HOJE NO
"i"
Eurodeputados do PSD e do CDS
querem culpar Sócrates pela
acção negativa da troika
Os
eurodeputados da Comissão de Assuntos Económicos e Monetários (ECON) no
Parlamento Europeu apresentaram 915 emendas ao relatório inicial sobre a
avaliação da acção da troika nos países sob programas de ajuda
financeira.
Entre os representantes portugueses as opiniões divergem: à
direita pede-se que a resposta "desadequada" à crise do governo de
Sócrates conste do texto final; à esquerda, os eurodeputados querem
carregar no tom das consequências negativas dos programas de
ajustamento. Para o relator Liem Hoang Ngoc, eurodeputado francês do
Partido Socialista Europeu, "as consequências das políticas incluídas
nos memorandos "contrariam claramente os objectivos da União Europeia".
Dos partidos portugueses representados no Parlamento Europeu (PE),
todos apresentaram alterações ao documento inicial, mas o sentido das
emendas é muito diferente. Desde logo,
sobre a origem da crise.
No documento inicial refere-se que no princípio
do programa de ajustamento, "a economia portuguesa registava há vários
anos um fraco crescimento do PIB". Um ponto que Elisa Ferreira,
eurodeputada do PS, quer ver suprimido do texto final, enquanto Diogo
Feio (CDS) sugere acrescentar ainda que, na altura, havia no país "uma
aceleração das despesas, nomeadamente das discricionárias,
sistematicamente acima do crescimento do PIB".
Ainda neste ponto, Nuno Melo (CDS) quer que fique registado que os
PEC (Programas de Estabilidade e Crescimento) apresentados pelo anterior
governo socialista "estavam completamente desadequados da realidade e
foram incapazes de fazer face aos problemas estruturais e orçamentais
enfrentados por Portugal".
Embora a primeira versão deste relatório refira que "os pressupostos
da troika" foram "excessivamente optimistas", Diogo Feio quer que conste
no texto final que essas previsões falharam por haver um conhecimento
"superficial" sobre a situação de Portugal, Irlanda, Grécia e Chipre.
Noutro ponto, o eurodeputado do CDS critica ainda a troika pela "falta
de discernimento, patente na rejeição de várias sugestões governamentais
destinadas a atenuar esse impacto [das estratégias de ajustamento] e os
efeitos nocivos que tiveram na vida dos cidadãos", alegando que as
equipas técnicas destas instituições "demonstraram níveis de rigidez e
intransigência desnecessários".
Ana Gomes e Elisa Ferreira, eurodeputadas socialistas, insistem na
falta de "controlo democrático" da troika e, noutra emenda, Elisa
Ferreira, juntamente com Hoang Ngoc, aponta que a solução será "integrar
o Mecanismo Europeu de Estabilidade no quadro jurídico da UE" e
sujeitar futuros programas de ajustamento ao controlo do Parlamento
Europeu. Já os eurodeputados comunistas, Inês Zuber e João Ferreira
(cabeça de lista do PCP nas próximas europeias) querem que conste do
texto final que, para Portugal, o memorando "constituiu um acto de
ingerência, ilegítimo e antidemocrático".
Após o projecto de relatório apresentado em Dezembro, as visitas aos
países sob ajuda no princípio de Janeiro e as audições com os
responsáveis pela troika, os eurodeputados da ECON - que estão
encarregues de avaliar a acção do BCE, da Comissão Europeia e do FMI nos
últimos quatro anos - avançaram agora com as emendas ao documento
inicial. O relatório final será aprovado a 27 de Março e até lá o texto
terá de ser consensualizado entre as várias forças políticas do
Parlamento Europeu. A votação final em plenário deverá ocorrer em Abril
As propostas e as alterações dos eurodeputados portugueses
Emendas
O relatório inicial tem 14 páginas e foi
redigido antes das visitas aos países sob ajuda financeira e sem ouvir
alguns dos principais intervenientes. Agora, o relatório será sujeito à
incorporação das propostas dos eurodeputados que, até à votação final a
27 de Março, terão de ser consensualizadas entre os partidos. Eis alguns
exemplos:
Lamenta a falta de transparência nas negociações dos memorandos de
entendimento; salienta a necessidade de se verificar se os documentos
oficiais foram correcta e atempadamente transmitidos aos parlamentos
nacionais e ao Parlamento Europeu; chama ainda a atenção para o eventual
impacto negativo destes processos nos direitos dos cidadãos e na
situação política dos países envolvidos;
Diogo Feio
Alteração
Alteração
Lamenta a falta de
transparência nas negociações dos memorandos de entendimento; salienta a
necessidade de se verificar se os documentos oficiais foram correcta e
atempadamente transmitidos aos parlamentos nacionais e ao Parlamento
Europeu (restante texto suprimido);
Elisa Ferreira
Alteração
Alteração
Lamenta a falta de
transparência nas negociações dos memorandos de entendimento; lamenta
que os documentos oficiais não tenham sido correcta e atempadamente
transmitidos aos parlamentos nacionais e ao Parlamento Europeu, nem
adequadamente discutidos com os parceiros sociais; chama ainda a atenção
para o impacto extremamente negativo destes processos nos direitos dos
cidadãos, na situação política dos países envolvidos e na confiança dos cidadãos na democracia e no projecto da União Europeia;
Lamenta, no entanto, os pressupostos por vezes excessivamente
optimistas da troika, em particular no respeitante ao crescimento, bem
como o deficiente reconhecimento da resistência política à mudança em
certos Estados--membros; lamenta o facto de tal ter prejudicado também a
análise da troika sobre a interacção entre a consolidação orçamental e o
crescimento; salienta que, por esse motivo, os objectivos orçamentais
não puderam ser alcançados;
Diogo Feio
Alteração
Alteração
Lamenta, no entanto, os
pressupostos por vezes excessivamente optimistas da troika, em
particular no respeitante ao crescimento, decorrentes principalmente de
um conhecimento deficiente e superficial dos países sujeitos ao
ajustamento financeiro; lamenta o facto de tal ter prejudicado também a
análise da troika sobre a interacção entre a consolidação orçamental e o
crescimento; salienta que, por esse motivo, os objectivos orçamentais
não puderam ser alcançados não obstante os importantes esforços e as
reformas relevantes executadas pelos governos nacionais nesse sentido;
Marisa Matias
Alteração
Alteração
Lamenta, no entanto,
os pressupostos excessivamente optimistas da troika, em particular no
respeitante ao crescimento, ao emprego, à evolução da dívida e ao
défice, bem como o deficiente reconhecimento da resistência política à
mudança em certos Estados-membros; lamenta o facto de tal ter
prejudicado também a análise da troika sobre a interacção entre a
consolidação orçamental e o crescimento; salienta que, por esse motivo,
os objectivos orçamentais não puderam ser alcançados;
Considera que tem sido prestada muito pouca atenção à minimização do
impacto negativo das estratégias de ajustamento nos países do programa;
Ana Gomes
Alteração
Alteração
Considera que tem sido
prestada muito pouca atenção à minimização do impacto negativo das
estratégias de ajustamento nos países do programa; lamenta nomeadamente a
ausência de acesso ao crédito para PME e de programas para fomentar a
criação de emprego e o crescimento a nível nacional e europeu;
Diogo Feio
Alteração
Alteração
Considera que tem sido
prestada muito pouca atenção por parte da troika à minimização do
impacto negativo das estratégias de ajustamento nos países do programa;
lamenta esta falta de discernimento, patente na rejeição de várias
sugestões governamentais destinadas a atenuar esse impacto e os efeitos
nocivos que tiveram na vida dos cidadãos, das famílias, das empresas e
de outras instituições destes países; regista várias declarações
políticas proferidas por altos funcionários da troika subscrevendo esta
necessidade de atenuação, reconhecendo desta forma a necessidade de
moderar o ritmo e o rigor das medidas, as metas orçamentais e a
condicionalidade dos programas de ajustamento, bem como os seus erros ao
nível das previsões e das apreciações; e lamenta profundamente que
estes erros não tenham sido devidamente acompanhados e atempadamente
detectados pelas equipas técnicas da troika, que demonstraram níveis de
rigidez e intransigência desnecessários, com consequências sociais
negativas;
Observa que o mandato da troika tem sido considerado ambíguo e pouco transparente;
Inês Zuber, João Ferreira
Alteração
Alteração
Considera
que o Memorando de Entendimento com Portugal constituiu um acto de
ingerência, ilegítimo e antidemocrático pela decisão
político--institucional, violando princípios e direitos consagrados na
Constituição da República Portuguesa e sobretudo pelo seu conteúdo que
configura um verdadeiro Pacto de Agressão ao povo e ao país;
Ana Gomes e Elisa Ferreira
Alteração
Observa que o mandato da troika tem sido considerado ambíguo, pouco transparente e desprovido de controlo democrático;
Salienta a responsabilização democrática geralmente deficiente da
troika nos países do programa a nível nacional; sublinha, contudo, que
esta responsabilização democrática varia entre os países, dependendo da
vontade dos executivos nacionais;
Paulo Rangel
Alteração
Alteração
Salienta a
responsabilização democrática insuficiente da troika nos países do
programa a nível nacional; sublinha, contudo, que os programas, nas suas
linhas gerais, foram escrutinados pelos eleitores nacionais dos países
intervencionados e pelos respectivos parlamentos ao longo dos anos;
Marisa Matias
Alteração
Salienta a
responsabilização democrática geralmente deficiente da troika nos países
do programa a nível nacional; (restante texto suprimido);
Constata que, no início do programa de assistência UE FMI, a economia
portuguesa registava há vários anos um fraco crescimento do PIB e da
produtividade, e que essa falta de crescimento, aliada ao impacto da
crise financeira global, deu origem a um elevado défice orçamental e a
um elevado nível de dívida, fazendo disparar para níveis incomportáveis
os custos de refinanciamento de Portugal nos mercados de capitais;
assinala, a este propósito, que, em 2007, Portugal registou uma taxa de
crescimento de 2,4%, um défice orçamental de 3,1%, um nível de dívida de
62,7%, um défice da balança corrente de 10,2% do PIB e uma taxa de
desemprego de 8,1%;
Nuno Melo
Adenda
Observa que os Programas de
Estabilidade e Crescimento (PEC), apresentados pelo governo socialista
entre maio de 2010 e Março de 2011 – quatro programas em apenas um ano
(PEC 1 em março de 2010, PEC 2 em maio de 2010, PEC 3 em Setembro de
2010 e PEC 4 em Março de 2011) –, estavam completamente desadequados da
realidade e foram incapazes de fazer face aos problemas estruturais e
orçamentais enfrentados por Portugal;
Liem Hoang Ngoc, Elisa Ferreira
Adenda
Assinala
que as tensões no mercado de obrigações soberanas portuguesas começaram
apenas em meados de Abril de 2010, ou seja, cinco meses após as taxas
das obrigações soberanas gregas terem começado a aumentar; verifica que
este momento coincide com o pedido de assistência financeira do governo
grego, em 23 de Abril de 2010; lamenta a falta de reacção imediata por
parte do Conselho Europeu e do BCE à situação que se vivia nos mercados
financeiros nos primeiros meses de 2010; considera que esta inacção, que
durou até maio de 2010, contribuiu para a pressão especulativa sobre as
obrigações gregas se alargar às portuguesas.
* Os deputados do PSD e CDS são patéticos, pensam eles que o povo português desconhece o conluio permanente entre PSD, PS e CDS!
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