HOJE NO
" PÚBLICO"
Disparou o número de crianças
e jovens em risco sinalizados
pelos serviços de saúde
Foram 6815 os casos de crianças e jovens em risco que mereceram a
atenção dos serviços de saúde e que foram sinalizados às autoridades
competentes em 2012, o que representa um crescimento de 25% em relação
ao ano anterior, indicam os dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS). A
negligência continua a ser o motivo mais comum.
O relatório da Comissão de
Acompanhamento da Acção de Saúde para Crianças e Jovens em Risco, que a
DGS acaba de divulgar, considera que “esta tendência de crescimento
poderá reflectir um efectivo número aumentado de situações que envolvem
suspeita ou perpetração efectiva de maus tratos a crianças e jovens –
fenómeno ao qual, sendo verdadeiro, não será alheio o contexto de crise
global que as comunidades enfrentam nos últimos anos”.
Porém, a
comissão entende também que “tanto a maior sensibilização e capacidade
de detecção de contextos e sinais de risco ou de perigo, por parte das
equipas e dos serviços de saúde, como o desenvolvimento de formas mais
concertadas de cooperação e de intervenção têm contribuído para este
panorama, de uma forma assinalável”.
Desde 2008 até 2012 foram
reportados um total de mais de 24 mil casos, o que dá uma média anual de
quase cinco mil crianças ou jovens. No que diz respeito aos motivos que
levaram os serviços de saúde a reportar os maus tratos, à semelhança
dos anos anteriores, a negligência domina com 67%.
O número de
casos identificados como “outros” teve também um crescimento
significativo para 9% (em 2011 eram 3%). Os maus tratos psicológicos
representaram 12% das queixas, os físicos 7% e os abusos sexuais 5% –
percentagens em linha com os anos anteriores.
Acções dificultadas por razões financeiras
Quanto
à forma como os casos foram tratados, os sinalizados a outras
instituições representam 47% do total, o que “parece apontar para um
aumento na capacidade própria de gestão dos casos por parte dos serviços
de saúde onde se processa a sinalização”. Já dentro dos que foram
encaminhados, 39% foram para as comissões de Protecção de Crianças e
Jovens, 12% para o Ministério Público/Tribunais e 49% para as chamadas
"instituições de primeira linha".
No relatório, a DGS assume que
os constrangimentos financeiros tiveram alguns reflexos no trabalho das
equipas e dificultaram algumas acções, mas diz acreditar que o Programa
Nacional de Saúde Infantil e Juvenil, em vigor desde Junho de 2013, traz
benefícios em termos de organização e uniformização das práticas
nacionais.
O documento da DGS é conhecido um dia depois de ter sido divulgado um relatório da Unicef Portugal
que revelava que pelo menos 500 mil crianças e jovens perderam o
direito ao abono de família entre 2009 e 2012, e muitas outras viram o
seu valor ser reduzido. Esta medida, juntamente com a política de
austeridade, está a fazer aumentar a taxa de risco de pobreza entre as
crianças portuguesas e o número de pedidos de ajuda registou um "aumento
sem precedentes".
O trabalho foi feito a partir dos contributos
de várias organizações não-governamentais, como a Associação para a
Promoção da Segurança Infantil, a Caritas Portuguesa e a Confederação
Nacional de Acção sobre Trabalho Infantil, e dizia que, em 2011, a taxa
de pobreza entre crianças subiu para 28,6%, pelo que volvidos quase dois
anos poderá estar ainda mais alta.
* Os filhos não pediram para nascer, que pais tem este país?
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