas
pontuais, de violação das regras pelas quais se regem as democracias
europeias.
Um dos principais momentos para esta alteração da
política da Comissão deu-se com a aprovação, pelo Parlamento Europeu, em
2013, de um relatório sobre a situação na Hungria. O relator foi o
português Rui Tavares, que avaliou as diversas mudanças que o Governo do
primeiro-ministro Viktor Orban introduziu na Constituição e
funcionamento do regime húngaro. Entre elas estavam leis pontuais, como a
que criminaliza os sem-abrigo, ou as alterações à legislação eleitoral,
alterações constitucionais, como a que extingue o Supremo Tribunal, e
mudanças no ordenamento jurídico, como a eleição dos reguladores e as
funções do Tribunal Constitucional.
A União Europeia sempre
tratara estes assuntos caso a caso, e apenas aqueles que tinham uma
relação directa com o “acervo comunitário". E para cada um deles, os
Estados-membros (neste caso a Hungria) apresentavam justificações e,
até, semelhanças com as leis de outros Estados-membros. O que o
relatório aprovado introduziu, de novo, foi uma leitura “sistemática”
destes casos. Ou seja, que cada uma destas alterações não era apenas
grave, por si só, mas colocava em risco o funcionamento do Estado de
direito como um todo, “sistematicamente”.
É isso que esta posição
da Comissão vem, agora, reconhecer. E resolver: “Esta estratégia será
aplicada quando os mecanismos internos de salvaguarda se mostrarem
incapazes de efectivamente combater as ameaças.” A Comissão assume,
assim, um papel que lhe estava destinado no papel (“guardiã dos
Tratados") mas que estava por preencher, na prática.
Ao seu dispor, o executivo de Barroso tem uma vasta gama de recursos, que vão do soft power
à chamada “bomba atómica”, o artigo 7.º dos Tratados, que permite
colocar um Estado-membro de “quarentena”, sem direito de voto e sem
ajudas financeiras.
Neste documento, a Comissão alerta que está,
de facto, a criar condições para usar, na prática, a “bomba atómica”. E
rodeia-se de algumas das sugestões lançadas pelo relatório de Rui
Tavares, como a articulação com a Comissão de Veneza e a inédita
integração da rede de Tribunais dos Estados-Membros no lote de
instituições comunitárias.
O eurodeputado português adianta ao
PÚBLICO que estes “são passos cruciais e na direcção certa". A Comissão
"parece entender que a resposta está na constitucionalização do Estado
de direito à escala europeia e na promoção de uma união de valores
democráticos e direitos fundamentais.
É escandalosa a assimetria entre a
atenção que a Comissão tem dado aos orçamentos dos Estados-membros por
comparação à sua passividade na defesa dos valores fundamentais da União
como o respeito pelo Estado de direito, a democracia e os direitos
humanos", avalia Tavares. "Após muito esforço do Parlamento Europeu, no
meu relatório, e não só, essa assimetria começa a ser corrigida",
destaca o eurodeputado.
* As maiores ameaças ao Estado de direito são forjadas subrepticiamente nos corredores sombrios da eurocracia.
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