10/12/2013

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HOJE NO
"JORNAL DE NOTÍCIAS"

Assistente social do Porto ameaçou 
deixar medalha no Parlamento

José António Pinto, 48 anos, que foi esta terça-feira distinguido com uma medalha comemorativa do 50º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, ameaçou deixar o prémio no Parlamento se os deputados lhe garantissem que "futuramente as leis aprovadas nesta casa não vão causar mais estragos na vida daqueles que, por terem deixado de dar lucro, são agora considerados descartáveis". 

Lembrando os 120 mil portugueses que em 2012 saíram do país em busca de uma vida digna, as 500 mil crianças que deixaram de receber abono de família, os 149 mil jovens que estão no desemprego e os idosos que vivem com reformas miseráveis e sem recursos económicos para comprar medicação, o assistente social da Junta de Freguesia de Campanhã, no Porto, agradeceu o reconhecimento que lhe foi dado pelo Parlamento. Mas insistiu, várias vezes, que trocava a medalha de ouro que lhe foi entregue por "um outro modelo de desenvolvimento económico" que dê igualdade de oportunidades a todos.

"Eu não quero receber medalhas, quero justiça na economia, justiça na repartição da riqueza criada, quero emprego com direitos para gerar essa riqueza, quero que a dignidade do homem seja mais valorizada que os mercados, quero que o interesse coletivo e o bem comum tenham mais força que os interesses de meia dúzia de privilegiados", disse, num discurso muito aplaudido, mas que incomodou visivelmente alguns deputados da maioria que assistiram à cerimónia no Salão Nobre. 

Num recado dirigido à presidente da Assembleia da República, José António Pinto disse ambicionar "que os cidadãos deste país protestem livremente e de forma legítima dentro desta casa e que ao reivindicarem os seus direitos por uma vida melhor não sejam expulsos pela polícia das galerias deste Parlamento". Mas Assunção Esteves não acusou o toque, limitando-se a reconhecer, no seu discurso, que "nenhuma democracia estará conseguida sem homens e mulheres livres e detentores de condições de vida digna" e que "o Estado tem a função primordial de garantir a equidade e a justiça e a coesão social que proporciona a participação".

No seu discurso, José António Pinto desafiou os políticos a "resistir à idolatria do dinheiro, à tirania dos mercados e à especulação financeira" e a que "estanquem imediatamente este retrocesso civilizacional que ilumina palácios mas, ao mesmo tempo, enche a cidade de pessoas a dormir na rua".

O prémio Direitos Humanos 2013 foi entregue, esta terça-feira, à Federação Nacional de Cooperativas de Solidariedade Social (Fenacerci), que representa 53 cooperativas de apoio a pessoas com deficiência em todo o país. 

Além do assistente social do Porto, o júri do prémio, constituído no âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, decidiu também atribuir uma medalha de ouro a um jovem afegão de 16 anos, que chegou sozinho a Portugal em janeiro, depois de uma longa viagem em fuga da guerra no seu país, e que se torneou campeão de boxe. 

* Um homem de coragem!

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