HOJE NO
"PÚBLICO"
Só a Grécia gasta menos que Portugal
nos cuidados continuados de saúde
Portugal é, depois da Grécia, o segundo país que menos dinheiro
público gasta nos cuidados continuados de saúde, de acordo com os dados
da OCDE que comparou este indicador em 26 países.
Os números fazem parte do relatório Health at a Glance 2013,
cujos dados preliminares tinham sido avançados em Junho pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), tendo o
relatório final sido agora publicado.
No campo em concreto dos
cuidados de longo termo, em 2011, Portugal gastou 0,2% do seu Produto
Interno Bruto (PIB) nesta área em termos de despesa pública, surgindo
quase empatado com a Estónia e Hungria, que só por centésimas estão
melhor. Pior apenas está a Grécia. Logo após a Hungria vem a República
Checa, Polónia, Israel, Coreia do Sul, Estados Unidos, Espanha,
Alemanha, Eslovénia, Luxemburgo, Áustria, Canadá, Nova Zelândia, Suíça,
Islândia, Japão, França, Bélgica, Finlândia e Dinamarca.
Os três
países no topo da tabela são a Holanda, que ocupa o primeiro lugar com
3,7% do PIB, mas que agrega além da despesa pública em saúde a despesa
com o lado social, que é apresentada de forma separada, e de que há
dados para apenas nove dos 26 países (Portugal é um dos que fica de
fora). Segue-se a Suécia com 3,6% e a Noruega com 2,4%. No caso da
Suécia a despesa social tem um peso de mais de dois terços.
Necessidades vão continuar a crescer
No
documento, a OCDE explica que a despesa com os cuidados continuados
disparou nos últimos anos na maior parte dos países e é expectável que
continue a crescer com o envelhecimento da população. A organização
destaca as assimetrias no investimento entre países, dizendo que apesar
de as diferenças entre Holanda ou Suécia e Portugal ou Grécia
reflectirem distintas estruturas na população, demonstram sobretudo
diferentes níveis de desenvolvimento entre “sistemas de cuidados
continuados formais, por oposição a formais mais informais baseadas
sobretudo em tratamentos providenciados por familiares não remunerados”.
A
OCDE analisa, ainda, a taxa de crescimento anual da despesa pública nos
cuidados continuados entre 2005 e 2011 e aqui percebe-se que, apesar de
Portugal estar na cauda da lista em termos do PIB, foi dos que mais
cresceu, conseguindo 14,4%, logo após a Coreia do Sul que obteve 43,9%.
Neste
campo a OCDE apresenta também dados sobre os profissionais que
trabalham na área dos cuidados continuados e o número de camas afectas a
esta área nas instituições e hospitais, mas Portugal não é incluído
nessa lista.
O PÚBLICO tentou ouvir a coordenadora da Rede
Nacional de Cuidados Continuados Integrados, Inês Guerreiro, até ao
momento sem sucesso.
Mais camas até ao fim do ano
Os
dados dizem ainda respeito a 2011 mas, ao longo de 2013, o Ministério
da Saúde tem vindo a aumentar a oferta da área dos cuidados continuados –
com alguns atrasos que têm merecido críticas por parte da oposição, que
também acusa a tutela de estar a reduzir o número de camas em relação
ao inicialmente prometido.
Até ao final deste ano a tutela prometeu abrir cerca de 30 unidades de cuidados continuados, com um total de cerca de 800 camas.
São menos lugares de internamento do que aquilo que chegou a ser
anunciado no início do ano (1169 camas), mas vão permitir aumentar de
forma significativa a resposta nesta área tão carenciada. As unidades
que vão começar a funcionar foram construídas por Misericórdias e outras
instituições de solidariedade social. Algumas estavam prontas desde o
ano passado e só permaneceram encerradas por falta de verbas.
Só
neste ano, o custo de funcionamento destas novas estruturas totalizará
cerca de sete milhões de euros, verba que deverá duplicar no próximo
ano. De acordo com um despacho publicado em Julho, a maior parte dos
lugares de internamento pertence a equipamentos destinados a longa
duração, e Lisboa e Vale do Tejo é a região com mais novos lugares
(280). Desta forma o número total no país aproxima-se das 6500 camas.
No início de Novembro a tutela também publicou em Diário da República
que cerca de metade do valor das receitas dos jogos sociais atribuído
ao Ministério da Saúde irá financiar, em 2014, a Rede Nacional de
Cuidados Continuados Integrados.
Despesa transferida para as famílias
Em geral, o relatório Health at a Glance 2013
olha para vários indicadores e tira uma fotografia global aos impactos
da crise na saúde, referindo que em Portugal, apesar dos cortes, a
situação não está a ter um impacto muito forte, apenas com ligeiros
aumentos dos tempos de espera nas cirurgias. Contudo, no campo da
despesa, a redução das verbas públicas está a transferir muitos dos
custos para o bolso das famílias.
Em 34 países, Portugal está entre os cinco que mais cortaram na despesa pública em saúde per capita
entre 2009 e 2011 e as famílias portuguesas tornaram-se nas quartas a
gastar mais dos seus rendimentos. Em 2011 as famílias portuguesas
gastavam 4,3% do seu bolso em saúde quando a média da OCDE era 2,9%.
Do
lado positivo há a queda no consumo do tabaco e do álcool, assim como a
redução de acidentes rodoviários – indicadores também atribuídos ao
menor poder de compra. No campo da mortalidade, as doenças
cerebrovasculares continuam a matar mais que noutros países, mas com uma
tendência progressiva de melhoria.
* Mais um capítulo do miserabilismo nacional numa área em que reduzir despesas pode não ser uma poupança.
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