HOJE NO
"PÚBLICO"
Mapa judiciário suscita "as maiores
. inquietações" a Maria José Morgado
A directora do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de
Lisboa, Maria José Morgado, declarou nesta sexta-feira que o
anteprojecto de mapa judiciário lhe suscita "as maiores inquietações".
INTELIGÊNCIA E SERIEDADE |
Maria José Morgado, que
falava numa conferência na Assembleia da República destinada a assinalar
os 25 anos de existência deste organismo, criticou a "mudança radical
de organização do Ministério Público", que "tornará mais difícil a
investigação criminal".
O modelo proposto pelo Ministério da
Justiça, e que ainda se encontra em fase de discussão pública, prevê a
criação de Departamentos de Investigação e Acção Penal em comarcas onde
eles não existiam. Para a directora do DIAP de Lisboa, que lembrou uma
vez mais a falta de meios no combate ao crime organizado, trata-se de um
modelo "excessivamente atomístico" de organização, ao qual seria
preferível, no seu entender, o aperfeiçoamento das actuais estruturas do
Ministério Público. "Não há estruturas preparadas para este impacto",
resumiu.
Maria José Morgado mostrou-se igualmente crítica da nova
lei que permite os julgamentos sumários em caso de flagrante delito. Não
por causa da sua constitucionalidade, posta já em causa duas vezes
pelos juízes do Tribunal Constitucional e uma terceira pelo Tribunal da
Relação de Coimbra, mas pelo prejuízo que a rapidez deste procedimento
pode causar numa investigação em curso. E deu o exemplo ligado à
criminalidade organizada perpetrada por um gang que cometa assaltos em
todo o país. Apanhado em flagrante, um dos seus membros pode ser
submetido a julgamento sumário. "Mas o gang pode continuar a fazer
assaltos. Temos celeridade, mas não temos o gang desmantelado",
observou. Ao "meter tudo no mesmo caldeirão", a pequena e a média ou
grande criminalidade, a lei corre o risco de ser pouco profícua. "É uma
lei bipolar", concluiu Maria José Morgado, que não deixou passar em
claro as restrições orçamentais com que se debatem quer o DIAP quer os
procuradores que ali trabalham. “Temos que ter magistrados capazes de
assumir riscos. Mas como, se são tratados como vendedores de castanhas?
Podem responder por grandes riscos a ganharem 1800 euros por mês?”,
interrogou. “Se for mal paga e implicar riscos desproporcionados, a
magistratura atrairá os piores”.
O DIAP de Lisboa, onde trabalham
mais de 200 pessoas, tinha em 2007, quando Maria José Morgado para ali
entrou, um orçamento anual para despesas de funcionamento de meio milhão
de euros, fora salários e renda. “Era um bom orçamento”, recordou a
mesma responsável. Este ano o orçamento não chegou aos 200 mil. Nas
novas tecnologias existe apenas um perito, explicou, que já passou
muitas noites sem dormir para despachar trabalho. “Se a criminalidade
tem acesso a grandes meios e a grande sofisticação tem de haver uma
proporcionalidade de meios para aqueles que combatem o crime”, referiu.
“Há
algumas falhas que efectivamente dificultam bastante a nossa
actividade”, confirmou a Procuradora-Geral da República, Joana Marques
Vidal, numa referência à escassez quer de funcionários quer de
equipamentos, quer informáticos quer de áudio.
Também presente das
cerimónias de comemoração das bodas de prata do DIAP, a ministra da
Justiça, Paula Teixeira da Cruz, assegurou que as prioridades
orçamentais da tutela para 2014 serão a investigação criminal e a acção
penal. Relativamente à falta de meios do Ministério Público, a
governante revelou que pediu a Joana Marques Vidal um levantamento das
situações onde se registam maiores dificuldades. A resposta da
Procuradora-Geral da República foi encaminhada para a Direcção-Geral da
Administração da Justiça, para que sejam colmatadas as maiores
carências, explicou Paula Teixeira da Cruz, citada pela agência Lusa.
* Uma opinião a ter em conta porque a seriedade aliada à inteligência é uma mais-valia.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário