15/11/2013

CÁTIA MIRIAN COSTA

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O equivoco 
da aparência

Em tempos de crise, o medo paira no ar, mas há que repensar percursos e arriscar a mudança. Afinal o risco de perder-se algo é sempre menor numa economia e num sistema político em perda. O diagnóstico, apesar de doloroso, deve ser feito, sendo necessário identificar causas e propor alternativas.

A aparência: Participando no encontro de trabalho de uma rede europeia de investigação, oportunamente intitulado "Appearance Matters", apercebemo-nos do verdadeiro valor da aparência. Concluiu-se que mais do que a qualidade de um projeto é preciso que este pareça tê-la. O avaliador olha mais para a aparência do que para o conteúdo. Todas as sociedades atuais se regem pelo que parece mais do que pelo que é. Assim nos têm ensinado a economia e a política, em que se admite que a imagem é geradora de capital. No caso português, esse trabalho de imagem e representação continua por fazer, aceitando-se os chavões impostos por quem apenas conhece o país superficialmente.

O equívoco: Acreditando nessa imagem dos discursos externos, o país aceita as receitas instantâneas propostas. Estas soluções miraculosas passam pelo enfraquecimento do poder político, estratégia seguida com a participação dos próprios políticos. Reforçam-se as instituições não democráticas, logo que não dependem da eleição. Um poder político mais frágil torna-se também mais vulnerável aos lobbies, perdendo a sua capacidade de defesa dos interesses daqueles que o elegem. O grande equívoco é acreditar-se que uma Europa construída sem uma cidadania plena pode ser mais justa ou mais adequada às necessidades das populações. Os políticos portugueses, aceitando sem questionar essa imagem estereotipada de um país incapaz e crendo na fragilização das instituições públicas, condenam a sua população a aceitar as fórmulas que continuam a não resultar e a provocar elevados custos sociais.

A regra: Conhecendo a regra, Portugal pode agir, usando-a em seu favor quando possível ou subvertendo-a quando necessário. Para tal, precisa que as suas capacidades pareçam reais e que os políticos não se mostrem cultural e identitariamente crentes numa inferioridade inexistente. Só deste modo adquirem capacidade negocial interna e externa e poderão representar os interesses dos portugueses enquanto um todo. Apenas valendo-se das regras estabelecidas que os mercados tanto apreciam poderão ser reconhecidos como parceiros negociais em vez de apenas ajudantes de cozinha sem autoria de receitas desproporcionadas. Verter para a aparência uma realidade de exportações que têm subido em tempos de crise e de uma população que tem demonstrado maturidade democrática pode afinal ser a alma do negócio. Em vez de combater as forças internas, os poderes públicos deverão usá-las para reforçar o seu poder negocial.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
12/11/13

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